JACQUELINE SATO
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Jacqueline Sato em publicidade para seu Instagram; apresentadora da Band desabafou sobre doença rara
Apresentadora do Encantadores de Pets, da Band, Jacqueline Sato teve uma doença rara na infância que deformava seu olho esquerdo. A artista de 32 anos revela que teve momentos difíceis por causa do diagnóstico de blefarocalase, um excesso de pele na pálpebra superior, aos sete anos. "Fiz duas cirurgias", relembra. As intervenções aconteceram somente na adolescência da atriz.
Hoje, Jacqueline fala abertamente sobre a enfermidade que desenvolveu no passado. Por causa do problema, sua pálpebra esquerda inchava e desinchava aleatoriamente. Ela encarou uma maratona de consultas com diversos médicos durante três anos até encontrar um diagnóstico.
"Eu tinha sete anos quando desenvolvi a blefarocalase. Não tem tratamento. E é raro. Principalmente naquela idade, e em uma pálpebra só. O jeito foi esperar até que meu rosto de criança já estivesse um pouco mais próximo do que seria quando me tornasse adulta e fazer a blefaroplastia [cirurgia plástica que melhora o aspecto das pálpebra]", conta ela para o Notícias da TV.
"Fazer [a cirurgia] antes não adiantaria. É uma fase de crescimento bem intenso, e nós mudamos muito. Então, a recomendação do médico foi esperar mais uns três ou quatro anos e retornar para começarmos a pensar em operar. Passamos por vários outros médicos. Mas ele estava certo. Não foi nada fácil esperar. Afinal, a cada dia a aparência piorava. Mas, aos 12 anos, fiz a primeira cirurgia. Aos 15, fiz a segunda e última", detalha.
Segundo a artista, seus olhos já eram vistos como "estranhos" por ela ter traços orientais. A doença só a fez sentir feia e triste por pensar que seu mal era um "defeito". "Eu pensava muito [na plástica]. Afinal, uma pálpebra minha era diferente da outra, e isso gerava incômodo, olhares e perguntas. E tudo aconteceu muito rápido. De fato, eu fiz as duas cirurgias ainda na adolescência", relembra.
"Lembro que só comecei a usar maquiagem nos olhos um bom tempo depois da minha segunda cirurgia. Pois eu achava que, passando a maquiagem, ressaltaria ainda mais a assimetria e chamaria a atenção para os meus olhos. E isso era tudo o que eu não queria na época", desabafa.
O relato da apresentadora foi um dos pontos abordados em sua palestra na TedX, plataforma internacional de apresentações inspiracionais, em setembro último. Ao preparar seu depoimento sobre sua experiência de autoconhecimento e aceitação da sua ancestralidade, ela se deparou com dados impactantes sobre a cirurgia de ocidentalização dos olhos.
Por ter convivido com seu diagnóstico durante anos, Jacqueline considerava que era a única criança que desejava fazer plástica nas pálpebras. Infelizmente, constatou que muitos asiáticos procuravam pela intervenção para criar o sulco palpebral superior, a tal "dobrinha" da pálpebra superior.
"O que me chamou a atenção quando estava elaborando o meu TedX foi que descobri que muitas pessoas com características fenotípicas amarelas querem ou já quiseram fazer a blefaroplastia para mudar a aparência dos seus olhos. Meu caso foi porque eu tive essa condição específica da blefarocalase", destaca.
"Eu fiquei chocada quando soube que pessoas totalmente saudáveis, e perfeitas, não gostavam do formato dos seus olhos a ponto de quererem operar. E por que será? Claro que tem a ver com a sociedade na qual essa pessoa está inserida. Se o que é belo, valorizado, nunca se parece em nada com o que a pessoa é, isto vai afetá-la em maior, ou menor grau", analisa.
Atualmente, Jacqueline comanda dois programas na Band, o Encantadores de Pets e Bruce Lee: A Lenda. A sua veia de apresentadora surgiu depois de anos como atriz. Entre seus trabalhos recentes na ficção estão as novelas Sol Nascente (2016) e Orgulho e Paixão (2018), ambas na Globo, e a série (Des)Encontros (2014-2018), no Canal Sony.
Para ela, estar no ar é um avanço na representatividade asiática na televisão brasileira. A artista, que cresceu sem ter referências de "mulheres amarelas", entende que hoje pode ajudar, estimular e inspirar jovens de seu grupo étnico de alguma forma.
Antes da Band, Jacqueline se viu diante de um momento conturbado em Sol Nascente. A novela foi alvo de críticas por ter uma família japonesa representada por Luis Melo (Kazuo Tanaka) e Giovanna Antonelli (Alice Tanaka). A atriz interpretou Yumi Tanaka no clã.
"Ao mesmo tempo em que vivia um momento feliz, ocupando um espaço de prestígio, com um bom papel no núcleo central e dando tudo para contar da melhor forma a história da Yumi, eu era constantemente lembrada do quanto ainda precisamos lutar", frisa.
"E o quanto é preciso que mudanças aconteçam para que tenhamos obras audiovisuais que abarquem toda a pluralidade étnica que somos nesse mundo, e no caso, no nosso país."
Em 2020, Danni Suzuki expôs que deveria ter sido protagonista da novela, mas que foi substituída por Giovanna na última hora. A revelação trouxe à tona o debate de que o folhetim tinha um núcleo japonês com poucos asiáticos.
"Ficou ainda mais nítido o quanto a representatividade é uma questão importante e urgente no nosso país. No mundo, na real. Discutir esse assunto, trazer dados a respeito, e dar visibilidade a esta questão é um belo começo, já que muita gente nunca parou sequer para pensar nisso", finaliza.
Confira relato de Jacqueline Sato para o TEDx Talks:
Confira vídeos de Jacqueline Sato na Band:
Ver essa foto no Instagram
Ver essa foto no Instagram
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.