RGBLACK
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Cartão Shirley da década de 1940 e versão atualizada pelo RGBlack; diretora recria padrão da indústria
A indústria fotográfica conta com um registro racista em sua história: a utilização dos cartões Shirley, produzidos a partir da década de 1940. Mesmo com o avanço da tecnologia, este padrão foi perpetuado ao longo dos anos e impacta o trabalho de profissionais como a diretora Juh Almeida. Por isso, a cineasta decidiu recriar este modelo e atualizá-lo com a diversidade e a pluralidade da população negra.
"[No século passado,] Se fosse uma pessoa negra na foto, ela não ia sair porque o padrão que estava ali a ser seguido era propício apenas para pessoas de pele branca. Além do apagamento das pessoas de pele negra, isso queria dizer que elas não tinham como serem fotografadas, que não eram importantes", pontua a profissional em entrevista ao Notícias da TV.
Junto com a agência AKQA e a Pródigo Filmes, Juh lançou o movimento RGBlack (Retratando a Grandeza da Pele Negra, em inglês). O projeto visa incentivar o debate sobre o viés racial na indústria audiovisual e, para começar esta mudança, teve que voltar no tempo até o século 20.
Na década de 1940, os cartões Shirley foram implementados como o padrão de cores e tons de peles na indústria fotográfica. Composto apenas com registros de pessoas brancas, o modelo fez com que as imagens na qual negros estivessem presentes ficassem sem nitidez durante o processo de revelação. Assim, eles eram apagados dos registros.
Oitenta anos se passaram e, segundo Juh, mesmo com o avanço da tecnologia, o modelo implementado pelos cartões Shirley ainda impacta os registros com pessoas negras. "Existe um estudo para entender qual luz funciona para qual pele junto com a maquiagem. Ela chega como uma aliada dos fotógrafos, que buscam entender o caminho para chegarem em um nível de exposição no qual eles não acinzentem essas peles negras", detalha.
É algo tão sutil que só sente [quem passa por isso]. As modelos falam que não gostam de muitas fotos tiradas por fotógrafos brancos porque sempre acinzentam as suas peles, não pegam o tom da pele que é de fato, ainda mais quando é uma modelo retinta. Então, tem uma coisa ali que é uma transmissão de mensagem muito psicológica, sutil, que dita a dominação da pele branca como padrão em todos os departamentos da imagem. É uma cartilha silenciosa que existe.
Por isso, o movimento recriou os cartões Shirley com modelos negras. Assim, torna-se possível o desenvolvimento de um padrão universal que também integre esta diversidade.
"Hoje em dia, já temos fotógrafos que entendem que certos tipos de luzes não funcionam com certos tipos de pele. Temos o diretor do Moonlight [longa de 2016 dirigido por Barry Jenkins e vencedor do Oscar de melhor filme] que fez um estudo muito profundo no qual viu que alguns tons de iluminação, puxando para o roxo, azul e verde-água ajudam a expor melhor o tom da pele", relata.
Além desta iniciativa, o projeto pretende estimular a transformação cultural e tecnológica sobre o retrato dos negros no audiovisual. "Nós, que trabalhamos com criação, temos uma responsabilidade. O que a gente cria hoje fica para a história. Esses filmes acabam ditando o imaginário que abrange o coletivo. Então, se não temos cuidado com as imagens que estamos criando hoje, vamos seguir perpetuando esse racismo", reflete Juh.
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