Acusado de espalhar fake news, Kwai inventa nova internação de Fausto Silva

O Kwai, patrocinador do BBB 24, inventou que Fausto Silva estaria novamente internado. Ao contrário do que a plataforma disse aos usuários na última semana, o apresentador encontra-se bem e em casa, enquanto se recupera do transplante de coração realizado no ano passado. A situação ocorre em um momento delicado para a companhia, que está sendo investigada pelo Ministério Público após a acusação de ter supostamente pago empresas para produzirem fake news que viralizassem entre os usuários.

Questionada pelo Notícias da TV, a empresa chinesa disse que houve um "erro técnico" no sistema, atualmente em processo de correção.

A disseminação da fake news com o nome do apresentador pela plataforma teve início com o envio da notificação "Faustão grava vídeo no hospital e fala do estado de saúde". Ao clicar, o usuário era direcionado para um vídeo com trechos de uma reportagem da Record News sobre a internação do veterano ocorrida em agosto de 2023, quando ele passou pelo transplante.

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Cerca de uma hora depois, uma nova notificação foi enviada aos usuários. Nesse caso, a mensagem dizia "Faustão está internado novamente". Quem clicasse veria uma reportagem da CNN Brasil de setembro de 2023, quando o apresentador tinha sido internado às pressas para novos exames.

Nas duas ocasiões, o conteúdo jornalístico original não havia sido divulgado pelas emissoras, mas por outros perfis na plataforma. E engana-se quem pensa que disseminar fake news se resume a publicar informações falsas. Reproduzir conteúdos fora do contexto temporal também se enquadra em prática incorreta.

Além do susto nos fãs de Faustão, uma das possíveis consequências dessa fake news pode ser identificada no Google Trends, ferramenta que monitora os principais temas em alta na internet. Na última terça (23), as buscas do termo "Faustão morreu" registraram um aumento superior a 50%. Nos últimos 30 dias, as frases "Faustão está internado" e "Faustão internado" apresentaram um crescimento de 250% e 170%, respectivamente.

Questionado pelo Notícias da TV, o Kwai admitiu que o conteúdo veiculado é antigo e disse à coluna que o sistema de notificações do aplicativo passou por um "erro técnico", atualmente em processo de correção. Confira o posicionamento na íntegra:

O Kwai esclarece que o conteúdo em questão é antigo e que as notificações citadas se tratam de um erro técnico do sistema, atualmente em processo de correção. O app tem como prioridade construir e manter uma comunidade respeitosa, saudável e harmoniosa --que esteja de acordo com seus Termos de Serviço para todos os usuários. Por meio dessa premissa, reforça seu compromisso contra a propagação de notícias falsas, ressaltando a importância da veracidade nas informações compartilhadas.

reprodução

Notificações do Kwai com fake news sobre Faustão

Dilema no aplicativo

No final de 2023, Claudine Bayma, diretora-geral do aplicativo no Brasil, conversou com o Notícias da TV e, na ocasião, reforçou o interesse da plataforma em expandir sua atuação no território nacional, com direito a fortes iniciativas de patrocínio nos realities A Fazenda e Big Brother Brasil.

"Com os investimentos nos produtores e nos comerciantes locais, queremos fomentar a economia, pois a empresa tem esse olhar para o Brasil, que somos um país importante para o negócio", destacou a executiva na ocasião ao explicar que o Brasil é um dos maiores mercados da plataforma fora da China e que, ao longo dos últimos anos, mais de R$ 250 milhões foram investidos no programa de parceria com criadores de conteúdo brasileiros.

Contudo, o clima positivo foi por água abaixo na virada do ano, quando a Revista Piauí publicou uma reportagem em que acusa a plataforma de pagar por "conteúdos desonestos" e falsos em busca de audiência --inclusive durante as eleições presidenciais de 2022.

O aplicativo de vídeos curtos tem 48 milhões de usuários ativos no Brasil segundo a ComScore, o dobro de usuários ativos do X (antigo Twitter). Além do número expressivo de usuários, o aplicativo conta com forte penetração entre pessoas mais velhas, das regiões Norte e Nordeste e do público de classe C e D.

Em São Paulo, é comum ver pessoas no metrô consumindo os vídeos do aplicativo, tendo em vista que ele permite que o usuário baixe os vídeos enquanto está on-line e os assista quando está sem internet.

À Piauí, o Kwai disse que não havia recebido nenhuma evidência das informações publicadas pela reportagem e que não comenta processos ou decisões judiciais em andamento. Com a repercussão negativa da reportagem, o Ministério Público Federal abriu um inquérito para apurar a conduta do aplicativo.

Após a publicação da Piauí, o Notícias da TV conversou com fontes em empresas de tecnologia, e todas opinaram negativamente sobre a plataforma. No mercado, também começaram a repercutir comentários de ex-colaboradores da empresa chinesa que teriam confirmado as práticas denunciadas na revista --os autores dessas mensagens não foram localizados pela coluna.

Contudo, uma fonte atuante no mercado das empresas de tecnologia argumentou à coluna que os ex-funcionários do Kwai têm receio de repercutir abertamente o caso devido ao contrato de confidencialidade, que é padrão no mercado. Por exemplo, um analista júnior dessas empresas precisa assinar um documento de sigilo profissional com mais de 60 páginas antes de iniciar o trabalho.

Com esse cenário à vista, a plataforma deve enfrentar um 2024 delicado para seguir crescendo no Brasil. Resta saber se ações como o patrocínio no BBB ou o êxito das mininovelas será suficiente para limpar a barra do Kwai.