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Invisíveis no Catar, mulheres fazem história na transmissão da Copa do Mundo

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Imagem de Renata Silveira (à esq.) e Ana Thaís Matos

Renata Silveira e Ana Thaís Matos em estúdio de transmissão; dupla está na equipe da Copa

PAOLA ZANON

paola@noticiasdatv.com

Publicado em 21/11/2022 - 6h35

Pela primeira vez a televisão aberta terá mulheres narrando e comentando uma Copa do Mundo masculina. O fato histórico acontece no mesmo ano em que o Catar, que condenou uma mulher a cem chicotadas por denunciar um estupro, sedia um dos eventos mais importantes do esporte.

O espaço na transmissão do futebol já vem sendo conquistado pelas mulheres há alguns anos, mas ganhou mais força a partir da Copa de 2018, quando os extintos canais Fox Sports colocaram vozes femininas para narrar. 

Com o sucesso do movimento, a Globo, que até então só tinha Ana Thaís Matos como comentarista nos canais fechados, integrou outras mulheres à equipe: Renata Silveira, Renata Mendonça e Natália Lara, que participam da transmissão este ano. As exibições ainda terão participações especiais das jogadoras Formiga e Cristiane Rozeira.

Das mulheres que compõem a equipe, apenas Ana Thaís viajou ao Catar. Em uma conversa com o Notícias da TV, a jornalista confessou que ainda não sabia como iria ter que se vestir ou se comportar. "É um país que não valoriza as mulheres. Eu não fiz nenhuma preparação especial", afirmou.

No entanto, a comentarista destacou a importância da própria presença no evento. "Uma Copa plural, de vários rostos, de várias vozes, em um país difícil, que não enxerga as mulheres. Estou me permitindo emocionar e tentando entender o que eu vou viver, levar como mulher. Eu não posso deixar de falar desse lugar. É por isso que eu estou aqui, ser mulher me conduziu até aqui", declarou.

reprodução/instagram

Renata Silveira, Formiga e Renata Mendonça

Renata Silveira, Formiga e Renata Mendonça

O país que não enxerga mulheres

O Catar é um país islâmico que tem regras rígidas em relação aos costumes, algumas delas consideradas machistas, por dar mais liberdade aos homens. Entre as restrições para mulheres, estão o uso de roupas que mostram demais o corpo, por exemplo. 

Em fevereiro deste ano, a mexicana Paola Schietekat, que trabalhava na organização da Copa, denunciou que teve seu apartamento invadido enquanto dormia. O invasor a violentou. Ao denunciar o crime, a estrangeira precisou ficar frente a frente com o agressor, que alegou que ela era sua amante.

De vítima, Paola passou a ser criminosa por ser acusada de ter um "caso extraconjugal". O homem foi liberado e inocentado das acusações, enquanto ela, por ter se convertido ao islamismo, foi condenada a cem chibatadas e sete anos de prisão.

No Catar, as vítimas de violência sexual são processadas por adultério. Além disso, a homossexualidade é considerada ilegal. Outras restrições também envolvem o consumo de bebidas alcoólicas e demonstração de afeto, como beijos e abraços em público.

Espaço histórico

Diante dos fatos, a presença das mulheres em um espaço predominantemente masculino se tornou ainda mais importante, sobretudo com tantos olhos voltados para a Copa. "A gente está mostrando que a gente é capaz, brigando pelo nosso lugar em um lugar que não acredita em nada disso", declarou Renata Silveira, escalada para narrar o primeiro jogo da Dinamarca na Globo.

A opinião da locutora é compartilhada e reforçada pelas colegas. "Quando não tínhamos mulheres narrando, eu acreditei que a gente poderia fazer essa história. O movimento das mulheres, em si, é um movimento muito importante", destacou Natália, que fará narrações no SporTV. "Finalmente a gente pode falar: 'Temos mulheres na Copa'."

Formiga, que aceitou o convite de comentarista para abrir espaço a outras jogadoras, disse que a causa feminina sempre será sua bandeira. "Isso só aumenta essa crescente das mulheres em espaços comuns de homens. Esse é o nosso papel", afirmou a futebolista.

As jornalistas lembraram que mesmo no Brasil, com tantas leis em favor das mulheres, também é difícil ocupar esse lugar. "Se aqui a gente já sofre, imagina lá. Essas barreiras a gente vai quebrando aos poucos", disse Renata. "A gente vai continuar construindo isso no país Brasil, que enxerga as mulheres de um ponto de vista muito segmentado", completou Ana Thaís.


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