LUTO
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Zé Celso Martinez não resistiu às queimaduras após um incêndio em seu apartamento, em São Paulo
José Celso Martinez (1937-2023), conhecido como Zé Celso, morreu nesta quinta-feira (6), aos 86 anos, em São Paulo. Nome influente nas artes cênicas brasileiras, o dramaturgo havia sido hospitalizado em estado grave na terça (4), após um incêndio em seu apartamento. O artista sofreu queimaduras em 53% do corpo e inalou muita fumaça. Ele estava internado no Hospital das Clínicas, na capital paulista, e não resistiu a um agravamento em seu quadro de saúde, com desenvolvimento de insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos.
O Teatro Oficina, criado por Zé Celso Martinez, confirmou a morte do dramaturgo por meio de um post no Instagram na manhã desta quinta. "'Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo'. Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol. Amor de muito. Amor sempre", diz a publicação.
O diretor se feriu durante um incêndio provocado pelo aquecedor elétrico de sua casa, no Paraíso, bairro da zona sul de São Paulo. O marido do dramaturgo, Marcelo Drummond, os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt e o cachorrinho Nagô também estavam no apartamento na hora do fogo. Todos estão com o quadro estável.
Na quarta (5), Luciana Domschke, médica de Martinez, anunciou a piora no estado do artista. No entanto, havia a esperança de uma recuperação. "Teve um agravamento, porém, tem possibilidade de recuperar. Estamos organizando com a família e a psicóloga como atravessaremos essa fase difícil", disse em entrevista ao SP1, telejornal da Globo.
O diretor nasceu em Araraquara, no interior de São Paulo. Por pressão dos pais, Martinez ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Durante a graduação, em 1958, ele se reuniu com outros cinco artistas para criar a Companhia Teatro Oficina --posteriormente intitulada Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona.
A sede do grupo foi instalada em 1961 no Bixiga, bairro do centro paulistano, e é considerado um patrimônio histórico pela Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).
Martinez foi preso e torturado durante a Ditadura Militar (1964-1985) devido à temática questionadora de suas produções cênicas, que contestavam normas e tabus sociais. Ele decidiu se exilar em Portugal em 1974 e retornou ao Brasil em 1979.
Ao longo de sua carreira, Martinez dirigiu artistas como Julia Lemmertz, Alanis Guillen e Alexandre Borges. Em 2022, ele encenou a peça Fausto na Travessia Brasileira, baseada em uma obra de Christopher Marlow. Recentemente, ele trabalhava na produção de um livro que analisava a linguagem desenvolvida pelo grupo Teatro Oficina.
A briga entre Martinez e o proprietário do SBT foi iniciada em 1980. O empresário comprou um terreno que está em volta do teatro. O plano inicial do "dono do baú" era construir um prédio com mais de cem metros de altura para o Grupo Silvio Santos. No entanto, isso prejudicaria o espaço cênico, e Martinez foi para a Justiça.
Uma característica do teatro é uma grande janela em uma de suas laterais, que permite ao espectador ver a paisagem da cidade, mesmo durante as sessões teatrais. Em 2016, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) proibiu a construção de torres da Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, em um terreno vizinho ao Teatro Oficina. O projeto previa três torres, e duas delas impediriam a vista da associação cênica.
Em 2017, a decisão foi revertida, e novas reuniões entre Silvio e Zé Celso foram promovidas. Apesar disso, o destino da área disputada ainda é incerto. Zé Celso prefere que o terreno sedie o parque do rio Bexiga.
Em 6 de junho deste ano, Martinez se casou com Marcelo Drummond em uma celebração realizada no teatro. As atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres presentearam o casal com um ipê. A intenção do dramaturgo era plantar a árvore no terreno disputado. "O ipê vai praticamente abrir o parque", disse, em entrevista à Folha de S.Paulo.
No entanto, o artista foi surpreendido com uma liminar judicial que o proíbe de plantar o ipê na área ao redor do teatro. A juíza Juliana Koga Guimarães, da 39º Vara Cível do Foro Central, determinou multa de R$ 200 mil para qualquer ato praticado por Zé Celso que possa prejudicar a posse do terreno. Drummond também foi intimado pela Justiça.
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