Ator mirim se emociona por guinada em A Infância de Romeu e Julieta: 'Da periferia'

Aos 12 anos, Miguel Ângelo já atuou em duas peças, uma série, quatro curtas-metragens e um filme. Mas ele sabe que chegar à TV aberta é um passo sem igual em sua carreira. Intérprete de Romeu Monteiro em A Infância de Romeu e Julieta, nova produção do SBT com o Prime Video, o artista carrega não só o peso de viver seu primeiro protagonista como também a responsabilidade de representar tantos meninos negros da periferia que não tiveram uma chance como essa.

Ele reconhece seu papel como inspiração essas pessoas. Tanto que não perdeu a chance de falar sobre suas origens durante o evento de lançamento da novela à imprensa. "Sou uma criança que veio do Rio [de Janeiro], da periferia, e que também recebeu uma oportunidade que muitas pessoas lá atrás não receberam. Principalmente com essa idade, com 12 anos. É um protagonismo muito novo. Quero agradecer a todos. A gente vai fazer essa novela ser muito bonita e ter um grande sucesso", desejou. 

Miguel nasceu e cresceu na Cidade de Deus, uma das maiores e mais violentas favelas do Rio. Por outro lado, um local de intensa atividade cultural. Até Barack Obama, então presidente dos Estados Unidos, visitou o bairro para assistir a apresentações de dança e capoeira, além de participar de uma exposição de grafite e acompanhar um jogo de futebol.

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A arte tirou o adolescente da periferia e o levou até a sede do SBT. Lá, ele interpreta um tipo muito diferente do seu. Romeu é de classe alta, filho de executivos poderosos e morador da área mais moderna de Castanheiras, bairro no qual a trama é ambientada. Julieta Campos (Vittória Seixas), seu par romântico, é quem vive no lado mais humilde do local.

Essa divisão acarreta um dos grandes conflitos. Os Campos gostam de viver sem grandes tecnologias e modernidades, enquanto os Monteiros insistem em destruir casas históricas e levantar prédios vistosos. Os patriarcas das famílias, Hélio Campos (Luiz Guilherme) e Leandro Monteiro (Guilherme Sant'Anna), brigaram por causa dessas divergências, e a rixa escoou em seus filhos e netos. Apesar disso, Romeu e Julieta acabam se apaixonando.

O fato é que Romeu, o protagonista negro da novela, não ocupa papéis de subserviência, submissão e pobreza. A família Monteiro é poderosa, desafiadora --a ponto de surpreender até o veterano Fábio Ventura, intérprete de Bernardo, pai do protagonista. 

"Quando entrei no cenário do meu personagem, um filme passou pela minha cabeça. Um filme de tanta luta, de tantas coisas que nós, pretos, passamos para conseguir uma oportunidade. E quando eu me vejo dentro de uma família completamente empoderada, eu vejo uma oportunidade de a dramaturgia rever seus conceitos, rever as oportunidades para outras gerações", desabafou o ator de 46 anos. Ele fez até um discurso especial a Miguel, encarando-o enquanto falava:

Eu me vejo em você. E eu acho que várias pessoas, várias crianças, vão ter esse mesmo sentimento. Na hora do 'gravando', no primeiro dia, eu pensei: 'Meu Deus, como eu gostaria de ter tido a oportunidade de viver isso quando eu tinha 12 anos'. Porque aos 12 eu já estudava teatro. Então, eu acho que o que a gente está vivendo é um marco. Alguns dirão: 'Veio tarde'. Outros dirão: 'Não é representatividade o suficiente'. Mas a gente está aqui. A gente precisava dessa oportunidade, e a gente vai fazer valer a pena. 

Miguel se emocionou, mas manteve o sorriso. Apesar do currículo extenso --ele já participou das peças teatrais O Mágico de Oz e O Amor como Revolução; da série O Caçador (2014); dos curtas-metragens Vó, a Senhora É Lésbica? (2017) e O Nosso Legado (2018); e do longa-metragem Barba, Cabelo & Bigode (2022)--, é nessa novela sua chance de "fazer valer a pena". 

A novela estreou na última segunda (8), no SBT. Os dez primeiros capítulos já estão disponíveis no Prime Video.