FLÁVIO TOLEZANI
Fotos: Raquel Cunha/TV Globo
Vinícius (Flávio Tolezani) será julgado e condenado por pedofilia nos próximos capítulos
MÁRCIA PEREIRA
Publicado em 2/2/2018 - 6h19
Pai de uma menina de 13 anos, Flávio Tolezani está mexido por interpretar o pedófilo Vinícius em O Outro Lado do Paraíso. O ator diz que abordar a questão dos abusos sexuais em crianças cometidos por pessoas da família vai além da polêmica. "É um negócio extremamente dolorido. Vale pela denúncia, pelo alerta", fala. Inspirado no serial killer Ted Bundy, o personagem morrerá após seu lado obscuro vir à tona.
Para o intérprete do delegado, o desfecho de Vinícius é coerente porque a situação do personagem ficará insustentável. "No mundo real, ele teria que ser punido. A prisão é o que tem de acontecer, mas esse cara não tinha mais função na trama depois disso. Tem que morrer, até porque as pessoas criarão nojo dele", fala.
O marido de Lorena (Sandra Corveloni) sairá de cena no final de fevereiro. Ele confessará que é pedófilo e que fez outras vítimas além de Laura (Bella Piero), irá para um presídio e será assassinado por outro preso. Sua última cena será em uma sessão de regressão de Laura, prevista para ir em 1º de março.
O ator já sabia há algum tempo que sua "criatura" morreria na novela. O autor da trama, Walcyr Carrasco, inclusive lamenta não manter Tolezani no elenco. "Fez um maravilhoso Vinícius, foi um desenvolvimento de personagem sensacional, o que contraditoriamente torna impossível sua continuação na história. Quem o perdoaria depois do que fez?", indaga o novelista em texto entregue ao elenco.
Várias camadas
O ator teve acesso a diversas informações sobre atos de pedofilia que envolvem parentes durante seu processo de preparação para a trama. As estatísticas da realidade serviram de mola propulsora para a construção da personalidade aparentemente normal do delegado de O Outro Lado do Paraíso.
"Fui atrás de muita coisa. O psicopata que deu origem, serviu de inspiração, para o filme Silêncio dos Inocentes [1991], eu o estudei muito. Vinícius não é um matador em série, mas tirei elementos dele porque esse cara comete abusos em série, é vaidoso, gosta de conquistar pessoas."
Tolezani conta que o diretor artístico Mauro Mendonça Filho e Carrasco o orientaram para fazer um trabalho que só poderia ser revelado na metade da novela das nove.
"A trajetória não era explícita. É um cara que é inadequado socialmente, mas sabe usar recursos sociais para não aparentar que tem uma psicopatia. Mesmo desmascarado, o personagem vai ter capacidade de continuar enganando, manipulando. Ele não se importa com ninguém, só com ele mesmo", diz.
Desabafos
Com uma filha de 13 anos, Ana Clara, Tolezani diz que sentiu necessidade de conversar com a garota sobre o assunto. Ele quis preveni-la de possíveis comentários que poderiam surgir sobre seu trabalho, mas acabou vendo aí uma porta aberta para alertá-la.
"Mexeu muito comigo. Ser pai é tão difícil. Na idade em que a minha filha está, ter de trabalhar esse tema me fez refletir, mudar, ver a necessidade de falar sobre isso. Seria bom se todo mundo fosse bacana na sociedade, mas a gente não tem o domínio de nada, muito menos de uma pessoa que tem mentalidade distorcida."
Aos 39 anos, Tolezani conta que sentiu uma pequena transformação em si mesmo ao falar com a filha. Ele teve noção de que interpretar um pedófilo poderia agregar à sua carreira. Mas nem imaginava que iria receber mensagens de mulheres vítimas de abusos na adolescência. "Tem muita gente mudando a cabeça e decidindo falar. Criando coragem de contar para mim o que passou", explica.
Filho de um casal de médicos de São Paulo, o intérprete do delegado atua há 17 anos. Na faculdade, começou estudando Economia. Foi na USP (Universidade de São Paulo) que fez seu primeiro curso de teatro. Desistiu de ser economista e se transferiu para Administração, mas também não se identificou. Acabou se formando em Rádio e TV, apesar de sempre trabalhar com teatro.
Em 2018, o ator completa dez anos na TV: seu primeiro papel foi em A Favorita (2008). Ele chegou a ser protagonista de Coraçãoes Feridos (2012), do SBT, mas ganhou destaque com o viciado em crack que fez em Verdades Secretas (2015). Na novela das onze, começou uma forte parceria com Carrasco. O Outro Lado do Paraíso é o terceiro trabalho consecutivo dele em novelas do autor.
Depois de gravar suas últimas cenas, Tolezani não quer tirar férias. Ele está em cartaz em São Paulo com a peça Carmen. O espetáculo terminará a temporada paulistana no final de fevereiro e estreará no Rio de Janeiro em março.
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