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SEM CARISMA

De absurdo a contradição: Quais os erros dos protagonistas de Mar do Sertão?

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Renato Góes, o Tertulinho, encara Sergio Guizé, o José; eles estão de frente um para o outro (e de perfil para a câmera), com o semblante fechado, em cena de Mar do Sertão

Tertulinho (Renato Góes) e José (Sergio Guizé) em um de seus vários bate-bocas sem futuro

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 26/11/2022 - 6h20

Desde o início, a trama protagonista de Mar do Sertão não causou interesse. A história era tão conhecida e clichê que já era de se imaginar que não conquistaria ninguém. Mas bem que poderia ter acontecido alguma surpresa, como uma química alucinante entre o casal principal ou uma vingança de cair o queixo por parte do mocinho. Só que tudo se desenrolou da forma mais previsível possível, e até pior do que o esperado: mesmo os aspectos mais básicos da trama foram deixados de lado.

Os motivos para José (Sergio Guizé) ter encarnado o espírito vingativo são pouco explorados; a mocinha, Candoca (Isadora Cruz), não tem um conflito interessante desde a segunda semana da novela; Tertulinho (Renato Góes) não sabe o que quer da vida: num dia, pretende matar o rival friamente, noutro, briga com a mãe por considerar destruir o ex-vaqueiro. É difícil entender.

A química entre os três também não funciona muito bem, principalmente pelo fato de os personagens serem rasos. Como torcer para um protagonista de quem sequer entendemos os motivos da vingança, ou se compadecer de uma mocinha que mais parece um panfleto de justiça e bondade?

Não é de se espantar que os trambiqueiros Timbó (Enrique Diaz) e Xaviera (Giovana Cordeiro) tenham provocado mais comentários do público nas redes sociais. O primeiro não esconde o fato de ser um preguiçoso nato, além de ser machista e todo problemático. Mas tem carisma, dá o que não tem para ajudar quem precisa --vide o caso de Adamastor (Everaldo Pontes)-- e é engraçado. Também se mostra disposto a mudar, mesmo depois de errar muito.

A personagem de Giovana Cordeiro é o grande trunfo da novela. Primeiro, esperava-se que ela fosse uma grande vilã, uma periguete clássica que infernizaria o casal principal e daria golpes em desavisados. De fato, ela foi tudo isso, mas no passado. No recorte da vida da personagem que a novela apresenta, ela tenta se transformar numa boa pessoa, apesar de todas as punhaladas que recebe da vida. E essa trajetória humana, cheia de altos e baixos, dúvidas e passos em falso faz o espectador se identificar.

A questão que fica é: existe salvação para os protagonistas? O Notícias da TV listou os principais erros do trio problemático.

José (Sergio Guizé) em Mar do Sertão; vingança é má desenvolvida

José em cena de Mar do Sertão

1. José e sua vingança sem sentido

É difícil comprar o ódio que o protagonista tem dos Tertúlios. O autor, Mario Teixeira, optou por deixar o todo-poderoso coronel (José de Abreu) como uma pessoa dúbia, sem grandes vilanias, e não dá para torcer com veemência para que ele se ferre.

O pior problema, no entanto, é que ninguém sabe direito o porquê da tal vingança. José parece se ressentir pois o pai dele, Daomé (Wilson Rabello), foi "expulso" das terras em que vivia na fazenda. Mas o homem deixou o local pela sua própria vontade, e o coronel lhe ofereceu o dinheiro pelo trabalho prestado. Ok, o meeiro estava velho e merecia um local para descansar. E a fúria do filho seria mais justificável se o pai tivesse morrido sem teto, largado às traças. Mas ele conseguiu arranjar um canto com o dinheiro que tinha e descansou tranquilamente.

Claro, a revolta pela desigualdade social, pelo fato de o ricaço ser dono de quase todas as terras da cidade e representar a figura coronelista do Brasil são motivos dignos para se ter raiva. Mas, com isso, a vingança contra a pessoa do coronel é útil? Não faria mais sentido que o empresário, rico e influente como é, denunciasse esse esquema num âmbito mais geral? Instruísse a população a exigisse melhorias, tomasse alguma atitude para mudar a cidade? Ele bem que prometeu cumprir esse último fator, mas, até agora, nada aconteceu.

O grande ponto é: não dá para fazer um país inteiro comprar a briga de alguém se o motivo não for muito claro. E se o espectador acompanhar toda aquela dor, melhor ainda. É o caso de Maíra (Sophie Charlotte), mocinha de Todas as Flores. O público está vendo a desgraça dela e se chocando com os absurdos ditos por Vanessa (Leticia Colin), e, quando a vingança chegar, será delicioso de assistir. 

José (Sergio Guizé) na novela; passado dele é obscuro

José na novela; passado do personagem é obscuro

2. Aliás, quem é José?

Outro problema decorre do fato de não termos acompanhado a trajetória do protagonista nos dez anos que se passaram entre uma fase e outra (a primeira fase teve menos de 15 capítulos, então também não pudemos ver muita dor do personagem ali): ninguém sabe nada de José. Ele foi um ex-vaqueiro que enriqueceu e quer se vingar. Pronto, isso é tudo.

Como ele conquistou dinheiro para sair do Brasil e conhecer Maruan (Pedro Lamin), para começo de conversa? O príncipe pode até tê-lo ajudado a construir a JM/Chaddad, mas o rapaz teve de sair de algum lugar. Aliás, qual o serviço que a empresa presta? Em que momento eles trabalham?

Acima de tudo: qual é a função do protagonista na empresa? Até então, ele foi apresentado como o chefão de tudo (tanto que a sigla de seu nome ocupa o nome da companhia), mas semana que vem ele será deposto do cargo e perderá o acesso às próprias finanças. O fato de ser uma empresa de capital aberto não justificaria ele ser expulso da própria casa, como deve acontecer na próxima semana.

Isadora Cruz como Candoca em Mar do Sertão; personagem não tem enredo

Candoca, a mocinha sem sal, em cena da novela

3. Candoca: Exemplo de perfeição

Apesar de a novela usar o fato de ser uma fábula como justificativa para abordagens estereotipadas de alguns temas do Nordeste, não dá para encaixar Candoca sob a alcunha de qualquer mocinha conhecida. A médica não é sofredora, nem empoderada, nem aventureira, porque absolutamente nada acontece com ela. 

Os únicos conflitos ocorreram na segunda semana da novela, quando ela perdeu o noivo, viu a mãe morrer e se descobriu grávida numa tacada só. Mas nem isso ajudou o público a gostar dela. A maioria das cenas da personagem serve apenas para mostrar o quanto ela é perfeita, sem defeitos e justa como Jesus. Ninguém chega aos pés dela. E, se chegar, ela faz questão de apontar os erros da pessoa com toda a sua convicção de que é melhor que os outros --vide o caso de José com as promissórias.

A função da Candoca é performar perfeição e servir como estopim para José e Tertulinho brigarem. E nem para isso ela serve muito bem, já a disputa pelo coração da mocinha durou muito tempo na trama. Em menos de um mês, ela já tinha largado o casamento para ficar com o ex-noivo. Ou seja: não há conflito nem em relação ao casal protagonista. Sequer dá para temer que eles não fiquem juntos, uma vez que nada que o Tertulinho planeja dá certo.

Pé de guerra entre Candoca, José e Tertulinho irrita público

Lenga-lenga entre trio irrita espectador

4. Lenga-lenga cansativo

A impressão que dá é de que não há mais história para contar entre os três. O próprio Tertulinho já entendeu isso, uma vez que havia desistido de armar contra o rival. Essa decisão não durou um dia, mas representa o surto que se tornou esse triângulo.

Em menos de dois meses de novela, o almofadinha já havia encomendado a morte do protagonista --plano que, obviamente, não funcionou. Essa costuma ser uma decisão extrema, deixada para a reta final do folhetim, quando o vilão já tentou de tudo, mas nada deu muito certo. Agora que o playboy já considerou assassinato, é difícil criar expectativas em qualquer outra coisa que ele possa fazer de pior contra o inimigo. E, assim, não há mais motivo para ansiar pelo próximo capítulo.

Aparentemente, o advogado se limitará a observar a felicidade dos protagonistas pelas janelas, invadir a casa, dar um chilique e chorar no colo da mãe, Deodora (Debora Bloch) --cena que já aconteceu várias vezes. 

Deodora (Debora Bloch) em Mar do Sertão; vilania da personagem é chave

Vilania de Deodora é chave para novela

5. Deodora, corre aqui!

Com tudo isso, parece existir apenas uma salvação nessa trama: Deodora. Ela, sim, é uma vilã tenebrosa, digna do ódio que José sente por Tertúlio. Também é mais fria e meticulosa que Tertulinho. A megera pode acabar com José num piscar de olhos pelo simples fato de não querer ninguém competindo pelo poder da cidade com ela.

Até então, porém, a personagem de Debora Bloch vem se mostrando mais um erro da novela. Com um potencial absurdo, ela é subaproveitada e se limita a ser uma "conselheira do mal" ao filho. As coisas mudaram agora, com o envenenamento do coronel e o affair com Pajeú (Caio Blat). O jeito é esperar uma reviravolta na história.

Mar do Sertão está no ar na faixa das 18h da Globo. O folhetim é escrito por Mario Teixeira e dirigido por Allan Fiterman. Leia os resumos dos próximos capítulos da novela das seis.


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