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Autor fez força-tarefa e escondeu assassino de Odete Roitman até o último minuto

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Odete Roitman (Beatriz Segall) escorrega pela parede após ser baleada em cena da novela Vale Tudo (1988)

Morte de Odete Roitman (Beatriz Segall) em Vale Tudo (1988) parou o Brasil com mistério

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 16/5/2023 - 6h20

Há 35 anos, Vale Tudo (1988) estreava no horário nobre da Globo para fazer história na teledramaturgia. A novela de Gilberto Braga (1945-2021) é considerada até hoje uma das melhores já feitas no Brasil. O mistério sobre quem matou Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall (1926-2018), foi responsável por prender a atenção do público na reta final do folhetim. O autor precisou criar uma força-tarefa para a identidade do assassino não vazar.

Vale Tudo denunciava a inversão de valores no final dos anos 1980 no Brasil. A discussão sobre honestidade foi criada por meio do embate entre a íntegra Raquel Accioli (Regina Duarte) e a filha Maria de Fátima (Gloria Pires), jovem inescrupulosa que roubava o dinheiro da família e fugia para o Rio de Janeiro com o objetivo de se tornar modelo.

Maria de Fátima seduziu o milionário Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes) por puro interesse. Ela ainda aceitou a proposta da sogra, Odete, para separar Raquel de Ivan Meirelles (Antonio Fagundes) com a promessa de ter direito à fortuna de Afonso após dois anos de casamento. Tudo isso porque a vilã queria que Ivan se casasse com a filha dela, Heleninha (Renata Sorrah).

Diretora da Companhia Aérea TCA, Odete dizia os maiores absurdos e destilava preconceitos e frases ácidas para detonar os brasileiros --além de ter colecionado desafetos. O assassinato da personagem não estava previsto na sinopse, mas foi usado pelos autores depois de a trama ser espichada.

A megera foi morta com três tiros à queima-roupa no capítulo 193, e o mistério sobre quem era o assassino dominou as conversas do público e parou o país --apesar de ter durado apenas 11 capítulos. Uma indústria alimentícia até patrocinou um concurso para premiar quem acertasse o nome do criminoso.

Estratégia

Para manter o enigma até o fim, os autores Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) escreveram cinco versões, com assassinos diferentes, para o último capítulo da trama. Da forma como a cena foi pensada, vários personagens poderiam ter praticado o crime.

Nem mesmo o elenco descobriu com antecedência o que aconteceria: os atores só receberam os roteiros na hora da gravação da cena e sequer sabiam qual deles seria rodado. A sequência, inclusive, foi gravada poucas horas antes de o capítulo ir ao ar.

O mistério só acabou quando o diretor Dennis Carvalho dispensou o elenco e avisou que a assassina seria Leila (Cassia Kis), mulher do inescrupuloso Marco Aurélio (Reginaldo Faria). A escolha foi tomada de última hora.

"Aguinaldo, Leonor e eu só resolvemos isso perto de bolar a cena do assassinato. Muitos acharam frustrante. Eu, pessoalmente, não achei", declarou Braga ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo. A explicação também surpreendeu o público.

Leila matou Odete por engano. Ela atirou numa sombra atrás de um vidro esfumaçado sem nem ver quem era a pessoa. A mulher, inclusive, acreditava se tratar de Maria de Fátima, a amante de Marco Aurélio.

As outra quatro versões escritas pelos autores traziam César (Carlos Alberto Riccelli), Olavo (Paulo Reis), Bruno (Danton Mello) e Queiroz (Paulo Porto) como assassinos, mas nenhuma delas chegou a ser gravada. Os motivos para o crime eram os mais variados possíveis, segundo reportagem de O Globo:

  • César atiraria na ex-amante por vingança durante uma discussão, já que Odete não remeteu os dólares prometidos para uma conta na Suíça em seu nome;
  • Olavo iria tentar chantagear a vilã, que pegaria a arma e seria vítima de um disparo acidental;
  • Bruno veria uma discussão entre Marco Aurélio e Odete, na qual ela ameaçaria expor os crimes dele. O rapaz defenderia o padrasto e atiraria na megera;
  • Queiroz interromperia a briga de Odete com Marco Aurélio e se declararia para a empresária. A vilã debocharia do homem, que perderia o controle e a mataria.

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