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COLUNA DE MÍDIA

Dragões retornam à HBO com missão de salvar o canal de dívida bilionária

DIVULGAÇÃO/HBO MAX

Cartaz da série A Casa do Dragão, da HBO

Milly Alcock em cartaz de A Casa do Dragão; série HBO pode ajudar a salvar o canal ameaçado

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 20/8/2022 - 6h40

A Casa do Dragão, uma sequência de Game of Thrones (mas que na verdade é uma prequel da série de maior sucesso da HBO), estreia neste domingo (21) ao canal e também em sua plataforma de streaming. O drama que chega às telas, notório pelas disputas de poder e destruição em massa, parece pálido em comparação aos conflitos que acontecem nos bastidores da Warner Bros. Discovery, empresa dona da HBO.

Na última semana, a companhia anunciou que cortaria 14% de seus empregados, demitindo 70 pessoas na empresa. Essa seria apenas a primeira onda de uma série de cortes previstos para os próximos meses. 

A notícia chega após a saída de lideranças, um massivo cancelamento de produções como o filme Batgirl e o crescente sumiço de conteúdos originais na plataforma. Os programas de Ivete Sangalo, Sandy e Angélica foram retirados da HBO Max.

Filmes originais também estão sumindo. Segundo a Variety, mais 36 produções serão retiradas do ar em uma nova leva de cortes. "Embora a HBO Max tenha removido vários títulos nas últimas semanas, incluindo vários filmes da Warner Bros. e programas de TV da HBO, como Camping [2018], Vinyl [2016], Mrs. Fletcher (2019) e Run (2020), o último anúncio representa a maior quantidade de títulos a serem retirados do serviço". 

Além disso, 20 programas originais da HBO Max serão limados da plataforma, incluindo o drama adolescente Generation (2021), a série antológica animada Infinity Train (2019), o reality show de namoro 12 Dates of Christmas (2020) e o spinoff de Vila Sésamo.

Dívida bilionária

Os cancelamentos de produções se explicam por um mecanismo de benefício tributário dos Estados Unidos. Ao cancelar Batgirl, a Warner Bros. Discovery pode declarar a produção como prejuízo e usar um benefício fiscal no futuro, reduzindo a dívida da empresa. Batgirl já teria custado US$ 90 milhões. 

Ao não seguir com o projeto, além do benefício fiscal, a empresa evita gastar outra centena de milhares de dólares com refilmagens e verba de marketing para divulgação. A mesma lógica se aplica às demais produções canceladas. 

Os cortes em produções e cancelamentos já seriam superiores a US$ 1 bilhão. A empresa tem até este mês como prazo limite para cancelar os produtos e usar o benefício fiscal. 

Após a Discovery concluir a compra da WarnerMedia no início deste ano, a nova entidade herdou uma dívida de US$ 55 bilhões. E essa gigantesca dívida é a chave para entender o futuro da HBO e os crescentes riscos para para algumas das produções mais amadas do mundo.

Crise do streaming

A compra da WarnerMedia pela Discovery foi anunciada em maio de 2021. Eram os anos loucos do streaming. A Netflix disparava na bolsa, a WarnerMedia anunciou que lançaria seus filmes simultaneamente no streaming e nos cinemas e o volume de produções e investimentos cresceu assombrosamente, superando R$ 1 trilhão, 14% a mais que em 2020, segundo dados da consultoria Ampére.

Tudo ia bem até o final de 2021, quando os países começaram a anunciar o aumento da taxa de juros pelo mundo. O dinheiro emprestado a taxas baixíssimas e que era usado para alimentar o crescimento dessas empresas desapareceu.

Os investidores, cada vez mais temerosos com uma recessão global, passaram a cobrar lucro das empresas. A Netflix foi a primeira a atender ao pedido do mercado. Congelou investimentos em produções e aumentou o valor das assinaturas.

O resultado das mudanças apareceram no primeiro trimestre deste ano. A Netflix pela primeira vez perdeu assinantes em sua história. Foram 200 mil a menos. No segundo trimestre o número piorou. A empresa perdeu 1 milhão. O número, apesar de negativo, chegou a ser comemorado, já que a empresa projetava perder 2 milhões.

Boleto mais caro

Quando os investidores viram a líder do setor perdendo assinantes tão rapidamente, o desespero tomou conta do mercado. A Netflix chegou a perder mais de 70% do valor de suas ações na bolsa.

Enquanto isso, a Warner Bros. Discovery, que havia anunciado a fusão em maio de 2021 e concluiu a compra apenas em abril deste ano após aprovação dos órgão reguladores, se viu diante de um cenário completamente diferente do que havia imaginado.

A dívida que no passado parecia aceitável, neste ano tornou-se um risco crescente. Com o mercado cada vez mais desconfiado da capacidade de crescimento das plataformas de streaming e o risco de recessão em 2023, os bancos e investidores passaram a exigir o pagamento de juros muito mais altos. 

A Warner Bros. Discovery vive o mesmo problema das pessoas que precisam pagar uma dívida parcelada e o valor do carnê começa a subir muito mais rápido que o salário do mês. A saída para ambos é semelhante: ganhar mais, cortar custos, deixar de pagar ou pegar mais dinheiro emprestado.

Fim da HBO?

Até o ano passado, pegar mais dinheiro emprestado não era um problema para a Warner Bros. Discovery. Como a taxa de juros só caía, o dinheiro que ela pegava emprestado era mais barato do que o dinheiro que ela já devia. Além disso, o crescimento do número de assinantes era uma garantia de que o futuro seria melhor que o passado.

Isso explica a empresa ter anunciado que irá fundir o HBO Max e o Discovery+ em uma única plataforma de streaming e, inclusive, estuda uma versão gratuita, com menos conteúdo, suportada por publicidade. A Netflix e a Disney+ anunciaram o lançamento de planos mais baratos com publicidade nos próximos meses. No caso da Netflix, por exemplo, não será possível fazer o download de conteúdos.

Esse semana a Warner Bros. Discovery também concluiu a venda do controle do canal CW Network para a Nexstar. O novo dono não receberá praticamente nada em dinheiro, mas assumirá a dívida da CW, que nunca deu lucro apesar de sucessos como Riverdale, Supernatural e o Arroverse.

Casamento vermelho

No episódio Casamento Vermelho de Game of Thrones, acontece um grande massacre. A carnificina foi ainda pior por se tratar de uma quebra da tradição de hospitalidade. No mundo real algo semelhante acontece com a Warner Bros. Discovery, porque a promessa inicial de investir em conteúdo de qualidade se transformou em uma chacina da HBO e suas produções tradicionalmente associadas à qualidade. 

Mas a empresa tem poucas alternativas. Se quem empresta dinheiro acreditar que a Warner Bros. Discovery não tem capacidade de pagar sua dívida, as taxas de juros dos empréstimos vão disparar, e ela não conseguirá pagar suas contas. E os números não são animadores. Ao anunciar os resultados do trimestre no início do mês, a empresa prevê para 2023 uma queda de US$ 2 bilhões em seus lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. 

A WBD, apesar de todos os seus grandes ativos, está em um lugar especialmente difícil por causa de sua situação financeira. A Disney tem a maior parte dos lucros vindo de parques e resorts. O Prime Video existe para atrair compradores para a Amazon. O Google vende publicidade no YouTube e a Apple TV+ ajuda a vender os telefones e computadores mais caros do mundo.

A Netflix também não está em uma posição fácil, mas indiscutivelmente se tornou uma marca globalmente conhecida e é sinônimo de streaming. A recém-lançada série Sandman também prova que a empresa ainda é capaz de produzir obras relevantes. A HBO deve chegar à maior parte da Ásia somente em 2024.

Dragões podem salvar a HBO

O sucesso de uma série talvez nunca tenha sido tão importante para a HBO. Se House of the Dragon for um fenômeno de audiência, ajudará a WBD a mostrar que pode seguir relevante mesmo cortando custos e pessoas.

Game of Thrones e as decisões para produzir House of the Dragon são anteriores à atual gestão da Warner Bros. Discovery. Mas a nova aposta da HBO é que pode fazer mais com menos. Se a produção flopar, será menos com menos. E isso pode mudar os rumos do streaming.

Se a WBD for bem sucedida em aumentar seus lucros com menos produções e menores custos, é difícil imaginar que os concorrentes não sigam a fórmula.


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