Globo muda o texto de Renascer e corta crítica social para amenizar drama de Buba

A Globo decidiu cortar boa parte de uma importante cena de Buba (Gabriela Medeiros) em Renascer para pegar mais leve no drama da personagem. A sequência original, escrita por Bruno Luperi, fazia uma crítica contundente ao preconceito contra pessoas trans no sistema de adoção, o que deixaria a psicóloga arrasada e sem esperanças de encontrar um filho por meios legais. A novela, no entanto, levou ao ar um Brasil dos sonhos, onde todo cidadão é igual e a transfobia simplesmente não existe.

De acordo com fontes ouvidas pelo Notícias da TV, a alteração foi feita por uma espécie de comissão que tem se dedicado a conferir as tramas que envolvem a personagem transexual. A ideia é tentar reduzir o quanto for possível o risco de sofrer críticas pela abordagem dada a Buba na história.

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A verdade nua e crua, esfregada na cara da namorada de Venâncio (Rodrigo Simas) na versão original do roteiro ao qual a reportagem teve acesso, foi considerada dramática demais, e o receio de inflamar as redes sociais falou mais alto. Com isso, a decepção de Buba por não poder adotar uma criança ficou toda na conta do namorado, que não se empolgou nada com a ideia.

Procurada pelo Notícias da TV, a Globo negou que a sequência original tenha sido alterada. "Não houve pedido algum, e a cena gravada foi ao ar conforme o texto escrito pelo autor. Desconhecemos os documentos a que o site teve acesso, já que os textos dos capítulos são documentos internos e não objetos de divulgação", disse, em nota.

O que mudou na cena de Buba?

Na cena original escrita pelo autor da novela, Buba perguntaria à servidora pública se algum perfil específico de adotante tem prioridade. O balde de água fria viria justamente na resposta.

"Como eu disse, tecnicamente todas as pessoas com mais de 18 anos podem adotar uma criança ou adolescente... Mas não tem como negar que um casal branco, hétero e com estabilidade financeira e social vai encontrar menos dificuldade pelo caminho", diria a funcionária da Vara da Infância e da Juventude.

Buba insistiria no assunto, daria a desculpa de que queria mais informações para dar a uma amiga trans. "Olha... Sendo muito, mas muito sincera: perante a lei não há impeditivo nenhum. Os requisitos serão absolutamente os mesmos para solteiros, viúvos, casados, gays, trans...", responderia a servidora.

"Mas na prática...", insistiria a psicóloga. "Vão criar inúmeros empecilhos... Não vão ser ataques diretos, mesmo porque hoje em dia é possível gravar e denunciar. Mas tentam mexer com a cabeça das pessoas, demoram pra atender, fazem perguntas que jamais fariam aos outros", dispararia a funcionária.

No diálogo que foi ao ar no último dia 19, no entanto, Buba revelou que é uma mulher trans na hora de perguntar se isso representaria alguma dificuldade maior. A resposta da servidora pública foi bem diferente da versão original:

"Olha, Buba, a gente precisa evoluir muito ainda em termos de sociedade. Mas, num processo de adoção, a única coisa que importa é o bem-estar do adotado. Por isso que a gente faz essa triagem tão rigorosa. Pra detectar famílias ditas típicas que não são boas para receber uma criança, um jovem, e pra encontrar famílias ditas atípicas que podem dar um lar de verdade para uma criança ou um jovem", discursou a interlocutora.

"O que existem são famílias aptas e inaptas a acolherem de verdade uma criança ou um jovem na própria vida. Eu acredito que você vai estar totalmente apta", completou ao final, em tom acolhedor, deixando a personagem de Gabriela Medeiros cheia de esperança.

Renascer foi escrita e criada pelo autor Benedito Ruy Barbosa. A primeira versão foi ao ar na Globo em 1993. Bruno Luperi é neto do novelista e responsável pela adaptação da saga rural que estreou no horário nobre em janeiro. O remake ficará no ar até setembro.

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