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TROPICALIENTE

Há 28 anos, novela da Globo foi acusada de ajudar governo de Ciro Gomes no Ceará

Nelson Di Rago/TV GLOBO

Carolina Dieckmann está sentada em uma jangada em cena como Açucena em Tropicaliente (1994)

Carolina Dieckmann como Açucena em Tropicaliente (1994); novela teve Ceará como cenário

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 30/12/2022 - 6h20

Há exatos 28 anos, chegava ao fim a novela Tropicaliente (1994). O autor Walther Negrão e o diretor Paulo Ubiratan (1947-1998) decidiram que o Ceará seria o cenário ideal para a história. O governo do Estado, na época sob o comando de Ciro Gomes, deu todo o suporte para que o folhetim da Globo fosse gravado nas praias cearenses --o que impulsionou o turismo na região.

Na época, a emissora chegou a ser acusada de escolher ambientar a trama das seis no Ceará apenas para exaltar o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), ao qual Ciro Gomes era filiado. Além disso, o partido também lançava a candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência.

Antes de bater o martelo sobre o cenário ideal, Ubiratan, então diretor de núcleo da Globo, teve um encontro com Gomes e comentou sobre a intenção de gravar Tropicaliente ali. O político acatou a sugestão e ainda pediu que a novela mostrasse a infraestrutura turística e a modernidade das indústrias cearenses.

Walther Negrão afirmou que as paisagens caribenhas serviram de inspiração para o folhetim e explicou como decidiu em qual parte do Brasil iria localizar a vida dos personagens: "Eu tinha ido para o Caribe nessa época. Pensei: 'O Brasil tem um Caribe que é o mesmo mar, que é do Nordeste, é o Ceará'. E coincidiu de o Paulo Ubiratan ser apaixonado pelo Ceará, por Fortaleza".

"Eu pesquisei sobre o negócio de lá, exportação de lagosta e pesca. Com todas as praias que tem no Ceará, a gente construiu uma praia fake para gravar a novela, que era uma plataforma de pedra, perto do Beach Park, com caminhões de areia. Porque era um lugar reservado para a gente poder gravar durante meses, sem turista", completou o dramaturgo em depoimento ao site Memória Globo.

A cidade cenográfica da vila de pescadores tinha 3.000 m² e foi construída na praia de Porto das Dunas, no município de Aquiraz. A ligação da rede elétrica das instalações foi realizada pelo governo, que também ficou responsável pela segurança do local. 

Já os interiores das casas foram montados no antigo Projac, por isso os atores e a equipe precisavam viajar durante alguns dias do mês para rodar cenas em Fortaleza.

Para viabilizar toda a estrutura e custear as gravações no Ceará durante oito meses, a Globo contou com um auxílio generoso do governo. De acordo com a Folha de S.Paulo, Ciro Gomes investiu US$ 700 mil na produção. A ajuda financeira do Estado barateou em 25% o custo médio de cada capítulo da novela, orçado em US$ 35 mil na época.

Criticado pelos adversários, o político afirmou que o valor era insignificante em comparação com o retorno econômico que seria gerado no turismo. Além disso, as equipes da emissora usufruíram de outras regalias, como aluguel de um helicóptero para gravações em alto-mar, ônibus, automóveis, jangadas, barcos de pesca e bugres.

A exibição de Tropicaliente realmente alavancou o número de turistas em 30% no Nordeste, especialmente no Ceará. Questionado sobre os gastos com a produção televisiva, o governo mostrou dados para comprovar a eficácia do investimento para promover o turismo.

Disponível na íntegra no Globoplay, a trama de Walther Negrão tinha como ponto central o romance da rica Letícia (Silvia Pfeifer) com o pescador Ramiro (Herson Capri).


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