PASSADO NEGADO
REPRODUÇÃO/HBO MAX
Guilherme de Pádua em Pacto Brutal (2022); ator negou trabalhos como stripper e michê antes da TV
Guilherme de Pádua ficou conhecido nacionalmente após assassinar Daniella Perez em dezembro de 1992. À época, o ex-ator, morto no último domingo (6), interpretava Bira na novela das oito da Globo De Corpo e Alma. Antes de surgir na TV, no entanto, Pádua já acumulava algumas outras experiências em seu currículo, como stripper, ator erótico e até michê, segundo uma produtora carioca.
Guilherme de Pádua participou como stripper de alguns espetáculos do grupo A Noite dos Leopardos, que fazia apresentações que marcaram época entre os anos 1980 e 1990 na zona sul do Rio de Janeiro. Em 2006, entretanto, o ator negou sua participação no espetáculo, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
"Disseram que eu era leopardo. Você acha que alguém veio saber de mim se eu fazia mesmo o show? Imagina: vou morrer 'leopardo'", afirmou Pádua. Na apresentação do grupo, homens musculosos eram chamados de leopardos e se despiam. No final, eles chegavam até mesmo a mostrar ereção como parte do show.
As apresentações aconteciam no Cine Alaska e eram idealizadas e dirigidas pela transexual Eloína dos Leopardos. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em agosto, por conta do lançamento da série documental Pacto Brutal, da HBO Max, Eloína confirmou a participação de Pádua no elenco.
Ela contou que o ator se apresentou quatro vezes em seu projeto, o que significava dois finais de semana, e que deixou o espetáculo logo que acertou sua participação no folhetim da Globo. Questionada sobre o comportamento do ator, Eloína o definiu como quieto e entregou um de seus traumas nas performances.
"Também era muito complexado, porque ele era muito bonito de rosto, mas não de corpo. Ele era grilado por causa disso. No final, claro, ele entrava de pau duro, como todo mundo, mas tinha a coisa do pau pequeno, que também mexia com ele", relatou a artista.
reprodução/hbo max
Parte do grupo teatral Leopardos
Apesar de se tratar de uma performance artística, A Noite dos Leopardos servia também como palco para que os strippers se arranjassem como michês. Em uma entrevista ao SBT à época do assassinato de Daniella Perez, Valéria, uma das produtoras do espetáculo, chegou a afirmar que Guilherme de Pádua também usufruiu da apresentação para ganhar uns trocados.
"Ele era ambicioso sim, tanto que fez o que fez. Fazia programa, os michês, que é óbvio, todo mundo sabe. Não adianta mais esconder. Porque não tem aqui dentro do teatro, mas quando elas saem", revelou a produtora em entrevista, confirmando sua declaração. "Tem pessoas que até... Digamos... Que já esteve com ele", reforçou Valéria, referindo-se aos programas.
A entrevista, concedida em 1992, foi resgatada por Gloria Perez, mãe de Daniella Perez (1970-1992), em 2012. Na ocasião, a novelista publicou um link com o conteúdo em seu perfil no Twitter e escreveu: "Depoimentos da galeria Alaska comprovando que Guilherme de Pádua era michê!".
Confira:
Depoimentos da galeria Alaska comprovando que Guilherme de Pádua era MICHÊ! http://t.co/UMNs9xSa
— Gloria Perez (@gloriafperez) December 14, 2012
Antes de chegar às novelas da Globo, Guilherme de Pádua também fez peças de teatro e filmes. O ator viveu um garoto de programa três vezes na ficção. Primeiramente, na peça Pasolini, no final dos anos 1980, e posteriormente em Via Appia (1989), filme erótico alemão de temática LGBTQIA+, rodado nas saunas masculinas do Rio de Janeiro.
O ator também interpretou um garoto de programa no musical Blue Jeans, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Dirigida por Wolf Maya, a peça fez grande sucesso e tinha no elenco também nomes como Fabio Assunção, Alexandre Frota e Maurício Mattar, que chegou a lembrar das brigas com o colega de cena em depoimento ao documentário da HBO Max.
"Guilherme era meio over, era meio fora da casinha. Ele falava umas coisas que todo mundo [ficava com expressão de interrogação, sem entender]", relatou o ator. Fabio Assunção também relembrou um episódio de agressão vivido nos bastidores.
"Ele fazia um policial, então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que ia ficar com algum problema na voz", resgatou Assunção.
Segundo Wolf Maya, Pádua deixou a peça assim que conseguiu um papel numa novela. Na ocasião, ele escreveu uma carta ao diretor anunciando sua saída:
Eu agora não posso mais estar aqui. Vou me tornar outro tipo de ser humano. Agora chegou a minha vez de fazer sucesso. Eu não posso mais expor minha bunda no Blue Jeans, porque minha bunda vai valer alto.
O diretor até hoje se arrepende de ter destruído a carta, pois acha que, psicologicamente, Pádua mostrou muito de si naquele momento. "Mostrei [a carta] pra Gloria. Eu fiquei com raiva e rasguei a carta. Foi uma grande bobagem, porque essa carta seria útil pra conhecê-lo melhor", lamentou.
REPRODUÇÃO
Guilherme de Pádua em Via Appia (1989)
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