CRÍTICA
Divulgação/Universal Pictures
Jamie Lee Curtis em cena de Halloween Kills; sequência do longa de 2018 deixa a desejar
Com mais de 40 anos de existência, a franquia Halloween conta com uma dúzia de filmes. Desde o longa original, lançado em 1978, a série cinematográfica viveu muitos altos e baixos. Halloween Kills: O Terror Continua (2021), capítulo mais recente, lançado nesta quinta-feira (14), se encaixa como um dos piores da história do icônico vilão Michael Myers e da mocinha Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).
Depois do reboot comandado por Rob Zombie nos anos 2000, o diretor David Gordon Green e o roteirista Danny McBride receberam a responsabilidade de oxigenar a franquia com uma nova oportunidade de continuar a história iniciada nos anos 1970.
A ideia, vista por muitos como arriscada, foi ignorar todas as sequências produzidas desde então e fazer um novo filme como continuação direta do longa original.
Cercado de expectativas, Halloween (2018) chegou aos cinemas e foi recebido com inúmeros elogios de crítica e público. Jamie Lee Curtis retornou ao papel que a tornou estrela do cinema para encarar novamente o bicho-papão que aterrorizou Laurie Strode e a pequena cidade de Haddonfield. Para completar, John Carpenter, diretor do longa original, também se envolveu no projeto como produtor executivo.
O sucesso do filme fez com que a produtora Blumhouse, nova detentora dos direitos da franquia, anunciasse mais dois projetos que encerrariam a nova trilogia: Halloween Kills e Halloween Ends --o último com estreia marcada para 2022. A ambição de aumentar a escala do horror para o segundo longa, no entanto, fez com que a qualidade da trama caísse por terra.
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O trio protagonista de Halloween Kills
Halloween Kills começa exatamente no ponto em que o anterior terminou. Laurie, Karen (Judy Greer) e Allyson (Andi Matichak) sobreviveram ao embate contra Michael Myers e prenderam o vilão dentro da casa em chamas da matriarca. Enquanto foge em uma caminhonete, o trio observa em choque os bombeiros irem em direção à residência para apagar o incêndio.
Os absurdos da continuação têm início logo de cara. Filmes anteriores da franquia já haviam estabelecido Michael como um vilão com força quase sobrenatural, mas Halloween Kills eleva isso a um nível superior. Como se fosse um membro dos Vingadores, o bicho-papão não apenas sobrevive ao incêndio como consegue eliminar um batalhão inteiro de bombeiros sem muito esforço.
A sobrevivência do antagonista dá início a um rastro de sangue deixado por Myers. Se nos longas de 1978 e 2018 o vilão se destacou mais por sua aparência e frieza do que pelo número de vítimas, Gordon Green e McBride usam Halloween Kills para diversificar as maneiras com que Michael finaliza aqueles que passam por seu caminho.
Desta forma, os primeiros 20 minutos do longa têm quase o dobro do número de mortes do que filme anterior inteiro. A trilha de horror chega aos ouvidos de um grupo de moradores que também são sobreviventes do primeiro ataque de Michael a Haddonfield, e isso faz com que os eles decidam buscar vingança com as próprias mãos.
A reintrodução destes personagens faz com que a franquia beba da nostalgia de maneira errada e caótica. Tommy Doyle (Anthony Michael Hall), garotinho que sobreviveu ao vilão graças à proteção de Laurie em 1978, incentiva a população da pequena cidade a ir à caça de Michael Myers sem o auxílio das autoridades --o que por si só já é uma decisão bastante questionável.
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O icônico vilão Michael Myers
Isso faz com que a pilha de mortos de Michael aumente cada vez mais --assim como o número decisões erradas impostas pelo roteiro. Com Laurie escanteada no hospital de Haddonfield, o bastão do protagonismo passa para Karen, Allyson, Tommy e mais um punhado de personagens que fazem muito pouco para ganhar a empatia do público.
Por mais que a plasticidade das mortes possa conquistar alguns fãs do gênero de horror, falta substância e --principalmente-- uma boa história em Halloween Kills. São tantas decisões questionáveis que, ao se aproximar do final, fica difícil não torcer para o vilão.
A forma como a sequência constrói o antagonista também torna a trama ainda mais risível. Michael apanha e é esfaqueado de inúmeras maneiras, mas resiste como se fosse invencível. Se o bicho-papão sobrevive a tantos obstáculos, fica difícil acreditar que Halloween Ends vai encontrar um jeito plausível de justificar uma possível vitória de Laurie Strode e seu grupo de "justiceiros".
Em meio a tantas escolhas equivocadas, Halloween Kills deixa um sentimento de desperdício depois de um retorno tão elogiado da franquia. Com a recepção morna do público, a responsabilidade de seus idealizadores de finalizar a nova trilogia de maneira gratificante no ano que vem ficou ainda maior.
Assista ao trailer de Halloween Kills:
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