Cassia Kis é chamada de 'hipócrita' por defender PL do aborto depois de abortar

Longe da TV desde o fim de Travessia, em maio do ano passado, Cassia Kis voltou aos holofotes nesta semana. A atriz de 66 anos gravou um vídeo em que defende o Projeto de Lei 1904, que criminaliza o aborto, e pediu a seus seguidores que compartilhem seu apoio. Internautas acusaram a artista de hipocrisia, já que ela mesma interrompeu uma gravidez no passado.

No vídeo, postado no YouTube do instituto católico Centro Dom Bosco na última terça (11), Cassia aparece diante de um fundo preto, com expressão séria, e se dirige diretamente à câmera. "Eu preciso de sua atenção por um minuto, porque o assunto é grave", começa a atriz.

"Hoje, terça-feira, está sendo discutido --melhor dizendo, se conclui exatamente hoje [a discussão], e por isso o apelo-- o Projeto de Lei 1904, que tem como finalidade criminalizar médicos e, em alguns casos, mães, que venham a fazer o aborto em estado gestacional avançado", explica ela, que pediu ao público para "meditar" sobre a situação.

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"Vamos pensar que estado gestacional avançado é qualquer estado, a partir do primeiro mês o estado gestacional já é importantíssimo. Mas imagine um bebê no ventre de sua mãe, com cinco, seis, sete, oito, nove meses, e ele recebendo uma injeção de cloreto de potássio direto no seu coraçãozinho. É dito que a dor é comparável a um infarto fulminante, então nós precisamos parar com isso imediatamente", diz.

Cassia falou que já é um avanço considerável o Projeto de Lei estar sendo debatido para se transformar em Lei --na quarta (12), a Câmara aprovou em votação relâmpago, que durou apenas 23 segundos, a tramitação em regime de urgência do PL. "Foi muito bem aceito pelos deputados", adianta a atriz.

"Qual é o seu trabalho? É procurar o deputado do seu Estado e dar apoio. Nós precisamos mostrar que nós somos muitos neste país, aprovando esse Projeto de Lei 1904. Então faça isso, com toda a educação do mundo, por favor. Ainda aproveite para compartilhar, claro, essa é uma ferramenta maravilhosa. Compartilhe o máximo que você puder. Façamos a nossa parte. Que nosso senhor Jesus Cristo nos abençoe e nos proteja", finaliza ela.

Hipocrisia?

Internautas contrários ao PL classificaram o vídeo de Cassia Kis como uma grande hipocrisia. Em 1997, antes de se converter ao catolicismo, se associar ao bolsonarismo e adotar um comportamento mais extremista, a atriz apareceu em uma capa da revista Veja com mulheres que haviam abortado.

"Cassia Kis foi capa da Veja em 1997 como uma das mulheres que já fez aborto. Hoje em dia, é biruleibe 22 patriota, mas não deixa ser uma 'abortista', como a direita gosta de chamar. E mesmo assim é acolhida pelos conservadores. Meio incoerente, né?", apontou Gabriel De Luca.

"A Cassia Kis tava rezando terço e cantando para pneu em porta de quartel após o candidato dela perder as eleições de 2022, não me choca ela apoiar esse absurdo de PL. Me chocaria se ela tivesse algum resquício de caráter", disparou Filipe Arthur no X (antigo Twitter).

"Cassia Kis, o que tem de ótima atriz, tem de loucura e falta de caráter, né? Como pode?", provocou Berg Araújo no X. "Não perca tempo com a Cassia Kis, ela gosta de aparecer e se faz de doida. Se tornou uma velha nojenta e hipócrita", criticou um internauta identificado como Rodrigo.

"Cassia Kis é uma que prefiro pensar que morreu, porque a dor de aceitar é grande demais", lamentou Mariana. "A culpa que a dodói da cabeça Cassia Kis carrega por ter abortado poderia ter sido resolvida com uma boa psicóloga, não precisava virar fanática religiosa e amargurada", disse Márcio Fla.

Luis Seuf ainda comparou Cassia a outra atriz que fez história na TV brasileira mas abriu mão da carreira para virar secretária de Jair Bolsonaro. "A diferença da Cassia Kis para a Regina Duarte é que a primeira ficou mais extremista no campo religioso, enquanto a Regina foca mais na questão política."

Lula chama PL de 'insanidade'

Neste sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é contra o aborto, mas que o PL 1904 é uma "insanidade". Durante uma coletiva na Itália, onde participou do G7 e discutiu, inclusive, a interrupção da gravidez, o político se mostrou totalmente contrário ao projeto.

"É insanidade alguém querer punir uma mulher numa pena maior que o criminoso que fez o estupro. É, no mínimo, uma insanidade isso", resumiu Lula na conversa com a imprensa. "Quando alguém apresenta uma proposta de que a vítima precisa ser punida com mais rigor do que o estuprador não é sério. Sinceramente, não é sério."

Lula já disse em outras ocasiões que é contrário ao aborto, mas não acredita que sua opinião pessoal possa sobrepor os interesses do Estado. "Não é novidade. Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, fui casado, tive cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é realidade, a gente precisa tratar como uma questão de saúde pública."