'A realidade está insuportável, resolvi fugir disso', diz Aguinaldo Silva

Serro Azul é uma cidade parada no tempo, onde não existe celular, internet ou televisão. Fruto da imaginação de Aguinaldo Silva, o local é praticamente o único universo em que se desenvolverá O Sétimo Guardião. Lá, tudo é possível. Após 17 anos escrevendo tramas urbanas e ambientadas nos dias atuais, o autor resolveu voltar ao realismo mágico e fazer uma novela atemporal. "A realidade está insuportável, resolvi fugir disso", justifica.

O ponto de partida foi uma trama escrita pelo novelista em 1987, O Outro, que contou a história de um homem que tomou o lugar de outro. É isso que acontecerá nos primeiros capítulos. Gabriel (Bruno Gagliasso) receberá "o chamado" para ser o guaridão-mor de uma fonte com água milagrosa.

Ele abandonará no altar a noiva, Laura (Yanna Lavigne), sem saber que está repetindo o que seu pai, Egídio (Antonio Calloni), fez com a sua mãe, Valentina (Lilia Cabral), no passado. Egídio lidera uma equipe de sete guardiões, um deles, um gato que vai virar homem, León (Eduardo Moscovis).

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Os outros protetores são o prefeito Eurico (Dan Stulbach), o delegado Machado (Milhem Cortaz), a cafetina Ondina (Ana Beatriz Nogueira), a esotérica Milu (Zezé Polessa), o morador de rua Feliciano (Leopoldo Pacheco) e o médico José Aranha (Paulo Rocha).

Só que, a caminho de Serro Azul para assumir seu posto, Gabriel "morre". Assim, Sampaio (Marcello Novaes) vai fingir que é o novo guardião da fonte. O personagem é motorista de Valentina e um faz-tudo da madame, que é a principal vilã da trama. Mas o mocinho não morre de verdade, ele vai "ressuscitar" graças a Luz (Marina Ruy Barbosa), que terá um sonho premonitório e o tirará de sua cova.

estemva avellar/tv globo

Aguinaldo Silva e o diretor Rogério Gomes ganharam Emmy com a novela Império (2014)

O realismo fantástico conta com muitas metáforas para debochar, cutucar e criticar a realidade. Isso será usado por Silva em alguns personagens, como no caso do prefeito que sonha em ir para Brasília e do delegado homofóbico que usa calcinha.

O grande mistério da história gira em torno da água da fonte da cidade, que será apresentada como "essencial para o futuro da humanidade". Por isso, os guardiões têm uma missão e tanto pela frente: vai ter muito oportunista querendo explorar a água milagrosa para lucrar com rejuvenescimento e tratamentos de doenças.

Uma das provas do poder rejuvenescedor da fonte é Marilda (Letícia Spiller). Ela é irmã mais velha de Valentina, mas deixará a caçula espantada ao revê-la em sua volta à cidade depois muitos e muitos anos. Para entender o choque, basta saber que a intérprete de Marilda tem 45 anos, enquanto Lilia Cabral está com 61.

Luz, a mocinha da novela, teve sua vida salva graças à fonte. Abandonada pela mãe recém-nascida, ela foi banhada na água mágica quase morta. Além de sobreviver, ganhou o dom da premonição. O que ela sonha vira realidade.

joão cotta/tv globo

Antonio Calloni apresentou a gruta e a fonte da novela em encontro com jornalistas na Globo

Gruta cenográfica
Uma gruta de mil metros quadrados foi construída nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. A queda d'água tem sete metros de altura. Aliás, Serro Azul conta com a maior cidade cenográfica já feita pela emissora. São 18 mil metros quadrados.

"Tinha de investir porque tudo vai acontecer ali dentro, não vamos sair para gravar em outros lugares. Só o começo mostrará São Paulo. As gravações em Minas Gerais foram feitas para servirem de arredores de Serro Azul", comenta o diretor artístico Rogério Gomes, o Papinha.

Protagonista com patas
O diretor conta que um bom diferencial para fazer uma novela de realismo mágico atualmente é a tecnologia avançada, que ainda não existia nos anos 1990 quando o gênero ficou mais conhecido.

Muitas das ações do gato León estão sendo feitas com recursos tecnológicos. "São quatro gatos verdadeiros e um animatronic [robótico], além de composição em animação gráfica", explica Papinha.

Eduardo Moscovis e um dos gatos que foram treinados para as cenas de León (Reprodução)

"Aí entra o lado lúdico, que deve agradar à garotada. Eu tenho fixação com gato. Tive gato a vida inteira, sempre um de cada vez. Mas me inspirei nessa coisa de que o gato é um animal mágico e sempre foi perseguido porque era considerado um espírito do mal. Quis um negro porque tem essa coisa de gato preto dar azar, e isso é puro preconceito", conta o autor de O Sétimo Guardião. 

Aguinaldo Silva conta que, em época de "patrulha" e na qual tudo tem de ser "politicamente correto", somente suas vilãs falam barbaridades. E avisa que as modernidades dos dias atuais também chegarão a Serro Azul.

"Na metade da novela, chegarão a internet e a telefonia celular. Toda essa revolução que a gente demorou 20 anos para se acostumar, vai se passar em um único dia. Imagina o que vai acontecer? A cidade vai ser destruída. Da metade para o final, vamos ter outra novela", adianta. 

O autor já escreveu 84 capítulos e entregou 42 deles à produção. Afirma que sempre gostou de escrever adiantado e que já sabe como vai ser o final. "Na primeira versão da sinopse que fiz, pensei que a fonte tinha de ser destruída, mas achei depois que era um final muito pessimista. Essa fonte é um símbolo da sobrevivência da humanidade", fala.

Questionado se depois de quase 20 novelas, minisséries e seriados, ainda sente um frio na barriga antes da estreia, ele responde que sim.

"Cada novela para mim é como um salto no escuro e sem rede [de proteção] lá embaixo. É como se fosse a primeira, você nunca sabe o que o povo vai querer. De repente rejeitam uma trama ou personagem, e você tem de se virar. Fico muito tenso", confidencia.

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