SARA RAMIREZ
DIVULGAÇÃO/ABC
Na série e na vida real, Sara Ramirez é bissexual, mas recentemente declarou ser uma pessoa agênero
Intérprete de Callie Torres em Grey's Anatomy entre 2006 e 2016, Sara Ramirez é bissexual também na vida real. Porém, recentemente a atriz se declarou como bi não-binária. Isso significa que a latina se relaciona romântica e/ou sexualmente com homens e mulheres, mas não se considera dentro de um gênero específico.
A não-binariedade ou identidade não-binária é uma espécie de "termo guarda-chuva", que serve para abraçar várias identidades de gênero que não se enquadram unicamente ao padrão masculino ou feminino. Estes termos sexuais são frutos de uma construção social, como explica a neuropsicóloga Ana Carolina Del Nero ao Notícias da TV.
"Biologicamente, existem dois sexos: o masculino e o feminino, e os hermafroditas [pessoas que nascem com os dois], mas a não-binaridade tem muito com a ver com uma concepção de gênero fora disso. O não-binário é uma pessoa que não quer se identifcar com uma dessas construções sociais de o que é ser homem ou o que é ser mulher", declara a especialista.
Esse tipo de identidade é usada por pessoas que não querem se associar apenas com a feminilidade ou com a masculinidade, de elementos simples como vestimentas a comportamentos perante à sociedade.
É, por exemplo, uma personalidade diferente de uma pessoa transgênero que sente ter "nascido no corpo errado" e luta para ser tratada como homem, apesar de ter nascido com órgãos femininos, ou vice-versa.
Já a pessoa cuja personalidade condiz com o seu corpo é um indivíduo dentro da cisnormatividade. Um não-binário foge deste padrão "cis" dentro do movimento LGBTQ+.
"Eu acho que muitas pessoas começaram a sentir que a divisão física entre homens e mulheres era uma restrição das possibilidades de expressão de gênero da humanidade. Aí foi surgindo a identidade de gênero não-binária, como uma forma de ampliar a expressão, quando uma pessoa que não se sente contemplada pela ideia de ser homem ou de ser mulher", avalia Ana Carolina.
Ex-funcionária do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual da USP, ela também ensina que este tipo de identidade mais fluida é uma forma de "atualizar" o termo "andrógino", muito usado antigamente para designar uma personalidade mesclada de feminino com masculino.
"A ideia é exatamente que essas pessoas possam transitar entre várias expressões. O post da Sara Ramirez é bem representativo, porque é sobre a ideia de que ela pode ser tudo, que ela não se limita ou se reduz a uma única coisa", exemplifica a especialista em gênero.
Questionada sobre qual seria o pronome de tratamento correto para se dirigir a alguém que se identifica como não-binário, a psicóloga ressalta a necessidade de exercitar a comunicação como única opção.
"É a pessoa que vai falar. Infelizmente, a língua portuguesa não tem um gênero neutro, como a inglesa. Então, a nossa língua não permite o pronome neutro. Existem algumas adaptações, mas elas não são perfeitas. As pessoas não-binárias que definem, escolhem se elas preferem ser chamadas de 'ele' ou 'ela', ou outra forma, vai da pessoa", declara Ana Carolina.
"Cabe perfeitamente a gente perguntar, se interessar, para saber como a pessoa quer ser identificada, como ela quer ser tratada, chamada. Muitas vezes elas escolhem nomes de gênero neutro, que não são associada a nenhum gênero específico", completa.
Pessoas não-binárias podem classificar a sua identidade de gênero de várias maneiras: agênero (ausência total de gênero), andrógino (mescla de feminino com masculino), neutrois (identidade de gênero neutra), bigênero (identidade de gênero dupla ou ambígua), entre outras.
Existem também: poligênero (identidade de gênero plural ou múltipla), gênero-fluido, intergênero (identidade de gênero interligada a uma variação intersexo, demigênero (metade da identidade de um determinado gênero, sendo a outra parte conhecida ou desconhecida); terceiro gênero (identidade de gênero fora do masculino ou feminino).
As últimas classificação são: trigênero (identidade de gênero tripla), maverique (um gênero que é presente fora dos gêneros masculinos, femininos e neutros), e o pangênero (pessoa que tem todos os gêneros acessíveis e possíveis dentro de sua vivência). Todos estes 11 tipos de classificação fazem parte do guarda-chuva do não-binarismo.
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