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REPRODUÇÃO/TV GLOBO
A atriz Gloria Pires interpreta a matriarca Lola em sequência do remake de Angela Chaves
DANIEL FARAD
Publicado em 26/3/2020 - 5h29
Desde a primeira adaptação para a TV em 1958, Éramos Seis passou a registrar os avanços e retrocessos da sociedade brasileira em meio à saga da família Lemos. Recontada à exaustão, a história de Lola foi ganhando contornos diferentes conforme a cabeça do brasileiro também mudava com o passar do tempo. Em relação à penúltima versão exibida em 1994 pelo SBT, o remake de Angela Chaves se reinventou em meio às transformações do país nas últimas décadas.
Há 25 anos, o público também ansiava por um final feliz para a personagem então interpretada por Irene Ravache, mas não cogitava que uma mulher acima dos 50 anos pudesse encontrar a felicidade com um novo amor. Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho (1945-2019) apenas atenuaram o desfecho trágico que já haviam escrito para a protagonista em 1977.
Os dois também foram responsáveis por levar o romance de Maria José Dupré (1898-1984) para a Tupi na década de 1970. O epílogo fez jus às páginas finais do livro, em que a viúva termina os seus dias sozinha, abandonada pelos filhos, em um pensionato de freiras.
Ao voltarem à narrativa após 17 anos, os autores foram pressionados pelos telespectadores a suavizar a tristeza de Lola. Eles trouxeram o fantasma de Júlio, papel que coube a Othon Bastos, para fazer companhia à doceira em seus dias de solidão no asilo.
Em 2020, Lola ganhou até torcida para se entender com o personagem de Cássio Gabus Mendes depois da morte de seu primeiro marido. O papel da mulher no país mudou, e as cinquentonas não precisam mais se contentar apenas com a posição de mãe ou avó. A redescoberta da vida amorosa na maturidade deixou de ser um tabu para fazer parte do cotidiano das pessoas.
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A história de Isabel (Giullia Buscacio) sofreu rejeição do público na novela das seis: machismo
O folhetim da Globo também mostra outros avanços sociais como, por exemplo, ao dar voz e espaço para Durvalina (Virgínia Rosa). Até então relegada à empregada que ajudou Lola (Gloria Pires) a criar os filhos, ela agora teve direito de exercer a própria maternidade com a introdução da trama de Marcelo (Guilherme Ferraz).
Justina (Julia Stockler) mostra um amadurecimento na nossa relação com a saúde mental. Angela evitou dar uma cura milagrosa para o distúrbio da irmã de Adelaide (Joana de Verona) e passou a respeitar as suas singularidades dentro do espectro autista. No fim das contas, quem mais se beneficiou das sessões de terapia de Selma (Aline Borges) foi Emília (Susana Vieira).
A escritora, entretanto, tropeçou no machismo ao contar a história de Isabel (Giullia Buscacio) com ares mais empoderados e incomodou os telespectadores. A mulher de Felício (Paulo Rocha) foi considerada arrogante e mimada, mesmo com uma trama que já havia caído no gosto popular no passado.
Por fim, a novela ainda angariou críticas nas redes sociais com as alfinetadas políticas que foram colocadas na boca de Gusmões (Stepan Nercessian). O delegado, inúmeras vezes, disparou discursos bastante parecidos com o do presidente Jair Bolsonaro. Os apoiadores do político não gostaram nada.
Nos últimos capítulos, uma homenagem a Rosa Luxemburgo (1871-1919) feita por Lúcio (Jhona Burjack) também foi alvo de polêmica no Twitter. A sequência mostrou um país cada vez mais dividido, muito longe de compreender a complexidade de uma figura histórica como a da militante política.
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