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ENTREVISTA

'Pai' da CNN Brasil lança novo canal de olho em império de mídia e na TV aberta

Fotos: Divulgação/Times Brasil CNBC

O jornalista Douglas Tavolaro no lançamento do Times Brasil CNBC; ele usa terno e gravatas azuis

O jornalista Douglas Tavolaro no lançamento do Times Brasil CNBC, canal que estreia neste domingo (17)

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 17/11/2024 - 8h10

Douglas Tavolaro, 46 anos, é um dos jornalistas mais bem-sucedidos do país. Entre os que atuam atrás das câmeras, é provavelmente o mais rico. Nem sempre foi assim. No começo dos anos 2000, na faculdade Cásper Líbero, era um gordinho evangélico, da zona leste de São Paulo, que ralava para pagar as contas.

Jornalista "raiz", Tavolaro construiu uma carreira de sucesso na Record, onde virou homem de confiança do bispo Edir Macedo, de quem escreveu e filmou uma biografia cinematográfica. Em 2018, viajou até Lisboa para pedir demissão pessoalmente ao líder da Igreja Universal. Um mês depois, anunciou o projeto da CNN Brasil, em sociedade com o empreiteiro Rubens Menin.

A CNN estreou em março de 2020, em pleno lockdown da pandemia de Covid. Apesar das dificuldades (ou por causa delas), foi um sucesso. Em Breaking News, livro recém-lançado por Tavolaro, ele revela que sonhava com uma filial brasileira da "grife" norte-americana desde 2005, quando já era diretor de Jornalismo da Record e alimentava o rumor de que era mais velho do que de fato mostrava seu RG. Não conta, no entanto, por que deixou a CNN Brasil apenas um ano depois.

O livro é uma peça de marketing pessoal. Discreto e raramente autocrítico, narra como Tavolaro transformou o Jornalismo da Record, tornando-o a espinha dorsal da programação da emissora, e como montou a CNN Brasil, se credenciando para seu novo empreendimento, agora como sócio majoritário (o fundo inglês Attention Economics tem 15% das cotas).

Às 20h deste domingo (17), Tavolaro coloca no ar o Times Brasil CNBC, canal de economia e negócios que promete "reportagens saborosas" e programas de entretenimento, incluindo reality shows, para conquistar tanto o dono de pizzaria da periferia até "os grandes tomadores de decisão da Faria Lima".

O canal é o primeiro passo de um projeto maior. Tavolaro quer inicialmente expandir os negócios para áreas correlatas, como eventos e cursos, e depois investir em novos canais e, quem sabe, até em TV aberta. Por isso, optou por não usar a somente sigla norte-americana CNBC, com a qual assinou contrato de licenciamento. Quer fortalecer a marca Times Brasil e não ficar dependente de uma grife estrangeira, como a CNN Brasil, da qual se considera "pai".

Confira mais detalhes na entrevista exclusiva a seguir:

NOTÍCIAS DA TV - Todas as emissoras estão demitindo, enxugando, reduzindo despesas, e você está investindo em um canal novo, nichado, de economia e negócios. Por quê? Não seria mais lucrativo investir o seu dinheiro em mercado financeiro? Por que arriscar em mídia?
DOUGLAS TAVOLARO -
Porque eu acredito na força da inovação. Acredito de verdade no que é inovador, o mercado sabe valorizar tudo o que é diferente, e um canal de jornalismo de negócios no Brasil é uma coisa diferente.

Não é um modelo inventado aqui no Brasil, é um modelo de negócio de sucesso que existe nos Estados Unidos e na Europa, consolidado. A CNBC existe há 35 nos Estados Unidos, é líder de mercado, líder global. É o maior canal assistido no mundo, tem mercado, faturamento, relevância e audiência. E não tem no Brasil. Em 2024, com essa economia desse tamanho, a gente não tem um canal de jornalismo de negócios.

Foi acreditando na força da inovação, na força do oceano azul, que a gente pensou em implantar esse projeto no Brasil. Somado, obviamente, à experiência de ter feito o Jornalismo da Record, de ter conhecido a TV aberta no Brasil. Depois de ter montado a CNN e conhecido os desafios do mercado de canais de notícias foi que a gente estudou e pensou em trazer um canal de jornalismo de negócios para o Brasil.

E o mercado publicitário, historicamente, reconhece projetos inovadores. E uma prova legal é que nós anunciamos o projeto em março de 2024 e agora estamos com 24 patrocinadores. É um número muito bom, muito expressivo para a largada do canal. Significa que o mercado está acreditando no projeto.

Você é talvez o jornalista mais bem-sucedido da atualidade, da geração após 2000. Você se considera um jornalista e executivo atrevido, ousado, inovador?
Primeiro, é uma honra ouvir isso de você. Imagina, não me considero isso, não, de verdade. As coisas vão acontecendo. O que eu tenho tentado fazer desde o início é montar um negócio que fique de pé, que viabilize, que seja economicamente viável. Mas o mais importante, a essência do negócio, é ter um propósito, um sentido de existência, um legado que você deixe.

A construção da CNN, no início, cumpriu esse papel. A Record, entre erros e acertos, cumpriu seu papel para a TV aberta. E agora, esse projeto, que eu considero o mais inovador de todos, tende a cumprir esse papel. O que eu estou tentando é montar um negócio que deixe um legado, uma contribuição para a comunicação no Brasil e que gere mais oportunidades de trabalho para os jornalistas, que seja um espaço novo de informação para o público, que as pessoas gostem. E é isso. De resto, sou mais um dos brasileiros que está tentando pagar as contas e fazer um projeto bonito, uma empresa bonita e tal.

E qual é o propósito, nas suas palavras?
Ah, o propósito é fazer uma emissora de jornalismo de negócios inovadora, que vire referência para o mundo dos negócios no Brasil, que alcance a expectativa das pessoas, que apresente um tipo de reportagem que as pessoas nunca viram, uma cobertura ao vivo do mercado de negócios que as pessoas não viram, de entretenimento com negócios que as pessoas até hoje não viram, e que ela ajude a informar melhor as pessoas, contribua para fazer um projeto de jornalismo bacana para o Brasil, que fique consolidada nesse sentido.

Onde você quer chegar? Você quer construir, está lançando a pedra fundamental de um império de mídia? O que você está vendo lá no futuro?
Olha, eu penso assim, a gente primeiro tem que acertar esse projeto, mas acredito que existe espaço para crescimento, para novos canais, novas frentes de atuação. A gente tem experiência e equipe talentosa para fazer muita coisa pela frente. Eu acho que a gente vai sempre estar atento às novas oportunidades.

O próprio ecossistema de jornalismo de negócios, que é a nossa primeira frente de atuação, que são novos negócios que derivam da televisão, do canal de TV, eu acho que é o nosso primeiro território a ser avançado. Então, você tem empresas de eventos, de educação financeira, cursos online, várias unidades de negócios, são alguns exemplos, são seis, sete, oito novas unidades de negócios que derivam do canal.

Temos vários projetos nessa linha. Esse é o primeiro passo, mas eu acho que no campo de mídia existe espaço para novos canais, para novas investidas para o futuro. Vamos ter que olhar nas oportunidades.

Qual é o investimento que está sendo feito no Times Brasil CNBC?
Eu não posso falar de investimento, tem cláusulas de confidencialidade. Mas é um número importante, obviamente, porque um canal de TV tem custos altos. Mas a gente está muito otimista. O plano de negócios está indo muito bem, principalmente com essa quantidade de patrocinadores, e com aceitação do mercado de distribuição também. Nós assinamos 46 contratos de distribuição com operadoras de cabo, operadoras regionais, plataformas de streaming, de FAST channels, plataformas digitais e operadoras de satélites também.

Lançamos a CNN Brasil com quatro cotas fundadoras, com quatro patrocinadores. Nós [Times Brasil CNBC] temos 24 patrocinadores. Então, é um número expressivo. Acho que o mercado entendeu que a gente tá trazendo uma coisa de verdade diferente.

Esses 24 patrocinadores pagam a operação no começo?
Daniel, você é muito jornalista (risos). Você foi lá, você foi lá e voltou... Não [pagam], o investimento é alto, mas eles [patrocínios] ajudam, é um negócio bem bacana.

Fernando Haddad, Douglas Tavolaro e Geraldo Alckmin

Douglas Tavolaro com Fernando Haddad e Geraldo Alckmin no lançamento

Por que não usar a marca CNBC Brasil? O que que limitou isso?
Nós montamos uma empresa brasileira chamada Times Brasil Media, que é a licenciada exclusiva da CNBC para o Brasil. Estamos colocando no ar as duas marcas porque entendemos que é a forma de comunicar o público.

E vocês vão trabalhar a marca Times Brasil CNBC, sempre as duas marcas juntas?
Exatamente. E aí a gente está tentando incluir a palavra exclusivo também, porque é forte.

Essa sua preocupação com o capital nacional, de o Times Brasil CNBC ter maioria de capital brasileiro, indica planos de ter uma operação de TV aberta também?
O mercado muda muito, né? Hoje, você tem as emissoras de TV aberta estabelecidas na mão de seis, sete proprietários, se não me engano. São famílias proprietárias que estão fazendo um trabalho bacana, mas que têm que administrar, tocar entre altos e baixos e enfrentar os desafios do mercado. Mas você nunca sabe o futuro, você não sabe se um dia pode surgir uma oportunidade de TV aberta. Se surgir, quem sabe? A gente pode um dia pensar em um investimento com os pés no chão, com um projeto sólido.

O que você achou de a CNN Brasil ter lançado um canal de economia de negócios duas semanas antes do Times Brasil CNBC?
Concorrência, né? Todo mundo diz isso, mas concorrência é sempre bem-vinda. Eu, quando falo da CNN, falo meio como pai da CNN, porque realmente o projeto nasceu de um PowerPoint no meu computador. Então, fico feliz de ver a CNN fazendo novos investimentos.

Realmente, foi um pouco estranho o canal ter feito o lançamento às pressas. Torço muito para eles darem certo, mas é um desafio porque não existe CNN Money no mundo. É um projeto que, se não me engano, existia um outro na Europa que não existe mais. É muito difícil você fazer um canal de negócios sem uma rede que te apoie, uma rede de jornalismo que te apoie.

Que eles tenham vida longa, porque quanto mais canal de informação séria uma sociedade tem, mais evoluída ela é. Você nunca pode torcer para um canal dar errado, falir, quebrar. É um atentado à democracia, ao Estado de Direito, na minha opinião. O jornalismo evolui a sociedade.

No livro Breaking News, você indica que sonhava com uma CNN brasileira desde 2005. Em 2018, você teve a oportunidade, foi atrás, colocou o canal no ar em plena pandemia, causando impacto na mídia brasileira em 2020. Mas você ficou só um ano lá...
E mudou o mercado também. Não existia canal de notícias no Brasil. Ninguém dava bola pra canal de notícias. A GloboNews sozinha, o Band News e a Record News na jogada. Aí depois veio a Jovem Pan, os caras se reinventaram, deu uma movimentada. Mas fiquei só um ano lá...

E não conta por que saiu.
Porque existem questões jurídicas, simples assim, um contrato de compra e venda que me impede de falar sobre essas coisas.

Há uma versão de que você deixou a CNN por problemas financeiros. E de fato houve um aporte de R$ 226 milhões, isso está registrado na Junta Comercial, nos dois primeiros anos. A operação da CNN era deficitária no começo?
Também não posso falar sobre isso. O que eu posso dizer é que eu montei um projeto com início, meio e fim. Pegamos um primeiro ano de frente com a pandemia, com uma queda de faturamento geral no mercado, uma crise histórica no mercado publicitário, de anunciantes, E ainda assim, nós construímos relevância, faturamento, audiência, deixamos a empresa redonda. Não sei dizer o que aconteceu depois. Não sei dizer exatamente o que aconteceu depois.

No livro, você também não fala que mentia a idade para mais, por ter assumido a direção de Jornalismo da Record muito jovem, com apenas 26 anos (risos).
Não, eu não mentia a idade, não. Eu não mentia. Na verdade, as pessoas falavam. Aí eu não falava nada, a pessoa falava assim: 'Mas você tem 40 anos, ele tem 40 anos'. Aí eu acabava não desmentindo. Não foi que eu saí espalhando a idade, não. Mas ficava nesse disse, me disse. Porque eu realmente fui diretor de Jornalismo muito novo, né? E tinha uns caras lá... o Boris Casoy... O Marcelo Rezende [1951-2017], por exemplo, era uma pessoa difícil de administrar. Personagens fortes e tal, vários jornalistas, né? E aí fui ficando, o tempo foi colocando as coisas no lugar, uma experiência muito legal.

Outra coisa que eu senti falta no livro foi a questão da religiosidade. Quando você fez faculdade na Cásper Líbero, era visto como um rapaz evangélico, gordinho, meio excluído. Contar isso não enriqueceria sua história ainda mais?
É, mas pra mim foi um negócio comum, acho que sou a mesma pessoa. Não consigo ver assim, não era uma coisa caricata, entendeu? Eu me via na faculdade como mais um estudante tentando ganhar a vida. Comecei na IstoÉ, depois no Estadão, no Diário Popular, aí eu fui para a Record. Fiz uma carreira tentando batalhar, sim. Mas não é uma coisa que me marcou como um complexo, um trauma, ou que me deixou a sensação de ter sido excluído. Não era a minha imagem. Não é uma coisa que me causou nenhum complexo de inferioridade.

E você ainda é evangélico?
Eu respeito muito. A formação da minha família é evangélica. Eu respeito muito, eu acho muito legal, acho que tem valores muito bonitos ali, sabe? Tem coisas assim, legais pra família, e eu tenho duas filhas, né? Então você, pra cuidar da família, tem valores assim, muito, muito legais.


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