GABRIEL SANTANA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Renato (Gabriel Santana) ainda vai se transformar em um Tenório mirim na novela das nove
Renato (Gabriel Santana) já conquistou a antipatia do público de Pantanal, mas as coisas vão piorar muito. Por enquanto, o personagem é apenas um jovem incompreendido, mimado e influenciado pelos preconceitos de Tenório (Murilo Benício). Com as reviravoltas da novela das nove da Globo, porém, ele se tornará um carrasco da pior espécie. "Ainda nem começou a ser vilão", admite o ator.
"O Renato foi para o Pantanal com a perspectiva de que a vida dele ia se tornar um paraíso. E a gente sabe que a vida lá não é assim. Então, em algum momento, o Renato vai dar aquela estremecida e pensar: 'Puts, será que é isso mesmo que eu queria?'. E isso vai virar uma turbulência. Ele vai começar a se entender com o pai e vai achar um propósito pra vida dele", adianta o artista em entrevista ao Notícias da TV.
O problema é a natureza desse propósito. A convivência com o pai fará com que o jovem se desdobre ainda mais para conquistar a aprovação dele --independentemente do que isso custe. Ainda nesta semana, o rapaz deve matar uma onça para proteger o grileiro. Ele até se arrependerá, mas a cegueira para os crimes do pai o afundarão de vez.
Santana entende o que tornou seu personagem tão dependente desse amor paterno. Ele passou a vida inteira preterido, sabendo que o pai estava com outra família. Tenório aparecia raramente, sempre com uma crítica na ponta da língua e um distanciamento calculado. Isso sem contar com o fervor com que ele ofendia Maria Bruaca (Isabel Teixeira). Renato só conhece esse lado da história, então, para o ator, é "natural" que ele tenha se deixado afetar.
“Cada ser humano reage de uma forma, e a história da pessoa faz com que ela forme sua personalidade. Quando analisamos o Brasil, que é um país onde existem muitas mulheres pretas que cuidam de seus filhos sozinhas sem a presença de um pai... A família Gonçalves é um retrato social brasileiro, e cada filho apresenta uma forma de como a ausência do pai pode ser", explica.
De fato, cada um dos filhos herdou uma consequência da estrutura familiar problemática. Enquanto Roberto ficou com o fardo de ser o carente, Marcelo (Lucas Leto) viu na situação um incentivo para seguir seus sonhos. Na visão de Santana, Roberto (Cauê Campos) se agarrou à mãe, defendendo-a de qualquer entrave.
joão miguel júnior/tv globo
Marcelo, Zuleica, Roberto e Renato no Pantanal
Surpreendentemente, o ex-entregador é mais parecido com Guta (Julia Dalavia), sua meia-irmã. E não só pelas regatinhas. Ambos entendem bem uma pauta social --ele, o racismo; ela, o feminismo--, mas ou aderem a outro viés preconceituoso, ou falham em colocar suas teorias em prática.
Eu vejo o Renato como alguém que entende muito de questões raciais. Mas, quando a gente chega e fala de machismo e misoginia, ele não lida bem. Já a Guta discursa, mas falha na execução. Eu acho que é natural, são dois personagens jovens, vinte e poucos anos, têm muita coisa para viver e aprender. Não é um problema ser hipócrita, desde que você esteja tentando melhorar. Acho que todo mundo é hipócrita, mas a tentativa de evoluir é sempre positiva.
Definitivamente não será o caso de Renato. Ele até ficará abalado pela morte do irmão caçula, mas não mudará de água para vinho. O ator pretende mostrar novas nuances na personalidade do rapaz, mas admite que o ódio do público está tão grande que não sabe se eles conseguirão captar essas mudança.
"No final da novela, a minha intenção enquanto ator é deixar dúbio se o personagem teve uma redenção ou não. Acho que precisaríamos de um Pantanal 2 para saber se ele virou o pai ou se redimiu. Só posso afirmar que as desgraças vão mexer com o pensamento do Renato, e isso vai deixar ele na dúvida se tudo o que fez foi errado ou não", crava ele.
Enquanto Renato é intragável para o público, Mosca, de Chiquitinhas (2013), foi adotado como queridinho. O personagem marcou tanto a carreira do ator que os fãs ainda mencionam o órfão quando tripudiam do personagem de Pantanal nas redes sociais. É comum encontrar mensagens brincando que, assim que o rapaz "foi adotado" por Tenório, ficou insuportável.
Para o intérprete, ambos os personagens são "meninos pretos que sofreram com um abandono familiar". Mas as semelhanças param por aí. Mosca estava completamente sozinho no mundo, na rua, com uma irmã para criar e sem um tostão no bolso. As circunstâncias fizeram com que ele amadurecesse rápido e tivesse de tomar decisões complicadas para simplesmente ter o que comer. A vida como "delinquente" era uma opção, mas o rapaz não sucumbiu.
Renato foi abandonado pelo pai, sim, mas é de classe média, tem a mãe para criá-lo e um irmão mais responsável. De um personagem ao outro, o ator só carrega o peso de trabalhar em um remake. Chiquititas foi seu primeiro trabalho como artista, e ele não sentiu tanta responsabilidade. A coisa mudou de figura ao ser escalado para uma novela das nove da Globo, mas ele tenta se manter tranquilo.
O folhetim de Bruno Luperi, afinal, não marca a estreia do ator na emissora. Depois de Chiquititas, no SBT, o ator migrou para a emissora dos Marinho e conquistou um papel em Malhação - Toda Forma de Amar (2019). Na trama, ele fez par romântico com Caroline Dallarosa, a Arminda de Além da Ilusão, e contracenou com Alanis Guillen, a Juma de Pantanal. Apesar de manterem contato, os atores não conseguem marcar um encontro.
"Por mais que a gente trabalhe na mesma empresa, não conseguimos nos ver muito. Eu estava conversando com a Carolzinha esses dias, a gente estava querendo marcar de se ver. Ela, o namorado, chamar os amigos, talvez a Alanis também junto, sabe? Mas é muita correria de gravação, as vidas pessoais, trabalhos por fora… ", justifica.
divulgação/sbt
Gabriel Santana como Mosca em Chiquititas
O encontro seria ainda mais impossível se o ator tivesse batido as botas, como uma fake news com mais de 12 milhões de visualizações no TikTok afirmava. A história maluca dizia que Gabriel Santana foi assaltado em sua casa nos Estados Unidos, e, em um embate com os bandidos, se jogou para proteger a família e acabou sendo baleado cinco vezes. Ele sequer tem uma casa nos Estados Unidos, para começo de conversa.
Eu estava indo para uma festa e, no meio do caminho, vi que saiu essa notícia. Quando cheguei lá, meus amigos já tinham visto, e a gente riu pra caramba. Acabei deixando o celular de lado. Quando eu cheguei em casa, lembro que minha mãe estava preocupadíssima. Vários parentes tinham ligado pra ela para perguntar o que tinha acontecido. Tive que desmentir isso nas redes sociais. É um episódio engraçado, mas é para a gente ver como as fake news podem chegar longe.
O caos foi tão grande que o ódio que Renato recebe via redes sociais é fichinha. Até porque, no último caso, o ator está blindado atrás de um personagem. Tanto que dá risada vendo os comentários do Twitter.
"Eu sei que não se trata de mim. Talvez, se as pessoas estivessem falando a mesma coisa do Gabriel, isso me afetasse. A fake news foi diretamente sobre o Gabriel, então me impactou em um lugar diferente. Não fiquei frustrado ou triste, mas fiquei em alerta porque foi uma coisa que tomou proporções grandes", relembra.
Além da atuação, Pantanal trouxe outra experiência a Santana. Ele pôde colaborar com Bruno Luperi, o autor do remake, na construção de abordagens sobre o racismo. Homem branco, o novelista fez questão de criar um grupo com os atores da família Gonçalves para pedir críticas, opiniões e fazer pequenas reformulações. Mas Santana assegura que não houveram muitas mudanças. Luperi, afinal, tem um roteirista negro envolvido no projeto.
A ideia foi entender como algumas palavras e intenções poderiam ser potencializadas --e não mudadas-- para mostrar essa estrutura racista que a gente vive no Brasil. Tentar fazer com que o público receba a mensagem de uma maneira mais orgânica. Todo mundo fez comentários e conversou com o Bruno.
Para o artista, o envolvimento no projeto é mais um passo em sua carreira, que começou em uma novela infantil, passou por peças teatrais e culminou na formação como bacharel em Teatro. Por isso, a perspectiva de atuar no folhetim da Globo não foi tão assustadora assim.
"Antes mesmo de fazer Pantanal eu já tinha experiências em produtos mais dramáticos, com maior profundidade. Então, quando cheguei lá, já estava mais preparado. Eu acho muito legal o amadurecimento da minha carreira como um todo, as coisas foram acontecendo no momento certo e espero que continuem acontecendo", torce ele.
Agora, o desafio é terminar de construir Renato --trabalho que só vai acabar quando o último capítulo do folhetim for ao ar. Todo dia, o artista aprende um pouco mais sobre o personagem. Trajetória que começou desde o primeiro momento em que leu o texto, na casa de Murilo Benício.
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