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CRÍTICA

Jezabel põe em dúvida a estratégia da Record de investir em tramas bíblicas

Divulgação/RecordTV

Os personagens Acabe (André Bankoff) e Jezabel (Lidi Lisboa) em cena do segundo capítulo da novela bíblica - Divulgação/RecordTV

Os personagens Acabe (André Bankoff) e Jezabel (Lidi Lisboa) em cena do segundo capítulo da novela bíblica

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 29/4/2019 - 6h27

Até que ponto a insistência em produzir histórias bíblicas pode diversificar o público da Record? Última estreia da emissora, a novela Jezabel traz poucas novidades para os padrões de produções do canal e evidencia a saturação dos produtos do gênero em sua grade.

Escrita por Cristianne Fridman, a novela conta a trajetória de Jezabel (Lidi Lisboa), a princesa fenícia que se casou com Acabe (André Bankoff), rei de Israel, e tornou-se uma das figuras mais controversas da Bíblia.

Sua personalidade manipuladora, dissimulada e voluntariosa é contraposta com a figura de Elias (Iano Salomão), o profeta que vive para espalhar a palavra de Deus e combater a idolatria que ela tanto cultua. Os embates entre os dois guiarão a trama.  

Jezabel abre pouco espaço para o humor, ainda que a autora tenha tentado colocar uma graça aqui e ali, principalmente nas figuras de Dov (Andrey Lopes), o escudeiro de Elias, e Isaac (Leonardo Miggiorin), servo do palácio real onde mora Jezabel. No mais, o texto majoritariamente sisudo acaba por engessar a interpretação dos atores.

É possível, porém, garimpar alguns destaques. É o caso de Juliana Knust (Queila), Rafael Sardão (Hannibal) e da própria protagonista Lidi Lisboa, nomes a se prestar atenção.

Knust está segura dentro das possibilidades ofertadas pela personagem. Sardão soube compor um vilão sem maneirismos. Já Lidi tem uma personagem grande em mãos, cheia de nuances. Espera-se apenas que a vilã protagonista não caia no maniqueísmo de fácil compreensão e torne-se chapada.

A direção de Alexandre Avancini é correta e não compromete. Os efeitos especiais, porém, com caretas demoníacas que surgem em labaredas e cobras gigantes engolindo pessoas, por exemplo, não fogem do padrão Record e remetem aos saudosos tempos de Os Mutantes (2008). Rir torna-se inevitável, mesmo que involuntariamente.

Por mais tecnologia que a emissora empregue entre uma produção bíblica e outra, a impressão de quem assiste é de que a mesma história está no ar, apenas com elenco diferente.

Entra trama, sai trama e os cenários, figurinos e locações são muito parecidos, acabando por resvalar em um certo artificialismo. O papel do texto não é outro senão o de evangelizar. Em Jezabel, a sensação é a mesma. A inovação, no caso, parou na escalação de uma atriz negra para protagonista.

A Record precisa entender que, embora as histórias bíblicas sejam universais e atemporais, elas já estão se tornando cansativas. Pregar para os já convertidos dificilmente aumentará o público da emissora, que precisa investir em dramaturgia o tanto que vem investindo em seu jornalismo e, assim, abrir um respiro em sua grade.

Valer-se de originais da Bíblia e adaptá-los em narrativas contemporâneas, como tentou fazer com Apocalipse (2017/18), pode ser uma forma de diversificar suas produções. O anúncio da chegada de Topíssima também abre uma esperança. Mas para isso, é bom lembrar, intervenções do bispado precisam ser evitadas ao máximo, ou as histórias funcionarão apenas como telecultos e pregações dramatizadas.

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