Vítima de assédio de Louis C.K. detona prêmio no Grammy: 'Ninguém se importa'

A vitória de Louis C.K. em melhor álbum de comédia no Grammy 2022 deixou Julia Wolov, uma das cinco vítimas de assédio do ator, indignada. Em entrevista à revista Variety, a roteirista detonou o prêmio dado ao comediante e afirmou que a atitude apenas prova que ninguém se importa com as denúncias feitas contra o ator.

Em 2017, Julia e outras quatro mulheres confessaram serem vítimas de assédio sexual promovido pelo astro. Na ocasião, Louis foi acusado de expor seu órgão genital e se masturbar na frente delas. Em comunicado enviado a jornalistas, o ator admitiu a veracidade das acusações.

"Essas histórias são verdadeiras. Quando você tem poder sobre outra pessoa, pedir para ela olhar para o seu pau não é uma pergunta. É um dilema para elas. O poder que eu tinha sobre essas mulheres é que elas me admiravam. E eu o exercia de forma irresponsável", disse o ator na época.

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Após as denúncias, a carreira de Louis caiu em desgraça e ele perdeu contratos lucrativos que mantinha com Netflix, FX e HBO. No entanto, ele manteve sua carreira como comediante e continuou fazendo apresentações de stand up em várias cidades dos Estados Unidos.

"Não houve nenhuma mudança na forma como a comédia é executada. Não há regras", disse Julia Wolov. Segundo ela, C.K. se masturbou na sua frente durante um festival de comédia em 2002.

Para a vítima, o prêmio dado ao comediante no Grammy 2022 prova que movimentos como o Me Too, que causou a queda de astros como Kevin Spacey e Harvey Weinstein, não fez nada mais que dar manchetes a jornais. Segundo a roteirista, palavras fortes foram ditas nos últimos anos, mas poucas ações para prevenir novos assédios foram tomadas.

"Ninguém se importa. Essa é a mensagem que isso [o prêmio no Grammy] transmite. Essa é a verdade", pontuou Julia, que ainda afirmou se arrepender de ter denunciado o comediante ao lado das outras vítimas.

"Você meio que aceita isso, sabendo que pode ajudar outra pessoa. Isso é parte do que faz você se apresentar, mas não é divertido. Tomamos um pela equipe. Mesmo falando agora, sei que isso não funcionará a meu favor, mas muitas pessoas estão perguntando e é difícil quando ele está no constante ciclo de notícias", detalhou.

De acordo com Julia, ela não pode provar que enfrentou sanções profissionais como resposta direta ao falar publicamente sobre C.K., mas afirmou que isso não ajudou. Ela acredita que foi rotulada de "encrenqueira" no mundo da comédia, mesmo que as pessoas a aplaudam em particular por falar contra o astro.

"Claro, os fãs dele dirão que é porque não somos engraçados ou buscamos dinheiro --essa é a minha [desculpa favorita, tipo, ficamos tão ricas com isso", disse a roteirista com sarcasmo. "As pessoas vão dizer que queremos atenção. Confie em mim, essa não é a atenção que eu esperava."

Apesar de criticar a atitude dos votantes do Grammy, Julia disse não saber sobre qual deveria ser o destino de C.K.. Para ela, a decisão deveria ser tomada pelos executivos de Hollywood.

É tão necessário que você tenha que trabalhar com essa pessoa que tem mostrado seu pau para todo mundo na cidade? Você faz questão assim de trabalhar com ele? Tem tanta gente engraçada. Por que ele? Por que não eles? Por que ninguém além dele?.

Mesmo indignada com a situação, a roteirista destacou à revista Variety que seguiu com sua vida. Segundo Julia, ela já não liga tanto para o que Louis C.K. faz com sua carreira e que não acredita na chamada "cultura do cancelamento".

"Parte de mim não se importa. Se as pessoas querem vê-lo, bom para eles. Quem vai dizer a ele que ele não pode subir no palco? Eu não sou. Eu realmente não me importo com o que ele faz. Não faz diferença para mim. Tudo o que posso fazer ou dizer é viver e ficar bem longe dele. Eu não acredito na cultura do cancelamento, mas, obviamente, Louis não está cancelado. Ele me parece bem. Está em turnê e se vendendo. Ele está ganhando Grammys", complementou.