NOVOS TEMPOS
REPRODUÇÃO/TELEMUNDO
Betty (Elyfer Torres) antes e depois da mudança; pela primeira vez, personagem assume cachos na transformação
Desde a exibição original, em 1999, as adaptações de Yo Soy Betty, la Fea seguiram a mesma cartilha na hora da mudança de visual da protagonista: os cabelos arrepiados ou crespos da personagem se tornaram lisos em sua fase bonita. A versão mais recente da novela, lançada no ano passado, quebrou esse paradigma ao apresentar a primeira Betty pós-transformação com cabelos cacheados. A cena está prevista para ser exibida no capítulo desta terça-feira (9) de Betty, a Feia em NY, no SBT.
Para Camila Guimarães, mestranda em Comunicação pela UFPA (Universidade Federal do Pará) que analisa a representação dos cachos no audiovisual e os conceitos atrelados a este tipo de cabelo, a sequência é um marco na quebra dos estereótipos de beleza.
"Dificilmente a mocinha da novela é cacheada. Em filmes e outras produções audiovisuais, o cabelo crespo é apresentado como uma marca de imaturidade. Quando a personagem cresce, o cabelo é alisado para representar essa transformação", explica a pesquisadora.
A trama criada por Fernando Gaitán (1960-2019) já foi adaptada 25 vezes, inclusive no Brasil pela Record (Bela, a Feia, de 2009). Em 2019, a Telemundo realizou uma nova versão da trama, em comemoração aos 20 anos da original, e apresentou ao público uma personagem mais ajustada aos tempos atuais.
"O momento da mudança, quando a Betty se vê no espelho, é um ato de valor, de autorreconhecimento e amor próprio. Ela se sente assim: 'Uau, essa sou eu, a pessoa que eu construí, quem eu decidi ser'", revelou Elyfer Torres, protagonista de Betty, a Feia em NY, em entrevista para o programa Un Nuevo Día, da Telemundo.
Verónica Schneider, intérprete da "fada madrinha" de Betty na trama, diz que a transformação não se restringiu apenas ao lado estético. "O mais importante era que a personagem entendesse todo o valor e potencial que ela tem. Com isso em mente, a mudança externa é fácil de alcançar. Acredito que a mudança principal em uma pessoa é a segurança em si mesma, o amor próprio", falou ao Suelta la Sopa, programa de variedades da emissora.
rEPRODUÇÃO/TELEVISA E RECORD
Antes e depois da mexicana Lety (Angélica Vale) e da brasileira Bela (Giselle Itié): sem cachos
A pesquisadora Camila Guimarães reforça que essa mudança na personagem não pode ser analisada de forma isolada. Nos últimos anos, a luta pelo empoderamento das mulheres (inclusive o debate sobre os cabelos, sobretudo pelos movimentos feministas negros) e os interesses pelas marcas de beleza nas mulheres cacheadas conquistaram mais espaço na mídia.
"Dentro do universo mercadológico da feminilidade e da estética, as referências de beleza são as pessoas que estão na mídia. Nos anos 1990 e 2000, as meninas de Chiquititas [1997] e a cantora Sandy Leah tinham cabelos lisos e pautavam o consumo, tanto que as bonecas também possuíam esse tipo de cabelo".
"Nos últimos anos, percebemos um crescimento no mercado de cabelos crespos e cacheados. Somadas as lutas realizadas pelos movimentos afirmativos, esse estilo consegue mais visibilidade na mídia e também espaço nas produções audiovisuais", complementa a estudiosa.
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