Pirataria
Fotos: Adriana Spaca/Notícias da TV
O consultor Pedro Coiote assiste ao canal Combate por meio de sinal de streaming pirata
DANIEL CASTRO
Publicado em 20/8/2018 - 5h37
A mesma tecnologia que nos permitiu assistir a temporadas inteiras de séries em um só dia está causando uma sangria estimada em meio bilhão de reais por mês à indústria de TV por assinatura. O streaming é a nova porta de entrada da pirataria no país. Segundo a Cisco, 6,5 milhões de aparelhos que recebem TV ilegalmente via internet entraram no Brasil nos últimos três anos pela fronteira com o Paraguai.
O consultor SAP Pedro Coiote (nome fictício), 36 anos, é proprietário de uma dessas caxinhas. Ele pagou R$ 700 pelo equipamento e não desembolsou mais nada de mensalidade. Tem de graça todos os canais pagos, inclusive o Combate, que tanto aprecia, com resolução 4K e guia de programação completo.
Para ele, o sinal de sua TV pirata "não tem comparação" com o da operadora para a qual pagava R$ 300 mensais pelos mesmos canais. "Eu uso um receptor baseado no Android, que tem qualidade de imagem e recursos infinitamente superiores. Os receptores deles [operadores de TV paga] são muito ultrapassados", diz. "Além disso, "o valor é muito caro pelo serviço ruim que é prestado", protesta.
Receptores de TV paga por IPTV (ou streaming), como o de Pedro Coiote, substituíram rapidamente a modalidade de pirataria que dominou na primeira metade da década.
Em 2015, segundo a ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), havia 4,5 milhões de "assinantes" que furtavam o sinal dos canais pagos diretamente de satélites. Nesse esquema, um assinante comprava um pacote legalmente e o dividia com centenas de outros usuários.
As empresas de TV por assinatura reagiram, e esse tipo de "negócio" entrou em decadência. No ano passado, diz a ABTA, a quantidade de domicílios com TV paga ilegal tinha caído para 3,2 milhões no Brasil. O dado é bem inferior ao do volume de receptores usados para o streaming ilegal, mas ainda assim é um número alto: de cada dez casas com TV por assinatura no país, duas seriam piratas.
A pirataria via streaming envolve hackers poderosos e máfias internacionais, provavelmente estabelecidas na Rússia, com conexões na China, onde se fabricam os aparelhos. Tem alcance global, oferece canais do mundo todo, opera também na Europa.
Segundo Marcio Machry, engenheiro da Cisco, os piratas recebem os sinais legalmente das operadoras, via satélite, em grandes data centers. A programação é codificada para streaming e armazenada em servidores "na nuvem", de onde chegam até a casa dos "assinantes", por meio de modems conectados à TV ou PC.
"A pirataria é um concorrente muito forte para a TV paga", disse Machry em um painel do PayTV Fórum, no final de julho. Além de furtar o sinal das operadoras, os piratas muitas vezes se apresentam como legítimos para os usuários leigos, de quem cobra entre R$ 20 e R$ 35 mensais.
Muita gente tem TV pirata e não sabe. Pode estar abrindo seus dados bancários a bandidos ao conectar seu PC a uma quadrilha internacional, alerta a ABTA.
De acordo com a entidade, a pirataria movimenta R$ 6 bilhões por ano entre evasão de receitas e sonegação de impostos _a quantia equivale a 20% do faturamento de todo o mercado de TV paga (R$ 30 bilhões). Somente no ano passado, foram importados 3,015 milhões de receptores de streaming chineses, via Paraguai, por US$ 115 milhões.
A indústria contra-ataca a pirataria com tecnologia, adotando mapeamento de fingerprint e watermark. Ao bloquear sinais, incomoda o usuário, que pode migrar para uma operadora legal.
Segundo a ABTA, os decodificadores de streaming chineses entream no país ilegalmente, contrabandeados.
Os comerciantes que os vendem ao ar livre em locais como a rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, com o claro propósito de roubar sinal de TV paga, alegam que esses aparelhos têm o mesmo direito de estarem no mercado quanto a Apple TV, o que não é verdade.
No ano passado, a ABTA tirou do ar 28 mil anúncios de decodificadores de TV paga pirata no Mercado Livre. E vem movendo ações judiciais contra youtubers que fazem propaganda desses equipamentos.
Fernando Magalhães, diretor de programação da Net, estima que a pirataria tira das programadoras R$ 100 milhões por ano. Isso significa menos dinheiro para a produção de conteúdo, o que, no futuro, irá afetar tanto o consumidor de TV paga legal quanto os "alternativos".
Na opinião de usuários, a TV por assinatura poderia acrescentar mais uma medida no combate à pirataria: melhorar e baratear a programação.
"Você paga caro pra ver um flme ou série no mínimo três vezes na mesma semana. E pra ver um jogo, uma luta, um evento ao vivo, você paga o mesmo que pagaria para ver no local. Ou até mais caro", reclama Pedro Coiote, o adepto da pirataria via streaming que ilustra esta reportagem.
Colaborou GABRIEL SOUZA
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