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MUDANÇA DE POSTURA

Acusada de racismo no passado, Globo limpa a barra em Nos Tempos do Imperador

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Michel Gomes com uma bata de algodão cru, bastante suja, com um canavial em chamas ao fundo como o Jorge em cena noturna de Nos Tempos do Imperador

Jorge (Michel Gomes) em Nos Tempos do Imperador; diálogos em hauçá chamaram a atenção na estreia

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 9/8/2021 - 21h47

A estreia Nos Tempos do Imperador deixou claro que a Globo não está disposta a repetir os erros do passado, em que por diversas vezes foi acusada de "romantizar" a escravidão em suas tramas de época. O folhetim assumiu um discurso antirracista que vai muito além do texto, mas que se faz presente já com Machado de Assis (1839-1908) em sua abertura --ou um bilhete em alfabeto árabe que pode ter passado despercebido no primeiro capítulo.

A emissora tenta passar a limpo episódios lamentáveis de sua história, como em que Sérgio Cardoso (1925-1972) recorria ao blackface para interpretar um negro em A Cabana do Pai Tomás (1969). A técnica, em que o ator pintava o rosto de preto, era uma prática comum na época --ainda que já criticada, pois parte da classe artística queria Milton Gonçalves no papel.

Uma das mudanças mais notáveis é retirar o protagonismo da luta pela abolição de papéis brancos para dá-lo no primeiro episódio de Samuel (Michel Gomes). O rapaz foi responsável por enfrentar o coronel Ambrósio (Roberto Bomfim) e, inclusive, acusá-lo abertamente de ter abusado sexualmente de sua mãe, enfim dando "nomes aos bois" no horário das seis.

A postura é completamente diferente de produções como Sinhá Moça (1986), em que Maria das Graças (Lucélia Santos) se torna uma espécie de redentora das pessoas escravizadas na fazenda de seu pai. Eles assistem à libertação em uma posição passiva, de subalternidade e incapacidade que foi reproduzida no remake de 2006.

O telespectador mais atento deve ainda ter estranhado a língua falada pelos homens que invadiram a propriedade de Ambrósio, com direito a um bilhete em alfabeto árabe consumido pelo fogo. Os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão não abordaram textualmente, mas merecem créditos por fazer alusão aos malês.

Bilhete em hauçá: malês entram na história

Esse grupo, bastante diverso entre si, designa sobretudo os negros muçulmanos que foram fundamentais para as revoltas durante o Império por serem alfabetizados. Eles faziam suas mensagens escritas em hauçá [falada até hoje em países como Camarões] circular tranquilamente, às vezes escondidas em embrulhos de doces, e passarem incólumes pela polícia.

Machado de Assis também pode ter tido pouco tempo de tela, mas chamou a atenção por ser retratado fielmente na abertura da história. Ou seja, como uma pessoa negra. Ele foi alvo de branqueamento durante décadas, em que suas imagens foram clareadas já que era indesejável à elite que o maior escritor do país fosse um homem "mestiço". 

Outro aspecto interessante é que Nos Tempos do Imperador se coloca em uma posição mais de antirracismo do que no combate direto ao racismo em si. A Globo também parece ter ouvido as críticas e evitado tomar a dianteira desse processo, especialmente uma trama escrita por dois profissionais brancos e dirigida por um terceiro, Vinícius Coimbra.


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