COLUNA DE MÍDIA
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A chef de cozinha Cândida Batista une sensualidade e culinária nos conteúdos que publica no OnlyFans
Nos últimos dias, um nome recorrente tem aparecido em textos sobre temas relacionados a sexo: OnlyFans. A chef brasileira Cândida Batista se tornou uma espécie de Ana Maria Braga do OnlyFans ao publicar receitas e nudes na plataforma. Já a americana Paige Bauer disse ao Yahoo Lifestyle que está a caminho de ganhar US$ 1,3 milhão no OnlyFans.
Essas e outras notícias sobre pessoas ganhando notoriedade e dinheiro na plataforma chamam a atenção, mas como o OnlyFans está mudando a indústria do sexo e da produção de conteúdo ainda é um tema pouco discutido.
Lançado em 2016, o OnlyFans é um serviço de assinatura de conteúdo que passou a ser dominado por profissionais do sexo. Os usuários pagam para seguir criadores de conteúdo e desbloquear materiais exclusivos. As aplicações para pornografia são bastante óbvias e, ao contrário de plataformas mais "família", como Instagram e Facebook, o OnlyFans abraçou abertamente os criadores de conteúdo adulto.
O serviço oferece aos criadores diversas ferramentas para monetização da audiência, não apenas com diferentes modelos de assinatura, mas maneiras de permitir que os clientes pagantes interajam diretamente com os criadores.
De acordo com uma reportagem recente da Bloomberg, o site deve faturar US$ 2 bilhões neste ano. Impulsionado pela pandemia, o crescimento que era de 200 mil usuários/dia em maio saltou para até 500 mil usuários/dia.
Também cresceu o número de produtores de conteúdo. Hoje, já são mais de 700 mil criadores, que atendem a mais de 50 milhões de usuários registrados. Por mês, o OnlyFans já paga mais de US$ 200 milhões a criadores. Como o site fica com 20% do que é cobrado, isso o coloca no caminho para US$ 400 milhões em receita líquida anual.
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A ex-atriz pornô Mia Khalifa
A industria da pornografia movimenta bilhões por ano, mas historicamente a divisão de receitas sempre privilegiou os donos dos canais de distribuição, com os atores ficando com a menor parte da receita. Um exemplo é o fenômeno pornô Mia Khalifa, que recebeu um total de US$ 12 mil para participar de alguns filmes --uma fração minúscula do que seu conteúdo gerou para distribuidores como o Pornhub.
"Os sites pornôs gratuitos --o principal deles o Pornhub-- fizeram com a indústria pornográfica o que o Facebook e o Google fizeram com a mídia com publicidade. Ao agregar a demanda por pornografia 'gratuita', eles aspiraram toda a receita publicitária que antes mantinha estúdios e distribuidores (para não mencionar as estrelas) no mercado, enquanto destruíam qualquer razão para pagar por seu conteúdo", afirma um ótimo texto sobre o tema no site Margins.
"Você pode comprar uma assinatura de sites como o Pornhub, é claro, mas isso não resolve realmente o problema; é um pouco como comprar uma assinatura do Facebook para ler o jornal. Embora alguns atores e atrizes pornôs tenham conseguido construir marcas pessoais para monetizar seu conteúdo, esse é um processo extremamente difícil."
Basicamente, o OnlyFans criou uma plataforma que, ao oferecer conteúdo exclusivo e a capacidade de interagir com os artistas, bem como uma maneira para os criadores desenvolverem a própria marca, fez com que a audiência voltasse a ter interesse em pagar pelo conteúdo.
E por que isso é revolucionário? Pode parecer simples, mas não é pouco, porque diante da possibilidade de ganhar mais pelo que produzem, os criadores ganham maior controle e independência.
Mas o OnlyFans não se limita à indústria do sexo. O plano é atrair todo tipo de celebridades. Lembre-se que as plataformas sociais começam em nichos: Facebook para estudantes em dormitórios de faculdades americanas, Instagram para fãs de fotos, TikTok para jovens em busca de vídeos divertidos. O OnlyFans começou com a indústria do sexo.
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Cardi B no videoclipe de WAP
Celebridades tradicionais como a cantora Cardi B já aderiram. Em seu primeiro material para o site, postado em 12 de agosto, Cardi B mostrou um vídeo dos bastidores de sua sessão de fotos para a capa da revista Elle. Algumas semanas depois, ela compartilhou imagens da produção de seu videoclipe WAP. A postagem gerou milhares de curtidas no OnlyFans e quase US$ 1 mil em "doações".
A plataforma também planeja criar um novo serviço de streaming chamado OFTV, que apresentará conteúdo exclusivo, como séries voltadas para criadores e entrevistas pessoais com personalidades do OnlyFans. Novos escritórios da empresa na Ásia e América Latina também estão nos planos.
A indústria do sexo é gigantesca. Estima-se que até 20% das pesquisas online sejam sobre pornografia e que 30% do conteúdo na internet verse sobre o tema. Pior, até 88% da pornografia contém violência contra mulheres. Então, uma plataforma como o OnlyFans, que oferece maior controle para os produtores de conteúdo (em sua maioria mulheres) e permite que ganhem mais fazendo algo dentro da lei, deve ser avaliada.
Agora, updates para meus seguidores no Twitter que amam me odiar:
"Embora esperássemos ouvir sobre o investimento acelerado em conteúdo da Disney em seus negócios [direto ao consumidor], o tamanho e a qualidade do tsunami de conteúdo que atingiu a Disney+ foi alucinante e assustador para qualquer empresa de subescala pensando em competir no espaço de entretenimento com roteiro", escreveu o analista Michael Nathanson, da MoffettNathanson. Semanas atrás comentei sobre a subescala do Globoplay e o impacto da Disney+.
A Disney planeja adicionar mais de cem novos títulos ao serviço por ano, e vai estrear dezenas de seus filmes e programas diretamente no online. O Disney+ está crescendo rápido o suficiente para que seus assinantes globais possam chegar a 260 milhões até 2024.
A Netflix atualmente tem quase 200 milhões de assinantes em todo o mundo, mas não está crescendo tão rápido quanto o Disney+. A plataforma novata ultrapassou a previsão anterior da empresa, que esperava atingir entre 60 milhões e 90 milhões de assinantes até 2024.
Aparentemente, a Disney encontrou um caminho. Mas diferentemente da Warner, disse que continuará a colocar seus maiores filmes nos cinemas e não irá seguir a mudança que a Warner Bros. anunciou para simultaneamente lançar todos os seus filmes de 2021 tanto nos cinemas quanto no HBO Max.
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Primeira arte divulgada de Godzilla vs. Kong
Semana passada comentei sobre o risco que a HBO e Warner corriam nas mãos da AT&T por causa da "Síndrome do Netflix". Durante décadas, o usual tem sido lançar os filmes no cinema e semanas depois em outros meios, como DVD e streaming.
Por que os provedores de conteúdo aderem a esse modelo? Basicamente, a bilheteria gera mais receita do que opções diretas ao consumidor. De acordo com a Ark Research, um filme de duas horas lançado nos cinemas monetiza cerca de US$ 4,50 por hora, em comparação com US$ 0,22 por hora na Netflix (os dados se referem ao mercado americano).
Comprar um ingresso para ver todos os 17 filmes da Warner Bros. programados para serem lançados nos cinemas --que incluem Matrix 4, The Suicide Squad, Dune e Godzilla vs. Kong-- provavelmente custaria US$ 160 (ou mais de US$ 250, se você morar em Nova York). Se assinar o HBO Max, você poderá acessar todos esses filmes --além da biblioteca inteira da WarnerMedia-- por US$ 180 ao ano. E ainda pode dividir a assinatura.
A AT&T, dona da Warner Bros., é um conglomerado de telecomunicações e todo esse movimento está relacionado ao valor das ações da empresa na bolsa. Se a Warner Bros. morrer pelo caminho, mas o valor do conglomerado aumentar com mais assinantes de planos de telefonia para assistir ao HBO Max, por exemplo, a estratégia foi bem-sucedida. São custos do negócio.
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