FALTA DE ESPAÇO
DIVULGAÇÃO/SBT
Miguel Ângelo e Lázaro Ramos nos bastidores do SBT; atores conversaram sobre profissão
Um dos atores negros mais influentes da TV, Lázaro Ramos admitiu que ainda pensa em desistir da carreira. Seja pela falta de espaço em projetos ou por inseguranças pessoais, o artista tem dúvidas sobre seus objetivos com a profissão. Isso persistiu mesmo após ele ter sido alçado ao cargo de showrunner (uma espécie de encarregado de projetos especiais) do Prime Video. Ele foi contratado pelo streaming da Amazon após sair da Globo, em 2021.
Ele representou a plataforma num papo com Miguel Ângelo, a nova promessa infantil do SBT. A conversa vai ao ar no canal da emissora no YouTube nesta segunda (22). O veterano até deu sua bênção ao protagonista de A Infância de Romeu e Julieta, parceria da emissora com o Prime Video.
Ramos confessou sua crise com a atuação em resposta a uma pergunta do talento mirim, que já ansiava sobre o próprio futuro. "Todo dia [penso em desistir], até hoje ainda. E por vários motivos. Tem dias que é pela falta de espaço, em algum momento teve isso, mas tem dias que é pela insegurança ou por achar que eu não vou conseguir realizar os sonhos que eu ainda tenho", contou o artista.
Mas, sempre que entra em cena, o ator muda de ideia. "É o motor e vitamina para mim, porque eu tenho muito prazer com esse trabalho e eu estou disposto a lutar minha vida toda para continuar fazendo ele, sabe? Isso é muito lindo da nossa profissão. Quando você estiver em cena, e você encontrar alegria e prazer em fazer isso, esse é o gás para seguir", aconselhou o marido de Taís Araujo.
Foi esse o tom de boa parte da conversa. Os dois trocaram momentos-chave da profissão e discutiram sobre a representatividade negra na TV. Ramos chegou a se emocionar ao falar sobre o protagonismo do colega, que virou astro mirim aos 12 anos. "É importante para várias outras crianças que estão te vendo como representante, que estão sonhando também a partir de você e estão se identificando com o que você está fazendo", elogiou ele.
Embora de forma bem mais rara, oportunidades como essas já aconteciam no início da carreira do veterano. Ele próprio recebeu uma proposta para atuar numa novela infantil do SBT. Também teve seu "batizado de fogo" como ator na filial baiana da emissora, então chamada de TV Itapoan.
"Eu fui chamado para fazer um especial de Natal, eu tinha dez, 11 anos, mais ou menos, e foi minha primeira experiência. Depois disso, fui convocado para fazer uma novela chamada Colégio Brasil, também no SBT, mas acabei não vindo", revelou.
E é lindo ver o Miguelzinho assim, eu me sinto um pouco espelhado nele, porque ele está vivendo um sonho, está contando uma história, está fazendo uma novela, sendo um protagonista, sendo um herói, o que para nós, povo preto deste país, é uma coisa muito importante, a gente perceber essa cara que nos representa tanto.
O ator mirim ressaltou que não só ele, mas todo o núcleo que ele participa na novela é formado majoritariamente por pessoas negras. E não em posição de subalternas e de submissão, como costumava ser antes. Tanto o pai quanto o avô de Romeu, papel de Miguel na trama, são empresários ricos e poderosos.
"O que eu acho mais lindo é que vocês [da novela] estão falando de sonho também, de beleza, de aventura. Esse é um lugar importante para gente também, né? Porque, às vezes, a gente aparece falando das nossas dores e não fala daquilo que a gente tem de potente, da nossa alegria, daquilo que a gente constrói. Isso é muito lindo, viu?", elogiou.
O artista sabe bem disso. Seu papel mais lembrado na Globo, o Foguinho de Cobras & Lagartos (2006), era um trambiqueiro nato. Por outro lado, ele já foi um reprogramador mental em Geração Brasil (2014) e o bem-sucedido André em Insensato Coração (2012). Todos os papéis foram da Globo, empresa em que ficou durante 19 anos. Ele saiu por conta própria, diferentemente de boa parte dos colegas de emissora nos últimos tempos. A maioria não teve seus contratos de exclusividade renovados.
"Troquei a Globo pela Amazon por estar um pouco cansado de pedir, como se eu fosse um pedinte, como se eu tivesse de implorar por uma coisa que é poderosa, que são os nossos profissionais, a nossa história. Acho que o que fazemos é muito válido. Pena que o mercado está atrasado, mas na hora que eles enxergam a gente [atores negros], podemos nos juntar e fazer um Medida Provisória [filme dirigido por Ramos em 2022]. Isso para mim é muito importante. Em tudo o que eu fizer, a capacidade e a qualidade dessa gente toda que tem no nosso país será vista", justificou ele no ano passado.
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