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Divulgação/Netflix
Chadwick Boseman em A Voz Suprema do Blues; ator interpreta um trompetista em seu último filme
Alçado ao status de astro após assumir o papel de Pantera Negra nos cinemas, Chadwick Boseman (1976-2020) deixou milhões de fãs órfãos ao perder a batalha contra um câncer de cólon em agosto deste ano. Em A Voz Suprema do Blues (2020), novo longa da Netflix e o último filmado antes de sua morte, o ator entrega a melhor performance de sua carreira e faz da produção a sua despedida perfeita.
Na trama, Boseman interpreta Levee, trompetista integrante da banda de Ma Rainey (Viola Davis), considerada a mãe do blues e uma das maiores cantoras negras da história dos Estados Unidos. Apesar de Viola viver a principal figura do filme, é o ator quem, de fato, carrega o protagonismo.
Em sua última performance, Boseman canta, toca, grita, chora e transa --quase sempre com uma melodia de blues ao fundo. O ator se doa ao personagem de uma maneira que é difícil não se conectar com os sentimentos de Levee, mesmo quando ele se passa por um cretino.
A história do longa permite que a atuação do eterno Pantera Negra se sobressaia. Situado na Chicago de 1927, o drama tem uma premissa simples: a banda de Ma Rainey precisa se reunir em uma gravadora local para gravar as músicas de seu próximo disco.
Além de Levee, os integrantes são Cutler (Colman Domingo), Toledo (Glynn Turman) e Slow Drag (Michael Potts). Enquanto aguardam pela chegada da líder, o grupo se junta para repassar as músicas a serem tocadas em seguida.
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda
O que era pra ser um simples ensaio, no entanto, torna-se uma conversa sobre desejos, ambição, medos e banalidades. O quarteto reflete sobre o momento dos negros no país norte-americano e discute, refletido na aparente arrogância de Levee, como os jovens deveriam se portar nos anos seguintes.
Baseado na peça homônia de August Wilson (1945-2005), o filme se passa quase inteiramente dentro da gravadora. Isso permite que o diretor George C. Wolfe dê a ênfase necessária aos diálogos e às histórias contadas por seus personagens, sempre envolvendo suas lutas em uma sociedade injusta com os negros e a imposição de seus talentos contra o interesse branco.
É prestando atenção nessas histórias --e sentindo o quão doloras elas são-- que se torna mais simples compreender as atitudes de Levee e Ma Rainey. Ciente de sua importância musical, a mãe do blues age como uma perfeita diva --e faz questão de impor seu poder conquistado a duras penas. Como ela mesmo diz: "Eles não se importam comigo. Eles se importam com a minha voz".
Mesmo que em papel menor ao de Boseman, Viola mais uma vez entrega uma atuação forte e com potencial para ser lembrada nas premiações de 2021. A atriz não canta como Ma, mas sofre e se entrega à música consciente da importância que o blues tem na cultura afro-americana desde o fim dos anos 1800.
Quase todas as cenas da atriz são sobre poder, quem tem o controle sobre quem e o que significa para uma pessoa --e para um povo-- estar em posição de subordinação. A adaptação do roteirista Ruben Santiago-Hudson deixa isso explícito nas entrelinhas, mas a sensibilidade causada deve variar de acordo com a experiência de vida de cada um que assiste ao filme.
Mesmo que Viola carregue a responsabilidade de viver uma figura tão icônica da cultura afro-americana, a produção é, na sua essência, um filme sobre a figura trágica de Levee. Ma Rainey está ali, sempre a contraponto do trompetista --brilhando igual, jamais ofuscada. Deste modo, Boseman teve a chance de mostrar novamente, ainda em vida, que nunca foi apenas mais um ator de filmes de heróis.
No final, A Voz Suprema do Blues é um conto sobre injustiça e a experiência dos negros dos EUA no final do século 20. É sobre a história de um povo que sempre foi contada nas letras e melodias do blues. Um filme para sorrir, cantar e se emocionar, desejando que o futuro reserve dias menos sombrios para aqueles que já tanto sofreram.
Assista ao trailer legendado:
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