DIGNO DE ADMIRAÇÃO?
JOÃO MIGUEL JÚNIOR/TV GLOBO
Selton Mello interpreta Pedro 2º em Nos Tempos do Imperador: autores veem 'exemplo de líder'
Alessandro Marson e Thereza Falcão dizem acreditar que a figura de Pedro 2º (Selton Mello) em Nos Tempos do Imperador vai ocupar um "vácuo" deixado pela falta de uma liderança digna de admiração no Brasil. Os autores esperam que o protagonista da próxima novela das seis da Globo supere a desconfiança do público, que cada vez menos se identifica com a classe política do país.
"A gente realmente procurou realçar os pontos fortes deste homem, porque estamos muito carentes dessa pessoa, de alguém que veja o Brasil da mesma forma como ele", explicou Thereza em coletiva virtual promovida pela emissora nesta segunda-feira (26).
A produção, que substituirá a reprise de A Vida da Gente a partir do próximo dia 9, quer mostrar como o monarca já acreditava no poder transformador da educação em pleno século 19. "Nós vamos destacar a relação dele com o ensino, com a cultura e a ciência, em como ele tinha um olhar para um outro Brasil possível", salienta a escritora.
Marson, no entanto, deixa claro que as contradições de Pedro também vão ser exploradas. "Como são mais de 150 capítulos fica mais fácil expor todas as facetas de um personagem. A gente optou por falar, por exemplo, da Guerra do Paraguai [1864-1870] e teve de pincelar algumas atitudes nem tão heroicas que ele foi obrigado a tomar", adianta.
O conflito é um dos mais sangrentos da América Latina e se estima que pelo menos 75% da população paraguaia tenha morrido nas mãos das tropas da Tríplice Aliança. Um herói aos olhos da historiografia brasileira, Pedro é visto como um genocida pelos vizinhos.
"Em nenhum momento, a gente quis fazer uma novela chapa-branca. Nós mostramos os pontos falhos de uma forma muito clara, a exemplo da escravidão. Ele era um abolicionista, mas ficou nas mãos dos deputados e senadores, que eram proprietários de terra e não abriam mão daquela força de trabalho", acrescenta Thereza.
Esse parlamento será representado justamente pela figura do vilão Tonico (Alexandre Nero), que soa bastante familiar com algumas figuras políticas que ainda perduram na democracia.
"Ele é um personagem ficcional, mas também o mais real de toda a novela. Ele diz e faz coisas absurdas que eu não tenho como defender, mas que a gente vê em muitas pessoas. Até em nós mesmo", arremata Nero.
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