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SAÚDE MENTAL

De depressão a Borderline: Portadores de transtornos devem participar de realities?

REPRODUÇÃO/RECORD

Montagem com imagens de Raissa Barbosa (à esq.) e Luiza Ambiel

Raissa Barbosa e Luiza Ambiel lidam com transtornos mentais no confinamento de A Fazenda 12

PAOLA ZANON

paola@noticiasdatv.com

Publicado em 20/9/2020 - 7h00

A crise de Raissa Barbosa em A Fazenda 12 na última terça-feira (15) trouxe à tona um problema enfrentado por ela: o transtorno de personalidade Borderline. Assim como a vice-miss bumbum, outros participantes já entraram em reality shows sendo portadores de algum transtorno mental, o que fez o público se perguntar se é saudável a participação dessas pessoas em um programa de confinamento com tanta exposição.

Além de Raissa, outras participantes que passaram pelo reality rural também lidavam com transtornos mentais. Foram os casos de Monique Evans, Lu Schievano e Cristina Mortágua, por exemplo. O Big Brother Brasil também teve de lidar, logo em sua primeira edição, com a bulimia de Alessandra Begliomini, a Leka.

O Notícias da TV conversou com especialistas em saúde mental, e a conclusão é unânime: cada caso é um caso e deve ser avaliado, principalmente, por quem sofre com o transtorno.

"Cada pessoa tem sua história de vida. Há quanto tempo e como lida com isso? Elas se trata? Sabe o que fazer para controlar?", questiona Ana Carolina Marques, que é psicóloga clínica e co-fundadora do Una, uma consultoria de desenvolvimento humano.

A profissional explica que, dentro de um transtorno, há outros derivados que podem acarretar diversas reações. "Existe, por exemplo, o estresse pós-traumático. E pode ter alguma situação no reality que vai trazer sensações desse trauma que a pessoa teve. Então, não é legal ela participar", declara.

Ao mesmo tempo, há a questão da socialização. Também psicóloga clínica, Roberta Badilho atua como oficineira criativa e destaca a importância de o público entender esses transtornos. "A conscientização abre espaço para a inclusão social a partir de direitos e oportunidades iguais, procurando afastar as sensações de rejeição e abandono entre essas pessoas", pontua.

"A mídia tem um papel essencial [na socialização], partindo do princípio da inclusão nos reality shows. É importante que levem essa questão de maneira responsável, entendendo a seriedade do assunto, e não utilizando qualquer tipo de crise como oportunidade de audiência", completa Roberta.

Uso de medicamentos

Luiza Ambiel também é outro exemplo no reality rural. A musa da Banheira do Gugu revelou que estava tomando medicação para tratar sua depressão quando se ofendeu com a insinuação de Juliano Ceglia de que ela estaria usando drogas. Já no BBB20, foi o contrário: Gabi Martins precisou parar de tomar antidepressivos para poder entrar no programa.

A interrupção do tratamento com remédios psiquiátricos, no entanto, pode ser prejudicial e não é indicada --apesar de, mais uma vez, se tratar da escolha de cada um. "Ela pode levar o paciente a apresentar a sintomatologia que havia motivado o início do tratamento", alerta Roberta. 

"Se uma pessoa tem diabetes, ela precisa tomar a insulina. Ela não vai interromper o tratamento dentro do reality show. Por que, então, alguém com transtorno mental deveria interromper e deixar de ter esse suporte? O programa tem que estar preparado para isso", coloca a fundadora do Una.

Precauções e suporte

Para Ana Carolina, a resolução pode ser simples: a produção dos programas pode realizar diversos testes e avaliações com os candidatos, procurando saber o que esperar de cada caso. "Inclusive, deveriam fazer isso com quem não tem nenhum transtorno, porque estar em confinamento pode fazer com que as pessoas desenvolvam alguma coisa", ressalta.

Além disso, os programas devem oferecer suporte médico para esses casos. "Acredito que eles sejam obrigados a fornecer atendimento médico, ter uma ambulância no local. Por que não ter também um apoio psiquiátrico e psicológico? Existem muitos agentes estressores lá dentro", afirma ela.

"É de extrema importância que a produção dos programas tenha ciência da necessidade de apoio psiquiátrico e psicológico nesses casos, dentro dos bastidores", concorda Roberta.

As psicólogas afirmaram que é essencial que a produção saiba pelo que a pessoa está passando, até para poder oferecer o suporte necessário, mas que fica a critério delas revelar ou não para o público ou para os outros participantes. "É uma questão íntima", argumenta Ana Carolina.


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