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Reprodução/Globo
Rodrigo Bocardi no Bom Dia São Paulo de 30 de janeiro, último dia que apresentou o jornal da Globo
O jornalista Rodrigo Bocardi foi demitido pela Globo por justa causa. A emissora tomou decisão tão drástica após seu Comitê de Auditoria e Compliance e sua Comissão de Ética e Conduta analisarem denúncia muito grave apresentada contra o ex-apresentador do Bom Dia São Paulo. Bocardi foi acusado de cobrar de empresas de ônibus, coleta de lixo e de obras públicas para não criticá-las no ar. Ele nega e se prepara para processar a Globo.
O Notícias da TV apurou que a denúncia que sacramentou o afastamento de Bocardi envolveu um segundo jornalista (ele não terá seu nome exposto por falta de provas). Esse profissional é dono de uma agência de relações-públicas que trabalha para partidos políticos e empresas que prestam serviços para governos. Trata-se de um experiente e bem-sucedido gestor de crises, que atua, por exemplo, quando um vereador é acusado de ter ligações com o crime organizado ou uma empresa é acusada de lesar o consumidor.
Esse jornalista seria o operador de um esquema que cobraria cifras milionárias de empresários para que suas empresas não fossem alvo das broncas que Bocardi disparava no Bom Dia São Paulo. Dono de três empresas, Bocardi também prestava serviços de comunicação institucional e media training, mas disso a Globo sabia (e tolerava).
Por orientação de seus advogados, Bocardi não tem dado entrevistas. Em conversas reservadas, tem reagido com contundência e indignação à acusação de que cobraria "seguro" para não falar mal de políticos e empresas. Argumenta que era o apresentador mais crítico da Globo, que não poupou nenhuma autoridade ou concessionário público, que "mexeu com todas as feridas".
Ao ser confrontado por uma funcionária da área de compliance, Bocardi teria respondido: "Olha no ar!", confiante de que não haveria evidência de que tenha acobertado alguém em seus 13 anos de Bom Dia São Paulo.
Bocardi também argumenta que não tinha poder de decisão final sobre o que ia ou não ia ao ar no telejornal e que trabalhava na maior parte do tempo "no improviso", abordando fatos que acabaram de acontecer. Ele não descarta que terceiros tenham usado sem nome sem autorização. Em vídeo publicado na sexta-feira (31), disse que está com a consciência "bem tranquila" e que, em seus 25 anos de Globo, sempre seguiu "os mesmos princípios".
Rodrigo Bocardi e o jornalista a quem foi vinculado na denúncia são velhos conhecidos. Muitos dos clientes do jornalista eram e são personagens de reportagens de telejornais da Globo, e sua empresa tem um funcionário que monitora diariamente o Bom Dia São Paulo. Como assessor de imprensa, ele faz a ponte entre o jornalista da Globo e a empresa.
Ao Notícias da TV, o gestor de crises negou peremptoriamente que tenha tido qualquer outra relação com Rodrigo Bocardi que não fosse a de assessor de imprensa e apresentador. Assim como Bocardi, ele acredita que foi envolvido em um "jogo bruto de vingança", "um negócio montado para destruir". Nessa narrativa, a denúncia ao compliance da Globo teria sido investigada por um jornalista da própria emissora, que supostamente teria interesse na saída de Bocardi, o que é questionável eticamente.
É de se supor, contudo, que a Globo não demitiria um profissional como Rodrigo Bocardi sem ter evidências ou provas, ainda mais por justa causa. Também não emitiria um comunicado dizendo que ele "foi desligado por descumprir normas éticas do Jornalismo". A emissora deverá ser processada por Bocardi e terá que apresentar esse material à Justiça.
Demissões por justa causa são raras em qualquer empresa. Não há registro na imprensa de caso semelhante com jornalistas da Globo, nem no episódio envolvendo o repórter Mauro Naves e o jogador Neymar, em 2019. Naquele mesmo ano, Dony de Nuccio foi demitido após o Notícias da TV revelar que ele prestava serviços para empresas e que negociara um contrato de R$ 60 milhões com o Bradesco, o que viola o código de ética dos veículos do Grupo Globo.
Contudo, diferentemente de Bocardi, De Nuccio (assim como Naves) não só recebeu todos os seus direitos trabalhistas como ganhou um texto de despedida do então diretor-geral de Jornalismo, Ali Kamel, que anunciou seu desligamento "com pesar".
O funcionário demitido por justa não tem direito à multa de 40% sobre o saldo do FGTS nem aviso prévio e proporcionais de férias e 13º salário. Só recebe os dias trabalhados ainda não pagos e férias vencidas. Bocardi era celetista e estava havia 25 anos na Globo, mas durante um bom período foi PJ.
Procurada, a Globo não comentou o assunto, por ser "decisão do compliance".
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