TENTATIVA DE CENSURA
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Pedro (Daniel Pimentel) em cena do filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017)
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Publicado em 16/3/2022 - 20h28
Atualizado em 16/3/2022 - 22h12
Em meio às críticas ao filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017), Luciana Pimentel classificou os ataques como "oportunismo". A advogada e funcionária pública é mãe do ator Daniel Pimentel, protagonista do longa baseado no livro de Danilo Gentili.
"É arte! É um lugar que dá emprego, foi uma produção super legal. Agora, gostar ou não gostar do filme é outra coisa. Achei muito exagerado. Li em algum lugar que O Poderoso Chefão [1972] matou tanta gente, como é que é? Aí não pode? É muito óbvio, acho de mau gosto e muito oportunista [essa repercussão]", opinou Luciana em entrevista ao Notícias da TV.
Para a advogada, os ataques são um "tiro no pé" dos próprios críticos pois, depois da repercussão, o longa entrou na lista dos filmes mais vistos da Netflix no Brasil. Além disso, Luciana destacou que o debate deveria ser feito em torno da política de classificação indicativa, e não do filme em si.
"Independentemente de partido, não trabalho com político de estimação e esse presidente [Jair Bolsonaro] não é o presidente em que votei. Estou vendo uma esculhambação, uma palhaçada. Ano eleitoral, as coisas ficando para trás, a Ucrânia pegando fogo, e aí, por causa de uma cena [toda essa repercussão]? Achei tolo e acho que foi até um tiro no pé. De repente, tá no Top 3 da Netflix e recebo um monte de mensagens: 'É o filme do Dani? Vou assistir'. As pessoas começaram a assistir", prosseguiu.
Estou achando isso uma coisa tão... Tantos comentários, mensagens de ódio. A gente tem funk tocando na rua de madrugada com letras e coreografias horrorosas, mas será que este filme é que está fazendo apologia a alguma coisa?
Luciana explicou que teve acesso ao roteiro antes das filmagens e que não se incomodou com o que leu. "Autorizei porque, de fato, não vi nada demais naquilo. Teve supervisão, sempre acompanhados. Era um set com muitas crianças. Na época, tivemos uma estreia sem crianças, porque elas não puderam ver o filme por causa da classificação indicativa", relembra.
"Recebi mensagens dizendo que vão me processar criminalmente junto com o Danilo [Gentili] por ter exposto meu filho, mas não levo isso como ameaça. Numa quarta-feira de tarde, uma pessoa estar se preocupando em me processar criminalmente por uma cena de um filme que meu filho fez há cinco anos? Está faltando muito assunto", provocou a advogada.
No domingo (13), uma cena do longa baseado no livro homônimo de Danilo Gentili irritou os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Nas imagens, o personagem Cristiano (Fábio Porchat) tenta abusar dos adolescentes Bernardo (Bruno Munhoz) e Pedro (Daniel Pimentel), mas não consegue.
"Vamos esquecer isso tudo, deixar isso de lado? A gente esquece o que aconteceu e, em troca, vocês batem uma punheta para o tio", sugere o vilão, que coloca a mão de Bernardo em seu pênis na respectiva cena.
No Twitter, Mario Frias, secretário especial da Cultura, disse que o filme é uma "explícita apologia ao abuso sexual infantil" e uma "afronta às famílias e às nossas crianças". Anderson Torres, ministro da Justiça e Segurança Pública, afirmou que determinou "providências cabíveis para o caso" à pasta.
Na terça-feira (15), o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a censura do filme nas plataformas de streaming. Caso as plataformas não cumprissem a determinação, seria cobrada uma multa diária de R$ 50 mil. O longa segue disponível na Netflix, no Globoplay e no YouTube.
Na quarta-feira (16), a pasta tomou uma nova decisão e mudou a classificação etária do filme de 14 para 18 anos.
Questionado pelo Notícias da TV, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que a reclassificação da obra ocorreu após uma "análise técnica".
Confira o posicionamento na íntegra:
A classificação indicativa não censura obras audiovisuais e faz parte da política de proteção à criança e ao adolescente. A definição da faixa etária passa por uma análise técnica, que leva em consideração três pontos centrais: cenas ou contextos de sexo ou nudez, uso de drogas ilícitas e violência e é dever do Ministério realizar a revisão ou classificação.
Já o processo administrativo instaurado leva em consideração a necessária proteção da criança e adolescente como consumidor, conforme o artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor e está dentro das competências do Ministério.
Netflix e YouTube informaram que não se manifestarão sobre o caso, e o Globoplay afirmou que não retirará o longa da plataforma, pois entende esta determinação como censura.
Em entrevista ao programa Morning Show, da Jovem Pan, Gentili acusou os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro de tentarem derrubar o trabalho feito por ele e seus colaboradores.
"A cena em questão é exatamente sobre uma pessoa que se apresenta como o melhor aluno da escola, que seria uma autoridade, pedindo coisas abjetas e absurdas para os alunos, que não obedecem ao cara só porque ele é uma autoridade. Então, na verdade, em momento algum o filme faz apologia à pedofilia. O filme vilaniza a pedofilia", disparou o apresentador do programa The Noite.
Em nota enviada ao jornalista Leo Dias, do Metrópoles, Porchat reforçou que a obra é uma ficção e que não faz apologia à pedofilia.
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