REJEIÇÃO
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Nego Di consola Lucas Penteado após a primeira festa do BBB21; ator levou 'falsa' cantada
Era só para ser uma brincadeira na festa para promover o primeiro beijo do Big Brother Brasil 21, mas virou uma treta que varou a noite e invadiu o dia seguinte. Na quinta-feira (28), Lucas Penteado ficou magoado quando Kerline Cardosofingiu interesse por ele, mas depois pulou fora. A DR que veio depois e o choro sentido do ator foram apontados por muitos como drama, exagero regado a álcool, e até falta de maturidade por ouvir um "não" na balada. Mas o sofrimento dele tem, sim, a ver com a estrutura racista e a posição do negro na sociedade.
É claro que não dá para tomar a frente e falar das dores de Lucas com propriedade enquanto ele está confinado, mas estudos sobre relacionamento interraciais ajudam a ter uma ideia do que está por trás desse sentimento. O brother chegou a falar durante uma crise de choro, enquanto era consolado por Nego Di, que nunca havia despertado interesse em uma mulher branca, e que isso o fez se sentir bem antes de descobrir que não era real.
"Foi verificado em alguns estudos por [Franz] Fanon [1925-1961] que o racismo nas sociedades colonizadas acontece porque é consentida uma ideia de que o homem natural, a pessoa, o humano, seria o homem branco. Esse seria o padrão, e o que está fora não é tratado com respeito, dignidade. Então o homem negro não era visto como pessoa, e ainda ficam esses resquícios hoje", explica a psicóloga Grazielli Pereira Chaves, graduada na PUC-SP e cocriadora do projeto Escutando Elas, citando o psiquiatra e filósofo francês que estudou a psicopatologia da colonização e suas consequências.
Como a sociedade ainda carrega a cultura racista, a associação da branquitude como algo "normal" e "superior" poed fazer com que o elogio ou interesse de uma mulher branca tenha um impacto grande para um homem negro. "Nessa busca de se aproximar da branquitude, o homem negro pode entender o afeto de uma pessoa branca como um sentimento de ascensão, de estar evoluindo", pontua Grazielli.
"Nesse caso, entra o racismo trazendo todos esses sofrimentos. De que a pessoa negra vive buscando se igualar, se aproximar do ser humano, com a ideia encoberta de que ser humano é ser branco. Quando a gente coloca esse padrão como natural, parece que é possível chegar até ele, só que não é, porque a questão da branquitude está na cor da pele, que a gente não muda. Então, quem não é branco, dentro desta lógica, fica estagnado num patamar inferior", complementa a psicóloga.
O próprio perfil de Lucas no Twitter fez alguns posts para explicar o caso da perspectiva racial. Confira:
5 - A dor do Lucas como um menino negro é essa, o racismo que as vezes é a hipersexualização, as vezes a indiferença do corpo negro. Ele repetiu diversas vezes na casa, que nunca foi visto por uma mulher branca. A atitude da Kerline o fez se sentir assim. Mexeu com as feridas! pic.twitter.com/V6mE3oWk1e
— Lucas Koka Penteado 🏀 (@koka_lucas) January 28, 2021
Além do recorte racial, o de gênero também pode ser usado para entender por que uma brincadeira se transformou em choro e briga na primeira festa do BBB21. "Existe socialmente essa construção de que a mulher é tida como objeto, demonstra status, então, quando há a rejeição, é como se a mulher tivesse diminuído o homem", explica Grazielli.
"É uma questão histórica, cultural e também depende da história da pessoa pra isso ser mais profundo ou não. Assim como a questão racial, deixa o vazio da busca de reconhecimento, de afirmação, da busca em ser uma pessoa respeitável, amável, bonita [através do olhar do outro]", complementa.
A dificuldade em lidar com a rejeição, explica a psicóloga, pode ter a ver com a maneira como a pessoa se vê no mundo e gostaria de ser visto, gerando a necessidade da aceitação do outro. "Quando a gente está nessa situação, tem um vazio, uma falta de conexão, de autoconhecimento, então a rejeição pode doer muito", afirma.
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