EXAUSTAS
Reprodução/Wondery
Giselle Itié dá depoimento emocionante sobre abusos de seu passado no podcast Exaustas
[Alerta de gatilho: O texto a seguir pode conter informações sensíveis a sobreviventes de abuso sexual e pessoas com depressão ou tendências suicidas]
A atriz Giselle Itié decidiu usar o podcast Exaustas, que estreia nesta quinta-feira (26), como uma válvula de escape para vários traumas de seu passado. Logo no primeiro episódio, a estrela de Bela, a Feia (2010) conta que sofreu abusos sexuais, que perdeu a virgindade em um estupro, que seu primeiro namorado se suicidou e que ela também tentou tirar a própria vida em um ato de desespero.
É um depoimento forte, mas necessário, que dá o pontapé no programa que ela divide com as também atrizes e amigas pessoais Samara Felippo e Carolinie Figueiredo. Para Giselle, falar sobre o assunto é uma forma de terapia --tanto para ela quanto para quem já viveu algo parecido.
"Falar cura, não só as mulheres que estão escutando, mas a gente também, né?", resume ela em entrevista ao Notícias da TV. É muito importante a gente se ouvir. Por isso é tão importante fazer terapia. Porque você vai se escutando, você vai colocando as suas emoções em lugares seguros."
Giselle admite que entrou no estúdio do Exaustas no dia da gravação do primeiro episódio tensa. "Fui para um cantinho da sala e comecei a chorar. Eu parecia uma menininha, sabe? Ficava repetindo: 'Ai, eu não vou conseguir'. E aí teve um momento eu que eu falei: 'Gente, eu vou ter que ler para me sentir mais segura'. Porque eu tinha escrito tudo antes", conta a atriz.
O texto é repleto de emoção. Ela conta que desde pequena tinha um pesadelo recorrente, no qual estava em uma floresta, à noite, fugindo de um homem --ou de vários. "Homens que eu conhecia, da família. Muitas vezes, eu não dormia, pois tinha medo de ser pega no meu sonho. Até que um ex-namorado, meu primeiro ex, se suicidou. E foi aí que eu comecei a questionar o meu lugar."
"Quanto mais eu me tornava mulher, mais objetificada me sentia. E o vácuo foi crescendo, e comecei a me machucar. De verdade. A me cortar. Até que eu tentei tirar a minha vida. As várias situações que me atravessavam só confirmavam o quanto meu corpo era nojento, meu corpo era culpado", diz.
Com 17 anos, eu perdi a minha virgindade em um estupro. E foi neste momento que eu me perdi de vez e compreendi o quanto eu era oca. Passei a ter uma depressão profunda, bulimia, anorexia nervosa. Eu me cortava, e tudo que eu queria era desaparecer de vez.
Giselle não segura as lágrimas enquanto lê o texto preparado antes e que revisita alguns de seus momentos mais duros. À reportagem, porém, ela encara esse trecho como um passo essencial. "Foi muito importante ter falado. Porque, infelizmente, não é sobre mim. É sobre muitas mulheres que passam por isso. Fui eu que falei, mas todas as mulheres, se buscarem [caso similar], vão encontrar. Sinto que dar nome e entrar em contato com essas dores mais profundas é necessário para uma sociedade mais saudável."
"E olhar para essa dor também. A gente fala o tempo inteiro sobre isso, sobre olhar para essa ferida, para que um dia ela possa ser olhada de uma forma menos dolorida, né?", complementa Samara. "A minha dor já machucou milhares de mulheres. É importante entender que a gente não está sozinha."
divulgação/wondery
Samara, Giselle e Carolinie comandam o podcast Exaustas
O Exaustas surgiu das lives semanais que as três atrizes organizavam toda semana durante a pandemia de Covid-19. Além de relatarem seus dramas e os motivos para estarem cansadas --como maternidade, família, trabalho, machismo e as pressões da sociedade--, elas contam com a participação de outras mulheres que fazem seus desabafos.
É um ambiente feminino e feminista, mas elas dizem que há espaço para o público masculino também. "O nosso foco é acolher as mulheres, fazer com elas se sintam cada vez mais à vontade nas suas peles e nas suas almas. Mas sim, é muito importante os homens também escutarem e aprenderem, né? Com todas as nossas dores e experiências", aponta Giselle.
"Eles são bem-vindos, mas já fiquem avisados que a gente fala muito da masculinidade frágil (risos). Então, precisa chegar já assumindo esse lugar de que ele também é um corpo opressor", diz Samara. "Então, que esteja ali com ouvidos atentos, com resiliência, entendendo o corre, o rolê e a violência que ser uma mulher na sociedade implica."
"A gente tem certeza de que os homens vão assistir, mesmo que seja de uma maneira indireta. Vão ouvir com as suas companheiras, com as suas filhas... Inclusive, sem dar spoilers, a gente tem até um lugar para receber áudios deles. Então, sim, os homens são bem-vindos e podem inclusive participar", adianta Carolinie.
Elas já alertam, porém, que o Exaustas não é um curso nem um beabá para que os homens sejam melhores. "Se pedir para ensinar qualquer coisa, a nossa resposta é: 'Se vira' (risos)", brinca Giselle. "Já estamos fazendo um bom serviço aqui, se você não conseguir..."
"A gente não quer ser didática, nem com os homens nem com as mulheres. A gente vai contar as nossas histórias, trazer pautas. Mas eu espero muito que os homens aprendam, porque não tem outra forma de se mudar, de transformar, de mudar o mundo, senão aprender", sentencia Carolinie.
Como dá para perceber, o Exaustas propõe conversas densas, sobre temas complicados. Mas o trio de apresentadoras também traz descontração, leveza e muito deboche para que as discussões sejam assimiladas de maneira mais simples. "O humor salva, né? Eu aprendi que o humor é uma cura profunda. Tanto que sou casada com um comediante há dez anos", brinca Samara.
"Já é tudo tão pesado, tudo tão difícil, as dores são tão profundas, que trazer um pouco de piada no momento ajuda. Obviamente, precisa ter um cuidado, a gente pensa muito na transição de um assunto para o outro, como não cortar a história da outra, não roubar a história da outra. Mas é gostoso trazer essa piada, adoro trabalhar com sarcasmo, com deboche. Porque também é uma forma de de transgressão e de revolução", aponta a Vera de Vai na Fé (2023).
"O podcast é tragicômico como é a nossa vida, né?", complementa Carolinie. "E a gente se conhece há muitos anos, tem muita intimidade... Aliás, até demais (risos)! Tudo ali é bem-vindo, não tem uma emoção que a gente não possa sentir. Então, acaba que é real como a vida, tragicômica como a vida. E é uma delícia! Não é fácil, mas é maravilhoso. E está muito forte e bonito!"
Exaustas estará disponível em todos os serviços de streaming de áudio e no canal do YouTube da Wondery a partir das 20h, com novos episódios lançados toda quinta-feira, no mesmo horário.
Se você está atravessando um momento difícil e precisa de ajuda, ligue para o CVV (Centro de Valorização a Vida), no número 188, e receba apoio emocional e prevenção do suicídio. A ligação é sigilosa e gratuita para todo o território nacional.
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