Nova plataforma
Divulgação/Netflix
A atriz Krysten Ritter na segunda temporada de Jessica Jones; série da Marvel deve sair da Netflix
JOÃO DA PAZ
Publicado em 27/7/2018 - 5h59
Atualizado em 27/7/2018 - 11h38
Uma das maiores negociações da história do entretenimento chegou ao fim nesta sexta (27). Os acionistas do grupo 21st Century Fox aprovaram a venda de boa parte da empresa para a Disney, por US$ 71,3 bilhões (R$ 266 bilhões). A transação, que engorda as contas bancárias do magnata Rupert Murdoch, pode impactar diretamente no seu bolso.
No carrinho de compras da Disney estão os estúdios de televisão e de cinema da Fox e canais pagos importantes, como FX e National Geographic (além de maior participação no controle da plataforma Hulu e de centenas de canais internacionais).
O diretor-executivo do grupo Fox, John Nallen, falou aos seus acionistas que a fusão deverá ser finalizada por completo no primeiro semestre do ano que vem.
A Disney desejou tanto a Fox que elevou a oferta inicial em 36% após a Comcast, maior operadora de TV a cabo dos Estados Unidos, atravessar o negócio. Durante a reunião dos acionistas da Disney, também nesta sexta, um investidor disse que a empresa está pagando um preço muito alto pela Fox.
Tanto dinheiro tem um único objetivo: criar uma plataforma de streaming tão poderosa (ou maior) que a Netflix, prevista para ser lançada no ano que vem. Aí entra o primeiro impacto no bolso do consumidor. Ele terá de assinar mais um serviço de video on-demand, o da Disney, para ver séries, filmes e documentários que já assiste na Netflix ou em outras plataformas.
"Essa aliança irá resultar em menos escolhas e altos preços para o público", disse o principal analista da eMarketer, Paul Verna, para a revista Forbes. "Isso porque a propriedade de conteúdo e distribuição ficará muito concentrada debaixo de um único teto."
Em artigo acadêmico, o presidente do setor de tecnologia da universidade UC Davis, Hermant Bhargava, ressaltou que o consumidor que quiser ter em suas mãos uma grande variedade de conteúdo terá de ser assinante de mais de um serviço de streaming. "Uma das coisas mais temidas pelas pessoas é a excessiva concentração de mercado", destacou Bhargava.
Destrinchando em miúdos, a Disney terá debaixo de seu guarda-chuva uma variedade de conteúdo que realmente ameaçará a supremacia da Netflix no streaming.
Os estúdios de cinema que farão parte da nova Disney concentram metade da bilheteria do cinema norte-americano neste ano. A plataforma de vídeos terá toda a franquia Star Wars, filmes da Marvel (todos os X-Men), animações da Pixar (como Toy Story, Os Incríveis), entre outros.
divulgação/fox
David Duchovny e Gillian Anderson em Arquivo X; episódios antigos da série saíram da Netflix
No mundo das séries, a Disney terá desde atrações cults (Arquivo X) a dramas atuais (This Is Us). Ainda contará com séries que jamais produziria por terem um conteúdo mais adulto, como a comédia Modern Family e a animação Os Simpsons. Além, claro, das produções teen de sucesso, como Hannah Montana (2006-2011) e As Visões da Raven (2003-2007).
Desfalque na Netflix
Desde o ano passado, a Disney está retirando aos poucos seu conteúdo da Netflix, para montar o acervo de seu novo serviço de streaming. Segundo analistas de mercado, ainda não foi definido o que será feito com as séries da Marvel na Netflix, como Demolidor e Jessica Jones, que são produzidos pelos estúdios da ABC. Tanto a ABC quanto a Marvel fazem parte do grupo Walt Disney.
Séries populares que a Netflix distribui e são da ABC, como Grey's Anatomy e How to Get Away with Murder, vão migrar de plataforma. Assim como produções da Fox, tanto do cinema quanto para a TV, que gradativamente sairão do serviço. A comédia How I Met Your Mother, querida pelos fãs, não se encontra mais na Netflix.
Concorrência boa?
A plataforma da Disney será, de fato, uma boa opção para quem quer conteúdo de qualidade e vasto no streaming. Diferentemente do Prime Video, da Amazon. Embora tenha séries excelentes, como Mr. Robot, The Good Wife e The Man in the High Castle, fora as premiadas Transparent, The Marvelous Mrs. Maisel e Mozart in the Jungle, o cardápio de filmes é fraco, como se fosse uma locadora empoeirada.
Resta saber se o grande público, que cada vez mais foge dos caríssimos boletos da TV paga, estará disposto a gastar com dois serviços de streaming de alto nível.
O que interessa no plano macro é que, somadas as dívidas da Fox assumidas pela Disney, a empresa do Mickey Mouse pagará quase o dobro do que o grupo de Murdoch valia há dois anos. Tudo para fechar o negócio.
No final das contas, o analista Paul Verna decreta: "Essa aquisição é sobre a família Murdoch sacar [uma boa grana] e a tentativa da Disney de assegurar o futuro do seu império".
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