COLUNA DE MÍDIA
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Mark Zuckerberg, CEO da Meta, está sob pressão por investimentos incertos e queda do lucro
Na última quinta (27), as ações da Meta, empresa que controla o Instagram e o Facebook, caíram 25% na bolsa de valores depois de divulgar a queda em sua receita trimestral. Foi a segunda vez consecutiva no ano que o resultado encolheu A Meta também alertou sobre os custos crescentes de suas operações e previu resultados financeiros piores nos próximos meses.
As ações da Meta já caíram cerca de 70% neste ano. A certa altura do ano passado, a empresa tinha um valor de mercado de quase US$ 1,1 trilhão (R$ 5,8 trilhões); agora vale US$ 270 bilhões (R$ 1,4 trilhão). Essa perda de US$ 800 bilhões (R$ 4,2 trilhões) é o equivalente a dez vezes o valor de marcado da Petrobras. O valor de mercado da Meta não é tão baixo desde 2016, quando a receita da companhia era cerca de um quinto da atual.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, disse ainda que as perdas vão acelerar no próximo ano na área encarregada de levar a empresa para o metaverso. A queda das ações fez virar pó o equivalente a R$ 454 bilhões (US$ 85 bilhões) na última quinta.
O Facebook segue sendo uma potência em vários sentidos. Apenas no terceiro trimestre, faturou US$ 27,7 bilhões (R$ 143,5 bilhões). Mas embora o número tenha superado as expectativas, os custos e despesas aumentaram 19%. Portanto, o lucro operacional caiu 46%, para US$ 5,6 bilhões (R$ 29,3 bilhões).
A empresa disse que as despesas totais cresceriam de cerca de US$ 86 bilhões (R$ 445,5 bilhões) este ano para entre US$ 96 bilhões e US$ 101 bilhões (R$ 497,3 bilhões e R$ 523,2 bilhões) no próximo ano. E isso apesar da promessa da empresa de manter o número de funcionários estável em 2023.
A Meta disse que os gastos de capital --projetados em US$ 32 bilhões a US$ 33 bilhões (R$ 165,7 bilhões e R$ 170,9 bilhões) para este ano-- cresceriam entre US$ 34 bilhões e US$ 39 bilhões (R$ 176,1 bilhões e R$ 202 bilhões) no próximo ano. Isso é até US$ 10 bilhões (R$ 51,8 bilhões) a mais do que os analistas esperavam.
O problema da Meta não é um caso isolado, todas as gigantes de tecnologia perderam bilhões nos últimos meses com a crescente perspectiva de recessão em 2023 e a alta dos juros no mundo, vista como negativa para empresas em crescimento como as big techs. A alta do dólar frente às demais moedas também não ajuda. Mas em nenhuma outra gigante de tecnologia americana o estrago foi tão grande.
Ou seja, Facebook e Instagram seguem fazendo muito dinheiro, mas a perspectiva é de piora de receita, já que cinco grandes mudanças criaram uma tempestade perfeita que ameaça o futuro da empresa de Zuckerberg.
Os problemas da Meta e de suas redes sociais não começaram recentemente. Primeiramente, veio a pressão de governos e órgãos reguladores, que impediram a empresa de seguir comprando concorrentes e aumentaram a pressão por mais privacidade.
Enquanto Zuckerberg e seus funcionários gastavam tempo dando explicações sobre suas políticas e decisões, o TikTok aproveitou a brecha para crescer rapidamente investindo bilhões em publicidade e comprando redes sociais concorrentes. Em 2017, a ByteDance, dona do TikTok, adquiriu o Musical.ly por cerca de US$ 800 milhões (R$ 4,1 bilhões), quando tinha 100 milhões de usuários e fundiu as redes.
A aquisição turbinou o crescimento do TikTok no Ocidente, que incorporou a rede e seus usuários. A ByteDance não economizou dinheiro em marketing, investindo bilhões em anúncios, inclusive no Facebook e Instagram. O TikTok segue perdendo dinheiro para crescer e ganhar mercado dos concorrentes.
A ByteDance viu suas perdas operacionais mais que triplicarem no ano passado, para mais de US$ 7 bilhões (R$ 36,2 bilhões) de prejuízo. De acordo com um relatório financeiro revelado pelo WSJ, boa parte desse prejuízo vem de investimentos de marketing, como publicidade e promoções --como pagar aos usuários para usarem o TikTok e outros apps da empresa, como o Resso (de música) e o Helo (um misto de Twitter e Facebook).
O TikTok não é a única pedra no sapato da Meta. Há poucos anos Apple e Meta realizaram negociações secretas para que a rede social pagasse para estar nas plataformas da dona do iPhone. As empresas não chegaram a um acordo, e no ano passado a Apple implementou uma rígida política de privacidade exigindo que os usuários de dispositivos da Apple mudem a configuração padrão para possam ser rastreados para receber publicidade segmentada. Foi o começo de uma guerra que a Apple está vencendo de lavada.
A grande maioria dos usuários, 70% segundo estimativas, não mudou a configuração e o Facebook, assim como desenvolvedores de apps e games, perdeu a capacidade de rastrear seus usuários. Isso fez despencar a eficiência das campanhas publicitárias, o que afetou os ganhos da Meta.
A Apple tem sido investigada por práticas monopolistas em diversas regiões, mas o ataque ao Facebook usando o argumento da privacidade foi um golpe de mestre. Afinal, quem irá dizer algo contra a defesa da privacidade?
Para piorar, esta semana a Apple anunciou que passaria a cobrar 30% do valor investido em impulsionamento de posts dentro dos sistemas operacionais da Apple. Novamente, a grande afetada pela medida foi a Meta, já que o impulsionamento de posts no Instagram e Facebook é uma grande fonte de receitas.
Mark Zuckerberg sabia dos riscos de suas redes sociais e há anos começou a investir no metaverso em uma tentativa de diversificar seus negócios. Atualmente, cerca de 98% das receitas da companhia vem exclusivamente de publicidade.
No ano passado, Zuckerberg até mudou o nome da empresa do Facebook para Meta com o objetivo de destacar a nova ambição do negócio. A ideia seria se afastar dos problemas de moderação de conteúdo, disputas com políticos e privacidade e migrar para algo totalmente novo como o metaverso.
Apenas nos últimos três anos a Meta acumulou US$ 27 bilhões (R$ 139,8 bilhões) em perdas operacionais para investir no metaverso. O problema é que uma minoria das pessoas parece se empolgar com o metaverso. Talvez ele seja o futuro da internet, mas como aconteceu com a internet no passado, ainda precisará de décadas para amadurecer.
A divisão Reality Labs registrou uma queda de 49% na receita em relação ao ano passado, em parte devido às vendas mais baixas do headset de realidade virtual Quest 2. O headset é necessário para que os usuários possam "entrar" no metaverso do Facebook.
O Horizon Worlds, como se chama o metaverso da Meta, conta com menos de 200 mil usuários ativos mensais. A empresa queria ver 500 mil usuários até o final deste ano, segundo o WSJ, citando documentos da empresa.
Segundo o The Verge, mesmo os funcionários da Meta não gostam do metaverso e, portanto, não o usam. Um gerente do Horizon Worlds escreveu em um memorando para seus colegas na companhia: "Atualmente, o feedback de nossos criadores, usuários, testadores e muitos de nós na equipe é que o peso agregado de falhas, problemas de estabilidade e bugs está tornando muito difícil para nossa comunidade experimentar a magia do Horizon".
Não vai ser fácil. De 40% a 70% das pessoas não conseguem passar 15 minutos em realidade virtual sem sentir náuseas, disse um pesquisador à Inside Science em 2019. Soldados dos EUA que testaram o Hololens da Microsoft sofreram dores de cabeça e náuseas, de acordo com relatório recente do Pentágono. A Microsoft, uma gigante de games e dona do Minecraft, estaria frustrada com suas aplicações para o metaverso após anos de desenvolvimento e bilhões em investimentos.
Para coroar a tempestade perfeita, o mundo dá sinais de caminhar para uma recessão em 2023, e as empresas já se preparam para isso, reduzindo os investimentos em publicidade. E mais de 98% da receita da Meta vem de publicidade.
Mas nem tudo está perdido para a Meta. A empresa também é dona do popular WhatsApp, e nada impede que o Facebook e Instagram voltem à vida.
E alguns ajustes podem fazer a empresa reverter seu curso mais rapidamente. O movimento mais agressivo seria Zuckerberg "cair para cima", se tornar presidente executivo e trazer um executivo respeitado como novo CEO. O novo CEO cortaria custos, demitiria pessoas, focaria a empresa nos negócios mais rentáveis e poderia até tentar uma reaproximação com a Apple.
Como aponta Erick J. Savitz na Barons, “a Meta poderia seguir a cartilha da Netflix usada em 2011, quando desistiu dos planos de transformar seu negócio de DVD por correio em uma empresa separada chamada Qwikster. A empresa pediu desculpas e mudou de direção".
A Netflix fez outra grande mudança de estratégia nos últimos meses, quando reverteu sua oposição ferrenha aos anúncios e decidiu oferecer um plano de assinatura suportado por anúncios. As ações da Netflix não param de subir desde a mudança.
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