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DESAFIOS DA PANDEMIA

Dublagem de filmes e séries é retomada com custos mais altos e novas regras

FOTOS: DIVULGAÇÃO/DELART

Montagem de fotos com profissional paramentado fazendo higienização em estúdio da Delart, no RJ

Estúdios da Delart, no Rio de Janeiro, passaram por higienização e sofreram adaptações antes de reabrirem

VINÍCIUS ANDRADE

Publicado em 15/5/2020 - 5h43

Um dos setores afetados pela pandemia, a dublagem vai aos poucos tentando se adaptar à nova realidade imposta pelo coronavírus. Alguns estúdios voltaram a funcionar nas últimas semanas, mas com regras e cuidados que aumentaram tanto os custos quanto o tempo de produção para finalizar o processo de colocar voz em filmes e séries.

Antes da reabertura, os estúdios passaram por uma higienização, feita por empresas regulamentadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Também foram necessários investimentos em materiais de limpeza e mudanças na estrutura e até na dinâmica de trabalho, na tentativa de proteger os profissionais envolvidos.

Na Delart, um dos estúdios mais tradicionais do Brasil, com clientes como Netflix, Amazon, HBO, Warner, Paramount, Sony e Paris Filmes, o retorno ao trabalho aconteceu em 27 de abril após 40 dias de paralisação. "O nosso custo aumentou, foi necessário aumentar bastante os gastos com material de limpeza e segurança", explica Fabio Nunes, gerente de produção da empresa, ao Notícias da TV.

"A lista de itens comprados inclui álcool gel 70%, máscaras, toucas, luvas, sabonetes bactericidas, sprays de álcool 70% para microfones e equipamentos, protetores de sapatos, capas descartáveis, protetores de fone, purificadores, protetores de assentos sanitários, substituição de scripts impressos por tablets e novas bancadas de acrílico em cada estúdio de gravação para facilitar a limpeza", lista ele.

"Instalamos também placas de acrílico nos estúdios de gravação para separar o diretor do técnico de gravação, assim como na recepção", destaca Nunes.

Antes da pandemia, os dubladores chegavam a dividir o mesmo estúdio ou então gravavam um na sequência do outro, para otimizar o tempo. Agora, existe um intervalo de ao menos 15 minutos no uso do ambiente entre um profissional e outro.

"Estamos fazendo intervalos de 15 minutos entre um e outro para ser realizada a higienização completa. O tempo necessário para a finalização de uma dublagem aumentou em cerca de 50% por conta de todas as medidas de segurança", diz o gerente de produção.

Uma dinâmica semelhante foi adotada na All Dubbing, estúdio no Rio de Janeiro que também presta serviços para grandes distribuidoras, streamings e canais de TV. De acordo com a CEO Ana Lúcia Motta, as atividades foram retomadas após uma higienização completa e criação de novas regras.

"Agora, depois que um dublador usa o estúdio, a gente precisa fazer uma higienização completa e tem 30 minutos de diferença entre um dublador e outro, pra que a limpeza faça efeito. Um filme que demorava três dias pra ser dublado, agora demora até duas semanas", ressalta a empresária.

Proteções em acrílico, reforço em materiais de higiene e mudanças no estúdio da Delart

Um dos problemas para os estúdios é que grandes trabalhos de filmes, séries e documentários não podem ser feitos em casa, por conta da qualidade. Além do dublador, a gravação envolve diretor e técnico. Também há serviços de pré e pós-produção, que envolvem a separação do texto, tradução e mixagem.

"A maioria dos dubladores não possui equipamentos e estrutura mínima para dublar de casa. Praticamente 80% dos dubladores não teriam essa capacidade. Os próprios clientes sabem disso e rejeitam, em sua grande maioria, a dublagem caseira. Desde o começo, essa situação toda foi discutida com nossos clientes para sabermos como proceder em cada produção", diz o gerente da Delart.

Prejuízos financeiros

Alguns contratantes optaram por cancelar trabalhos durante a paralisação, enquanto outros mantiveram os acordos para que o processo fosse feito depois do retorno aos estúdios. "O prejuízo foi alto. Tivemos, sim, trabalhos cancelados, incluindo, por exemplo, uma temporada de uma série que já estreou na TV e o cliente desistiu de dublar", revela Fábio Nunes.

"A Delart dubla produções para cinema também, e a maioria dos filmes desse ano foi adiada para o ano que vem, isso causou um grande impacto. Infelizmente o público ficou sem muitas produções dubladas durante essa crise. Especialmente nesse período em que é solicitado para que as pessoas fiquem em casa, a dublagem tornou-se ainda mais essencial", ressalta ele.

Apesar do aumento nos custos de produção e dos prejuízos dos últimos dois meses, os estúdios consultados pela reportagem não pensam em aumentar os valores cobrados aos clientes. A chefe da All Dubbing explica que um dos motivos para isso é que maior parte dos trabalhos é remunerada em dólar, que está valorizado frente ao real atualmente --US$ 1 vale R$ 5,81 na cotação atual.

"Minha empresa tinha projetos em andamento, que precisaram ser paralisados. A maioria dos nossos clientes está aguardando esse retorno e não cancelou os trabalhos, pois sabe que isso atingiu todo mundo. Tivemos dificuldades para fazer alguns pagamentos porque não entrava dinheiro em caixa, mas foi com todo mundo isso", diz ela.

Uma das empresas contratantes dos serviços de dublagem, a Netflix já lançou produções nos últimos meses sem vozes em português, como o filme Coffee & Kareen, que estreou em 3 de abril apenas legendado, mas agora já está disponível com a versão nacional.

Já produções como a segunda temporada de Disque Amigas Para Matar e a série documental Condenados Pela Mídia estão sem dublagem até o momento.

"Muitos estúdios de dublagem estão fechados devido à Covid-19, o que resulta em um atraso para algumas dublagens em alguns de nossos novos títulos. Nossa prioridade é a saúde e a segurança de todos os envolvidos. Esperamos disponibilizar essas dublagens em breve", justifica a Netflix, em nota.

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