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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Dani Albuquerque viveu oito anos no limbo: 'Minha mãe brigou para me registrar'

JULIANA SORIANI/DIVULGAÇÃO

A apresentadora Daniela Albuquerque no palco do Sensacional

Daniela Albuquerque à frente do Sensacional; apresentadora não se vê dentro de conto de fadas

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 24/7/2022 - 8h45

Daniela Albuquerque revela que passou oito anos no mesmo limbo que os mais de três milhões de brasileiros que simplesmente não existem para o Estado. Ela não foi registrada assim que nasceu e sentiu na pele o que é viver sem documentos --com seus direitos básicos e até a sua dignidade sendo negada por não ter uma certidão de nascimento.

"A minha mãe brigou para me registrar e me colocar na escola. Eu sou de 1982 e só fui registrada em 1988. Hoje, eu vejo o oito como um símbolo do infinito, do universo. Eu falo assim das coisas do meu passado, mas sem um olhar de 'meu Deus, que vida terrível eu tive'. Ao contrário, tenho até saudade. É louco isso", confessa ela em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.

Essa memória é apenas uma das que fazem parte da biografia 1982: Um Olhar sobre a Minha Essência, em que a apresentadora revisita a sua origem. Ela evita tanto a tentação de se revoltar com o passado humilde quanto a de se ver como protagonista de um conto de fadas.

Nunca caí nessa armadilha. Eu comecei a trabalhar cedo, a correr atrás das coisas, a ajudar em casa, mas jamais me deixei levar pelo sentimento de 'ah, sou uma vítima'. Eu não culpo o mundo. Não me coloco como uma coitadinha. A minha história me traz orgulho e não sofrimento.

Ela faz questão de ser transparente pelas dificuldades que passou com as filhas Alice e Antonella, de dez e sete anos, frutos do casamento com o empresário Amilcare Dallevo, um dos sócios da RedeTV!.

"Eu me orgulho de nunca ter mudado o meu jeito. Nada me corrompe. Por mais que hoje eu tenha uma vida melhor e possa dar uma vida melhor para as minhas meninas, eu falo de onde eu vim, de como é que são as coisas. Quero mostrar a realidade do mundo para que elas cresçam com os pés no chão", reflete a artista.

Mais que um rosto

A beleza foi fundamental para Daniela conseguir uma vida melhor ao se tornar modelo, mas também foi usada durante anos para colocá-la em xeque. Ela sempre enfrentou uma série de piadas e comentários machistas que a resumiam a apenas um rosto --e, frequentemente, também questionavam a sua inteligência.

Uma briga que a apresentadora começou ainda na infância, quando mal tinha recursos para frequentar a escola. "Eu não tinha sapato. Era um só, que furava, e ia para o sapateiro arrumar até não ter mais conserto", relembra.

Ela também se formou em Jornalismo mesmo com o mundo, por diversas vezes, jogando contra:

Quantas vezes eu fui dormir de madrugada porque estava estudando para uma prova e, no dia seguinte, acordava cedo para ir trabalhar. Eu comecei de baixo, como estagiária, e ia pedir autorização a traficantes para poder fazer as reportagens nas comunidades.  

Dani voltaria a ser questionada assim que ganhou o primeiro programa como titular na RedeTV! --o Sensacional. Ela não esconde que as críticas foram pesadas. "No começo, era difícil, mas nada como o tempo. Eu fui igual uma formiguinha nesses 15 anos construindo uma reputação, mostrando quem eu sou. Hoje eu colho os frutos", celebra.

Confira a entrevista completa com Daniela Albuquerque:

NOTÍCIAS DA TV - Um dos pontos mais interessantes do seu livro é que você desconstrói o tempo todo a ideia de que viveu um conto de fadas…

Dani Albuquerque - Eu não olho para o passado como uma coisa ruim, porque sem ele não teria a cabeça que tenho hoje. De ter pé no chão, de valorizar as conquistas. E nem tenho vergonha de onde eu vim. Eu amo a minha história, por mais que eu tenha passado por tanta dificuldade, eu sempre fui feliz. 

A felicidade é uma coisa interna. Por mais que eu não tivesse um tênis para ir para a escola, eu nunca olhei com inveja para as minhas amigas. Ao contrário, eu achava admirável. Eu sempre olhei para frente, me convencendo que eu iria conseguir, mas pelo trabalho.

Eu acho uma coisa chata ficar repetindo "ai como a minha vida foi sofrida". Não tenho nenhum sentimento ruim dentro de mim

Nunca sentiu algum tipo de revolta por ter sido privada de tanta coisa na infância?

Não, porque eu sempre corri atrás. Eu queria fazer um book para virar modelo, então arranjei uma televisão velha e fiz uma rifa para pagar. Eu batia na porta do comércio para pedir patrocínio e nunca tive vergonha de ir para o Paraguai comprar muamba para vender.

E quem foi fundamental para você ter essa cabeça mesmo em um contexto social tão frágil?

A minha mãe, Eunice, foi fundamental. Quando o meu pai morreu, a gente voltou a morar com a minha avó. Imagina ela ter que voltar para a casa dos pais, com três filhos.

A gente ficou um tempo lá até que minha mãe conseguiu alugar uma casinha, mas não sobrou dinheiro para a geladeira. Nós guardávamos tudo dentro de um isopor. Até o dia que a gente ganhou uma daquelas antigas, era vermelha.

Eu falando agora parece até que estou abrindo ela. Bate até uma emoção. Na minha cabeça, eu não separo a minha vida em antes e depois. É como se tivesse apenas uma cerquinha separando aquela casa da que eu moro hoje. Está tudo muito fresco. Acabei de fazer 40 anos e olha que essas histórias são de quando eu tinha seis, sete.

É difícil educar um filho em uma condição financeira completamente diferente da que você cresceu?

Sim, até por isso estou sempre contando a minha história para elas saberem como é o mundo e que isso não aconteceu só comigo. Eu sempre vou com elas a um instituto em que faço um trabalho social há mais de dez anos. Conhecer a realidade ajuda a ter pé no chão. 

E eu vejo que consegui passar a minha simplicidade para elas. É a coisa mais bonitinha vê-las guardando moedinha por moedinha para comprar um brinquedo. Elas têm que aprender a dar valor às próprias conquistas.

Você brinca que o seu encontro com o Amilcare foi digno de almas gêmeas. Foi mesmo?

Eu morava lá no interior do Mato Grosso do Sul,  fiz duas ligações para participar do sorteio de um carro. E ganhei! Aí, quando fui morar em São Paulo, eu conheci o Amilcare e descobri que ele estava por trás daquela promoção lá atrás. Não é muito louco isso? Estamos juntos há 18 anos. É uma vida. 

Uma vez, você falou nas redes sociais sobre a sua boa relação com a Faa Morena [ex-mulher de Amilcare Dallevo]. Que você chegou para aumentar e não para dividir a família…

Eu sou muito família e gosto de paz. Não existe nada mais gostoso do que você chegar em casa e ficar tranquila em torno das pessoas que você gosta. Eu valorizo um Natal tranquilo, um almoço com todo mundo unido. Quando você tem isso dentro de casa, tudo flui: o trabalho, as amizades, as relações. 

Essa segurança não é uma coisa que o dinheiro traz, pelo contrário, vem pelo afeto. Se a gente não tem amor, não tem nada. A minha família é sagrada, meu porto seguro.

Você foi muito criticada assim que o Sensacional estreou, mas hoje as suas entrevistas têm repercutido bastante. O que mudou?

No começo, eu recebi muito não. As pessoas diziam que estavam sem agenda, davam uma desculpa. Agora é o contrário. As pessoas querem participar. A gente está ali, na briga, todo dia atrás de nomes legais para participar. Da minha parte, eu nunca menti e nem nunca destratei ninguém. Pode jogar no Google. Ninguém vai reclamar de mim (risos).

E eu não comecei no Sensacional, né. Eu fui estagiária, repórter de rua, fiz teatro. Eu estudei muito até me sentir segura. Hoje, eu sou dona de mim. Jamais vou esquecer de uma vez em que gravei com o Roberto Cabrini. A gente se desdobrou para ler o livro que ele tinha acabado de lançar.

No fim, eu perguntei para ele qual era o segredo de uma boa entrevista, e ele falou: 'Fazer o que você fez, a lição de casa". Ele ficou impressionado que eu fui em questões que ninguém mais foi e sabia de coisas que nem ele mais lembrava que tinha escrito. Fiquei feliz. É a sensação de colher o que se plantou.


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