ANÁLISE
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Danilo (Chay Suede) conforta Thelma (Adriana Esteves) em cena do primeiro capítulo de Amor de Mãe
HENRIQUE HADDEFINIR
Publicado em 27/11/2019 - 5h22
O capítulo de estreia de Amor de Mãe foi exibido na noite de segunda-feira (25) cercado de expectativas. No geral, uma nova novela das nove sempre causa certo burburinho, mas depois de todas controvérsias de A Dona do Pedaço (2019), o que havia ficado era a sensação de que o horário mais nobre da Globo merecia um pouco mais.
Manuela Dias, autora responsável pela nova empreitada, pode não ser um nome tão famoso do grande público quanto Gloria Perez, Gilberto Braga ou Aguinaldo Silva, mas é uma velha conhecida de quem gosta das séries de TV que a emissora faz.
Em 2016, ela chamou a atenção ao escrever Justiça, que usava uma narrativa fragmentada para contar a história de quatro pessoas que tinham suas vidas entrelaçadas de maneiras que nem elas mesmas percebiam. A cada dia da semana, um personagem ganhava o foco da narrativa.
Falar sobre Justiça não é irrelevante na hora de avaliar a estreia de Amor de Mãe. O intenso primeiro capítulo trouxe à tona uma dinâmica muito parecida, que acabou se tornando a marca registrada de Manuela.
Quem conhece séries de TV sabe que a autora "não inventou essa roda". Há 15 anos, com o lançamento de Lost (2004-2010), o público começou a ser desafiado por histórias desmembradas, centradas em personagens com tramas que invadiam umas às outras, exigindo atenção e intelecto para serem compreendidas. De lá para cá, a televisão começou uma forte transformação.
reprodução/tv globo
Vitória (Taís Araújo) conversa com Lurdes (Regina Casé) na estreia da nova novela das nove
Amor de Mãe vem na contramão total de A Dona do Pedaço. As duas apostam em enredos de superação, com muito apelo popular. Mas, enquanto Walcyr Carrasco apostou no choque folhetinesco, com um primeiro capítulo cheio de matadores e mortes, usando como ferramenta um texto direto e didático, Amor de Mãe apoia seu primeiro capítulo em sentimentos como a solidariedade e a gratidão.
É uma aposta muito acertada, que leva em conta os terrores da vida diária --que aparecem com destaque na trama de Manuela. A história da nordestina Lurdes (Regina Casé) começa com violência; a de Thelma (Adriana Esteves), com uma perda iminente; e a de Vitória (Taís Araujo), com medo e ansiedade.
As diferenças residem, é claro, na abordagem. A pobreza e a dor ainda estão ali rondando, como precisa ser com qualquer novela das nove. Mas a caprichada direção artística de José Luiz Villamarim não está apenas preenchendo vazios, ela complementa o texto de Manuela.
Um bom exemplo disso está logo na primeira cena, em que Lurdes passa pela entrevista de emprego com Vitória. Câmera parada, atriz em foco, um texto simples, mas cheio de sensibilidade. Regina Casé é imbatível quando se trata do tipo popular. Cada inflexão vem carregada de força e humildade.
A essência do estilo de Manuela, enfim, está no fim do capítulo, que mostra Magno (Juliano Cazarré) indo para casa no trânsito insano do Rio de Janeiro e, ao descer do ônibus, esbarra em todas as protagonistas pelo caminho, sem que nenhuma delas saiba que ele as interliga. É uma perspectiva realmente animadora.
Com uma trilha sonora inspirada (que aposta em sucessos do passado) e uma abertura que mescla o óbvio das imagens com a peculiaridade da concepção artística, Amor de Mãe tem tudo para despachar ao limbo os exageros e inverossimilhanças de A Dona do Pedaço. Será um esquecimento bem-vindo. Porque amor de mãe, enfim, é o que fica.
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