Espelho da Vida engrena e Vitória Strada se firma como mocinha sofredora

Depois de uma estreia morna, com uma história guiada quase em ponto morto, Espelho da Vida, novela das seis da Globo, finalmente conseguiu entrar nos eixos. Elizabeth Jhin desembaralhou os entrechos e tornou o quebra-cabeça de sua trama um pouco mais claro para quem a assiste ao deixar de lado a racionalidade e apostar na emoção.

Toda a engenhosidade teve um preço, mas, verdade seja dita, em nenhum momento a autora abriu mão da complexidade de seus personagens, cheios de camadas e nuances, acentuadas pelo contraste das narrativas do presente e do passado.

Os diálogos de Elizabeth prezam pela naturalidade e raramente vê-se gritaria em cena, um recurso que parece ter virado regra em outras novelas. Justamente por isso, a sequência em que Cris (Vitória Strada) surta, exibida no capítulo de quinta-feira (7), chamou a atenção pela qualidade.

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Após uma armação de Isabel (Alinne Moraes), Cris foi dopada e, ao ler uma antiga carta de Julia entregue a ela por Alain (João Vicente de Castro), entrou em surto. Desesperada, passou a confundi-lo com Gustavo Bruno, chamando a atenção de Margot (Irene Ravache), Ana (Julia Lemmertz), Flávio (Ângelo Antônio) e Américo (Felipe Camargo). Mas Cris só conseguia enxergar os personagens do passado e terminou a sequência sendo internada à força.

Vale ressaltar o trabalho da direção e da edição da cena. Irene Ravache, mesmo coadjuvante e quase sem falas, soube pontuar bem as nuances entre Hildegard e Margot. Ainda assim, o brilho foi todo de Vitória Strada, que poderia ter escambado para o exagero, algo muito fácil para alguém em começo de carreira. A atriz, entretanto, sustentou o drama e a tensão sem escorregar em nenhum momento.

Cris é a personagem mais complexa de Espelho da Vida. Exige da intérprete uma composição delicada e precisa, uma vez que se desdobra em mais duas personas, Julia Castelo e a interpretação de Julia por Cris em um filme que está sendo rodado. Com sutilezas, Vitória Strada deu um tom exato para cada momento em que aparece no ar.

Antes de Vitória assumir o papel, os nomes de Isis Valverde e de Paolla Oliveira chegaram a ser anunciados, mas Isis engravidou e Paolla foi descartada para não repetir com Alinne Moraes e Rafael Cardoso (Danilo/Daniel) o triângulo amoroso de Além do Tempo (2015).

Em sua segunda novela como protagonista, uma trajetória meteórica para uma atriz de apenas 22 anos, Vitória Strada se firma como mocinha sofredora e ganha mais destaque na trama, o que contribui, também, para o crescimento da importância de Isabel. Cada vez mais dissimulada e maquiavélica, a vilã só ressalta o que Alinne Moraes já havia demonstrado no início, com seu olhar perdido e cheio de ódio.

Espelho da Vida pode não ter tido o melhor começo do mundo, mas vem sendo fiel à sua ideia central e não abriu concessões em nome de um suposto aumento de audiência. A escolha por manter o ritmo da trama sem atropelos parece ter sido tão acertada quanto a escalação da protagonista.