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MEMÓRIA DA TV

Em 1989, dono da Globo ficou decepcionado com o final de Vale Tudo

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

A atriz Beatriz Segall caracterizada como Odete Roitman, vilã de Vale Tudo, com mão no queixo e terno azul

A atriz Beatriz Segall caracterizada como Odete Roitman, vilã que foi assassinada na novela Vale Tudo (1988)

THELL DE CASTRO

Publicado em 3/1/2021 - 7h00

Há 32 anos, em 6 de janeiro de 1989, o Brasil parava para assistir ao último capítulo de Vale Tudo e descobrir quem havia matado Odete Roitman (Beatriz Segall). O resultado gerou recorde de audiência para a Globo e críticas de quem não gostou da escolha da assassina --incluindo o próprio dono do canal.

O Natal de 1988 já tinha sido diferente: o público fez como Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e deu uma banana para o Papai Noel. Em pleno dia 24 de dezembro, a Globo mostrou a simples cena em que os telespectadores veem apenas um revólver disparando. A partir daí, começa o mistério.

A emissora também faturou alto com a expectativa: além de ter fila para exibir comerciais no horário nobre, uma marca de caldos pagou 300 mil dólares para ter direito a fazer um concurso.

Quem acertasse o autor dos disparos ganharia 5 milhões de cruzados. Foram recebidas 3 milhões de cartas de todo o Brasil. O mais cotado, com 24% dos votos, foi o mordomo Eugênio (Sérgio Mamberti).

Até o jogo do bicho faturou: de acordo com o jornal O Dia de 8 de janeiro de 1989, somente nas bancas do Rio de Janeiro foram arrecadados mais de 350 milhões de cruzados em apostas.

Para despistar a imprensa, mais fácil de controlar numa era que nem se sonhava com internet e redes sociais, a Globo distribuiu falsos scripts, que apontavam assassinos improváveis como Olavo (Paulo Reis) e até mesmo o garoto Bruno (Danton Mello). Além desses, teriam sido gravados finais com César (Carlos Alberto Riccelli) e Queiroz (Paulo Porto) como autores dos tiros.

Na hora da verdade, a assassina foi Leila (Cassia Kis), que matou Odete por engano. Ela achou que estava atirando em Maria de Fátima (Glória Pires), amante de seu marido, Marco Aurélio, a quem a empresária acusava de corrupto pouco antes de morrer.

As gravações foram realizadas com a presença de boa parte do elenco, que ficou sabendo a identidade da criminosa na manhã do dia 6 de janeiro --era o dia do aniversário de Cassia, que só saiu de lá no final da tarde.

"Foi muita tensão. Ainda estou com dor de cabeça. O diretor, Ricardo Waddington, nos chamou e disse que tínhamos uma grande responsabilidade nas mãos. Acho que o final da novela me deu a oportunidade de mostrar o meu trabalho, pois, até então, eu havia servido apenas de apoio aos outros atores", declarou a atriz ao jornal O Dia.

"Eu achei o desfecho fantástico. Leila era uma mulher comum demais, carente, com valores horrorosos, desequilibrada. Acredito que o fato dela ter sido escolhida como a assassina foi a melhor solução", completou.

Mas nem todo mundo gostou do resultado. O próprio dono da Globo, Roberto Marinho (1904-2003), que era um ávido telespectador da novela, garantiu que não sabia quem havia matado Odete. Porém, após a revelação, disse que a escolha foi muito óbvia.

"Com todo o sucesso da questão do assassino, acabamos por dar um mês de tranquilidade ao Sarney", brincou Dennis Carvalho à revista Veja de 11 de janeiro de 1989, se referindo aos problemas políticos e econômicos enfrentados pelo então presidente.

Somente no Rio e em São Paulo, cerca de 13 milhões de pessoas assistiram ao desfecho da trama. Por incrível que pareça, o penúltimo capítulo deu mais ibope do que o último. Mas, na hora da revelação do segredo, o índice de audiência no Rio era de 86 pontos para a Globo.


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