Livro escrito na 'força do ódio' vira filme sobre mãe que teve filhas sequestradas

Lizbeth Meredith se tornou um símbolo da luta contra a violência doméstica. Em 2016, a autora norte-americana decidiu canalizar seus sentimentos negativos em Pieces of Me: Rescuing My Kidnapped Daughters. O livro narra sua jornada para recuperar as filhas, raptadas por seu ex-marido em 1994. A obra foi introduzida ao campo audiovisual e inspirou Sequestradas pelo Pai, filme produzido neste ano pelo canal Lifetime.

O longa-metragem acompanha os esforços de Lizbeth para reencontrar suas filhas --Marianthi, com seis anos na ocasião, e Meredith, com quatro. Após dar fim ao relacionamento de quatro anos que mantinha com Gregorio, o ex-parceiro sequestrou as duas crianças e as levou para a Grécia, seu país de origem.

A autora só recuperou as filhas novamente em 1996, dois anos após o sequestro. Nesse período, Lizbeth passou por reuniões com membros da Casa Branca e enfrentou o sistema judicial da Grécia. Devido a complicações legais, ela acabou detida pela política grega em 1995.

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"Eu comecei a escrever o livro porque eu estava com raiva", explica Lizbeth em entrevista ao Notícias da TV. "Quando minhas crianças voltaram da Grécia, eu tinha 31 anos. Eu estava devastada financeiramente e de outras maneiras também. Mas eu sabia que era uma história interessante e isso facilitou o meu processo de cura".

No livro, Lizbeth relembra aspectos de sua infância. Quando criança, a autora testemunhou o casamento tóxico de seus pais e foi raptada por sua mãe. Durante o período em que esteve longe do pai, ela sofreu diferentes agressões que partiam pela matriarca.

"Quando eu era mais nova, eu dizia: 'Eu nunca vou expor minhas crianças ao divórcio, violência doméstica ou sequestro'. Alguns anos depois, me encontro na Grécia procurando pelas minhas filhas", comenta.

Na época em que suas herdeiras foram sequestradas, Lizbeth se sentiu frustrada por não ter conseguido impedir que as filhas presenciassem cenas de abuso doméstico. Ao denunciar o rapto das meninas, a autora ainda precisou lidar com o despreparo policial.

"Foi aterrorizante. Naquela ocasião, estávamos começando a falar sobre violência contra a mulher nos Estados Unidos. Policiais não tinham tanto treinamento para esses casos", conta.

O reencontro com as filhas foi marcado por turbulências. Como forma de se vingar do divórcio, o ex-marido de Lizbeth manipulou as crianças e as fez acreditar que a autora havia abandonado a família. Aos poucos, com a ajuda de um suporte psicológico, a conexão entre elas foi reconstruída. "Não é [uma relação] perfeita, mas é maravilhosa. Temos medo de perder umas as outras".

Atualmente, Lizbeth revela que suas filhas não têm mais contato com o pai. No início de suas vidas adultas, Marianthi e Meredith tentaram reconstruir uma ponte com Gregorio. No entanto, o grego rejeitou a relação e optou por se manter distante da antiga família.

"Eu insisti para que elas aceitassem o encontro, mas deu tudo errado. Desde então, elas têm o controle de suas próprias vidas", pontua.

O apoio de suas amizades

Vinda de um lar abusivo, Lizbeth não teve os melhores exemplos familiares. Desde que criou coragem para dar fim ao seu casamento até a sua jornada para recuperar as meninas, a autora contou com o apoio de amizades e colegas de trabalho.

"O que precisamos para ter resiliência? Se você não tem influência, dinheiro ou família próxima, como eu não tinha na época, é difícil superar esses grandes problemas. Mas você ainda pode ter esperança", reconhece. "Filhos te motivam a fazer grandes coisas, mas não sozinho".

"O primeiro passo é ter apoio. Você precisa saber que você vale a pena. Ter ajuda e ser ouvida são passos para facilitar. Mas não é fácil. Algumas vezes, ir embora de imediato não é opção mais segura", alerta.

Sequestradas pelo Pai é estrelado por Sarah Drew, conhecida por interpretar April Kepner em Grey's Anatomy. O filme será transmitido nesta terça (22), às 22h40, no canal Lifetime. Assista a um trecho da produção: