Com beata safada, Elizabeth Savala rouba vilania de O Sétimo Guardião

O posto de principal vilã em O Sétimo Guardião, novela das nove da Globo, mudou de mãos. Valentina (Lilia Cabral) não cumpriu com o prometido e seus atos mais parecem travessuras infantis do que propriamente maldades de folhetim. No vácuo de uma antagonista forte, a beata safada Mirtes (Elizabeth Savala) surgiu com tudo para ocupar o posto.

Capaz de fazer as mais pérfidas maldades, "açoitando com seu terço" quem quer que seja, ela se acha no direito de tomar conta da vida dos moradores de Serro Azul com sua falsa moral. A vilã começou pequena, mas logo demonstrou que renderia mais.

Por julgar-se acima de tudo e de todos, Mirtes carrega uma empáfia que faz com que ela se desentenda com quase todos os personagens da novela, ainda que gratuitamente, em nome da moral que tanto defende.

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A implicância, que inicialmente era apenas com a nora alcoólatra Stela (Vanessa Giácomo), passou a ocorrer também com outros personagens da novela. Mirtes já encrencou com Lourdes Maria (Bruna Linzmeyer), Olavo (Tony Ramos), Ondina (Ana Beatriz Nogueira) e até com seu ex-escudeiro fiel, Jurandir (Paulo Miklos), depois que ele começou a namorar Milu (Zezé Polessa).

Nem mesmo o próprio filho da megera, Aranha (Paulo Rocha), foi poupado de seu veneno e de sua amargura: quando ele contou à família que era estéril, Mirtes não hesitou em humilhá-lo.

Mas há um lado da megera que a torna especialmente divertida: sua safadeza, escondida por baixo de sua capa de religiosa fervorosa. A entrada de Mattoso (Tuca Andrada), o homem que no passado a enlouqueceu na cama e depois a abandonou, injetou um pouco de gás, tão necessário à história. O tesão reprimido, obsessivo e não correspondido pelo forasteiro dá complexidade e uma pitada de humor à vilã.

Há dois fatores que contribuem para o crescimento de Mirtes em O Sétimo Guardião: o primeiro é a entrega de Elizabeth Savala ao papel, em uma interpretação irrepreensível. Embora Mirtes seja uma caricatura, Savala a compôs sem exageros nem maneirismos, e sua naturalidade em cena é o ponto de destaque.

O segundo é a maestria de Aguinaldo Silva em criar tipos como o dela: a beata não é novidade em suas novelas. Perpétua (Joana Fomm) em Tieta (1989), Altiva (Eva Wilma) em A Indomada (1997) e até Cora (Marjorie Estiano/Drica Moraes) em Império (2014) guardam um paralelo com a megera da vez.

Claramente, Silva não tem a intenção de inovar com a personagem. Apostou em um terreno que domina com segurança. E, mais uma vez, acertou em cheio.

Com a chegada da internet a Serro Azul, Mirtes passará a destilar seu veneno online, atacando a reputação de desafetos, e sua perfídia tende a aumentar ainda mais.

Como vilã, Mirtes é muito mais interessante do que Valentina, que até agora só soltou frases de efeito e pouco fez para movimentar a trama. Mirtes, ao contrário, toca o terror e não espanta que tenha roubado o posto de principal antagonista.

Em meio aos tantos desacertos de O Sétimo Guardião, as cenas de Elizabeth Savala são uma das poucas coisas a se prestar atenção na novela.