LEOPARDO
REPRODUÇÃO/HBO MAX
Guilherme de Pádua no espetáculo Blue Jeans, em que se apresentou no Rio de Janeiro, em 1991
Antes de ser assassino confesso de Daniella Perez (1970-1992), Guilherme de Pádua já arrumava conflitos e confusões por onde passava. Em depoimentos à série documental Pacto Brutal, da HBO Max, vários artistas e profissionais do meio teatral relataram histórias controversas em que o ex-ator esteve envolvido, como um espetáculo erótico com nudez masculina (do qual derivavam casos de prostituição), uma agressão a Fabio Assunção e uma sabotagem que poderia ter sido fatal nos bastidores de uma peça.
Pádua chegou no Rio de Janeiro em 1988, com ganas de se tornar um ator muito famoso e bem-sucedido. Ele conseguiu espaço no teatro, mas numa área em que o forte não era necessariamente a dramaturgia.
Apesar de ele negar, muitos intérpretes confirmam que ele fez parte do grupo Leopardos, um elenco masculino formado por uma travesti carioca, Eloína. Eles se apresentavam num teatro em Copacabana, onde vestiam sungas mínimas com estampa de leopardo, cantavam e dançavam. No final, ficavam nus --alguns saíam das coxias para a apresentação final com os pênis eretos.
Paula Thomaz, que veio a se tornar mulher de Pádua, era frequentadora assídua deste teatro, até que foi proibida de passar por lá --além de ser menor de idade, ela tinha muito ciúme do rapaz e atacava outras mulheres a garrafada caso visse algum olhar ou flerte que não lhe agradasse.
Havia o conhecimento à boca pequena de que os "leopardos" eram também michês, faziam programa com clientes homossexuais. De Pádua sempre negou ter feito parte do grupo justamente por não admitir qualquer envolvimento homossexual de sua parte.
"Ser assassino tudo bem, ele tá perfeitamente cômodo nesse papel. O que é inadmissível é ser homossexual. Impressionante. É assustador", criticou Gloria Perez. "É uma pessoa que nega, tenta negar o passado, e não tem como. Uma pessoa que tem problemas seríssimos com homossexual", afirmou Carlos Loffer, que atuou com Pádua em outra peça, Blue Jeans.
reprodução/hbo max
Parte do grupo teatral Leopardos
Dirigida por Wolf Maya, Blue Jeans fez grande sucesso na época, com elenco formado por jovens galãs da época (1991): Fabio Assunção, Mauricio Mattar e Alexandre Frota eram os principais nomes. Pádua era coadjuvante, mas nos bastidores chamou a atenção por atitudes graves.
"Guilherme era meio over, era meio fora da casinha. Ele falava umas coisas que todo mundo [ficava com expressão de interrogação, sem entender]", reparou Mattar.
"Ele fazia um policial, então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que ia ficar com algum problema na voz", relatou Assunção sobre a agressão que sofreu.
Um dos produtores da peça, Marcus Montenegro trouxe uma história que causou arrepios nos bastidores:
Onde tinha discussão, Guilherme estava envolvido. Numa cena de morte, ele quis fazer uma manobra diferente e machucou um ator em cena. Teve um dia que teve um acidente com um canivete com outro ator, foi ele que fez o acidente. O contrarregra comprava uns dez canivetes, e uma das minhas maiores preocupações era o contrarregra tirar o fio do canivete. Até que o Guilherme se ofereceu pra ajudar o contrarregra. A gente descobriu que de um dos canivetes não foi tirado o fio.
Pádua deixou a peça assim que conseguiu um papel numa novela. Ele fez questão de mandar uma carta a Wolf Maya, se demitindo em grande estilo:
Eu agora não posso mais estar aqui. Vou me tornar outro tipo de ser humano. Agora chegou a minha vez de fazer sucesso. Eu não posso mais expor minha bunda no Blue Jeans, porque minha bunda vai valer alto.
O diretor até hoje se arrepende de ter destruído a carta, pois acha que, psicologicamente, Pádua mostrou muito de si naquele momento. "Mostrei [a carta] pra Gloria. Eu fiquei com raiva e rasguei a carta. Foi uma grande bobagem, porque essa carta seria útil pra conhecê-lo melhor", lamentou.
O passado de mostrar a bunda no teatro realmente foi deixado para trás quando Pádua saiu de Blue Jeans. Em 1992, ele atuou na novela De Corpo e Alma, e em 28 de dezembro daquele ano ele e Paula Thomaz assassinaram Daniella Perez, colega de cena de Pádua, com 18 punhaladas.
Ele estava insatisfeito com os rumos de seu personagem na trama, Bira, que vinha tendo menos tempo de tela.
O ex-ator foi condenado por homicídio doloso com motivo torpe e passou seis anos na cadeia --saiu em 1999. Hoje, é pastor evangélico e apoiador do atual presidente da República, Jair Bolsonaro.
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