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FENÔMENO

Romance puro e fuga da realidade: O que explica o sucesso das novelas turcas?

REPRODUÇÃO/MAX

Özge Özpirinçci caracterizada como Bahar; ela está séria em cena de Força de Mulher

Bahar (Özge Özpirinçci) em Força de Mulher, que alcança bons números em exibição na Record

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 4/1/2025 - 6h10

Helen Oliveira, a Lelly, virou fã das novelas turcas em 2019, quando assistiu a O Pássaro Sonhador (2018) por influência das amigas. De lá para cá, nunca mais parou. Pelo contrário. Ela se encantou tanto por esse novo universo que criou um perfil na internet dedicado a essas tramas, além de ter um fã-clube da atriz Yağmur Yüsel. 

A criadora de conteúdo via novelas brasileiras antes, a ponto de ter uma relação de tramas para assistir em seguida, mas as abandonou em detrimento das turcas. Quando precisava relaxar em meio ao período da faculdade, no ano passado, ela buscava apoio nessas histórias. Lelly diz não se "orgulhar" de ter abandonado as tramas do próprio país, mas sabe eleger exatamente o que a atraiu no universo estrangeiro.

"È uma história tão, tão diferente da nossa cultura... É quase utópica. E eu realmente queria fugir dessa realidade e comecei a assistir por conta disso", explica ela ao Notícias da TV. "A maneira que eles mostram a cultura turca é tão forte, para o bem ou para o mal... É como se eu estivesse lendo um livro, sabe, de fantasia, ou alguma coisa assim", declara.

Outro ponto que Hellen elenca é o romantismo das produções. "Há também esse romance muito puro. Pelo menos as que eu assisti investem muito nesse romance que a gente sonha como mulher. Não todas, claro, mas muitas sonham. Todas as pessoas que eu conheço e assistem às turcas são mulheres", declara. "Tem aquele sonho de viver aquele romance, de viver aquela riqueza, de viver aquela cultura. É bastante estimulante."

A leveza de um romance idealizado e a valorização da cultura turca também são mencionados por Luiza Aragão, outra espectadora voraz das histórias do Oriente. "A novela não é tão pesada como as brasileiras, acho que são tipo uma comédia romântica esticada. Fica leve e bom de assistir", diz.

Eles representam coisas boas. Claro que tem vilão, mas não é como nas brasileiras, com umas histórias pesadas, chatas de acompanhar, que a gente já vive no dia a dia.

Luiza conheceu esse universo por meio de vídeos do TikTok. Mas só se rendeu às tramas turcas após se identificar com a sinopse de uma delas no streaming. "Era bem no estilo que eu gosto: jovens, drama, gente bonita e romance. Na Max, ela chama O Canto do Pássaro [2022], mas já vi com outros nomes como A Escolhida, e o original, Yali Çapkini", arremata.

Novelas mais 'lights'?

Os termos "jovens", "drama", "gente bonita" e "romance", usados por Luiza, bem poderiam ser aplicados às novelas da Globo que estão em exibição --especialmente Mania de Você, que sofreu críticas por causa do elenco mais jovem e tem penado na audiência.

Para driblar a crise, a emissora chegou a cortar cenas violentas e muito sexuais no início da história. A estratégia também teve suas bases no sucesso das novelas turcas, ditas muitas vezes como mais leves.

DIVULGAÇÃO

O ator Can Yaman, de O Pássaro Sonhador

O ator Can Yaman, de O Pássaro Sonhador

Mas essa não é uma característica intrínseca ao gênero. "Fatmagul - A Força do Amor [2010; exibida pela Band em 2015] é uma novela que se desenvolve a partir do estupro da personagem principal. Nada 'light', certo?", observa Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana e pesquisador da dramaturgia como um todo.

Para ele, o sucesso dessas tramas está ligado a uma fórmula que mistura "amor, questões morais, éticas, íntimas e ação". No fim das contas, é a base de toda boa novela. O gênero melodrama vem do Romantismo, escola da literatura que já no século 18 falava de emoções, fantasia e liberdade.

Como já estamos acostumados com esse tipo de história, trilhar esse caminho é quase "sinônimo de sucesso". Ideia muito bem aproveitada tanto pela dramaturgia turca quanto pela sul-coreana. Mas isso não faz delas ingênuas, como se costuma dizer --afinal, há um fundo moral nas histórias. Como explica o pesquisador:

O amor romântico é a característica central das telenovelas turcas. Isso, ao mesmo tempo que aponta para uma liberdade do ser, de pensamento, de comportamento, a liberdade de amar e a valorização da mulher como epicentro da sociedade, também consegue equilibrar o convívio social.

Quando se pensa em uma trama guiada pelo Romantismo, é difícil não pensar nas tradicionais novelas das seis da Globo. O pesquisador acredita que, "guardadas as diferenças sociais e de produção", existem semelhanças entre os produtos.

"São adaptações de autores românticos e de histórias que têm a mulher como protagonista, lutando para se impor na sociedade patriarcal, encontrando e firmando seu espaço. Essa temática era comum no Brasil do século 19 e foi a base para a nossa radionovela e telenovela", afirma.

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Engin Akyürek (Kerim) e Beren Saat (Fatmagul)

Engin Akyürek e Beren Saat, de Fatmagul

Ele destaca produções como A Moreninha (1975), Escrava Isaura (1976), Ciranda de Pedra (1981) e Sinhá Moça (1986) --todas, aliás, com boa aceitação no mercado estrangeiro. A atual Garota do Momento também entra na safra.

Nem tão distantes do Brasil

Mas a novela das seis já coleciona críticas do público. Nos últimos dias, internautas reclamaram de a trama ter entrado numa nova fase, na qual Basílio (Cauê Campos) elevou o nível das armações contra Beto (Pedro Novaes) e Beatriz (Duda Santos). Entre um comentário e outro, há quem mencione que é por isso que o público está migrando para as tramas turcas ou para os doramas, mais tranquilos. 

Em suas análises, Mauro Alencar percebe que há, sim, vilanias atrozes em novelas turcas. O que muda é a "maneira como a história é contada. "Precisa ter o amor, uma luz que mostre a você que, apesar dos percalços inerentes da vida, ela vale muito a pena para o nosso desenvolvimento, para a nossa evolução", analisa ele.

O pesquisador usa Irmãos Coragem (1970) como um exemplo disso. A novela foi dos maiores sucessos da época, e seu último capítulo teve mais audiência do que a final da Copa do Mundo daquele ano. A história mostrava, para além do cenário violento do garimpo, uma família à qual você queria pertencer. Afinal, ela tinha valores sólidos de amor, de generosidade e de justiça.

"Foi mais ou menos isso --o valor da vida-- que escutei em uma das vezes em que estive na Coreia do Sul a convite do ministro do Esporte, Cultura e Turismo. À época, 2016, a Coreia começava a desenvolver-se na produção e na ampliação global de suas produções. Então, a questão não é 'cortar', e sim compreender as necessidades e carências psicossociais' [do público]", diz.

O mesmo serve para a abordagem de temas sexuais. Tieta (1989), por exemplo, é uma trama que pulsa liberdade e sexualidade, mas bem aceita pelo público por ter sido contada com "extrema qualidade e bom gosto".

divulgação

Seyran (Afra Saraçoğlu) e Ferit (Mert Ramazan Demir), de O Canto do Pássaro

Afra Saraçoğlu e Mert Ramazan Demir, de O Canto do Pássaro

Mas existem, sim, diferenças entre as tramas brasileiras (em particular as da Globo) e as da Turquia. "As novelas turcas carregam um pouco mais da raiz mexicana, ainda que a composição de suas personagens invista mais na chave intimista, no complexo comportamento emocional do ser humano. E aí nota-se certa influência da literatura dramática brasileira", destaca.

[As novelas turcas] Não hesitam em mostrar a mulher oprimida no centro da trama, alertando para a questão de gênero --tema extremamente caro ao mundo atual. Por fim, não é incomum investirem no forte componente sexual, mas normalmente com viés romântico: a mulher passando por trauma e superação através do amor, e o homem (violento) com rendição no final.      

E como surfar nessa onda?

Diante desse cenário, é difícil imaginar a ideia de produzir uma novela com todas as características das turcas por aqui. O fato de a cultura ser diferente prejudicaria essa construção do imaginário da mulher e do homem idealizado por lá. Mas o que as emissoras podem fazer para tentar aproveitar o sucesso?

A solução mais óbvia é comprar os direitos e exibir novelas turcas em sua programação. A Record fez isso, e Força de Mulher (2017) vem batendo resultados surpreendentes. A trama chegou a superar por vários dias a audiência de A Fazenda, produto que custa muito mais aos cofres da emissora. O fenômeno foi tanto que rendeu matéria no Domingo Espetacular, e o próprio Mauro Alencar falou sobre a ascenção da telenovela turca no mundo.

Ele concorda que a Record está aproveitando melhor a oportunidade, diferentemente da Band --a pioneira em trazer as produções turcas para o Brasil. A TV Brasil passou a exibir Um Milagre (2019), e tanto o Globoplay quanto o +SBT, rechearam seus catálogos com obras do país. Muitas delas figuram recorrentemente na lista de mais assistidas --Mãe chegou a ultrapassar Travessia (2022), então novela das nove, no ranking do Globoplay.

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

Cansu Dere na novela Mãe

Cansu Dere na novela Mãe, disponível no Globoplay

Mas há outras maneiras de acompanhar o sucesso. A Globo vem tentando trazer aspectos das produções estrangeiras às suas próprias novelas, mas não é uma tarefa fácil.

Quando pensamos em "fuga de realidade", remetemos logo à fase mais "delirante" das novelas brasileiras, nas décadas de 1980 e 1990. Trata-se do momento em que Dias Gomes e Aguinaldo Silva, por meio de Saramandaia (1976) e A Indomada (1997), trouxeram o realismo fantástico da literatura colombiana para as telenovelas.

Pantanal (1990) bebeu muito dessa fonte, e o remake trouxe esse tipo de história de volta às telas em 2022 --com a mulher que virava onça e o velho misterioso que protegia a região.

Mas esse não é necessariamente um caminho. Mauro explica que a "fuga da realidade" mencionada por Lelly logo no início da reportagem diz respeito à linguagem de como essas produções se apresentam --estruturação da história, dos personagens e dos temas musicais. E a trama pode ser realista e bem ancorada à realidade brasileira, como Selva de Pedra (1972), que tinha uma chave romântica em meio à aspereza da cidade grande. 

Todos nós precisamos de uma dose diária de sonho. Se uma história produzida para um veículo popular não puder levar isso à audiência... Bem, você já sabe o que acontece.

A chave poderia ser mostrar outras culturas, como Gloria Perez fez em O Clone (2001) e Caminho das Índias (2009), certo? Errado. "Não é isso que faz o público se ligar numa telenovela. Se a história não lhe agrada por diversos motivos, você pode dar uma volta ao mundo com a sua produção que o resultado não será satisfatório", declara o pesquisador.

"Os grandes sucessos mundiais, ícones absolutos de todos os tempos, não precisaram sair de seus países de origem", diz. Ele cita Os Ricos Também Choram (1979), Betty, a Feia (1999) e Avenida Brasil (2012).

O fato é que a Globo está monitorando essa tendência. Em um workshop sobre Melodrama e Folhetim para a direção de produção da empresa, Mauro Alencar recebeu uma solicitação clara: "Que eu discorresse sobre a telenovela turca e a maior raiz do gênero, a mexicana". Resta saber como esses conhecimentos serão aplicados...


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