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BRUCE GOMLEVSKY

Ator da Globo leva calote do governo e perde quase R$ 100 mil: 'Momento sombrio'

DALTON VALERIO/DIVULGAÇÃO

Bruce Gomlevsky no monólogo Memórias do Esquecimento; ator teve prejuízo com peça de teatro - DALTON VALERIO/DIVULGAÇÃO

Bruce Gomlevsky no monólogo Memórias do Esquecimento; ator teve prejuízo com peça de teatro

VINÍCIUS ANDRADE

Publicado em 27/6/2019 - 5h27
Atualizado em 27/6/2019 - 16h28

Com mais de 70 espetáculos no currículo, Bruce Gomlevsky enfrenta o "momento mais sombrio" de sua carreira de 25 anos dedicados ao teatro. O ator, diretor e produtor levou um calote da Prefeitura do Rio de Janeiro e precisou tirar dinheiro do próprio bolso para bancar a montagem da peça Um Tartufo. Mesmo sem patrocínio, ele também estreou um monólogo com investimento próprio. Ao todo, foram gastos R$ 100 mil. A Secretaria Municipal de Cultura confirmou que não fará o pagamento.

"Um Tartufo ganhou o edital [da Prefeitura do Rio], mas foi feito com recursos próprios. Foram R$ 75 mil no Tartufo e mais R$ 25 mil no meu monólogo [Memórias do Esquecimento]. Não voltou 5% desse dinheiro pro meu bolso, mesmo com sucesso de bilheteria. O Tartufo recebeu oito indicações a prêmios. Foi um trabalho de pesquisa com oito atores trabalhando nove meses sem ganhar nada", desabafa Gomlevsky em entrevista ao Notícias da TV.

"Se a gente conta isso para alguém que não é da área, as pessoas acham que a gente é maluco. Mas é um ato heroico. Eu boto dinheiro que eu ganho na televisão, no cinema e em musical. Invisto na peça e o retorno que eu tenho não chega nem a 5%. Isso deixa claro que é uma área que precisa de subvenção, precisa de apoio do Estado", opina o ator de 44 anos.

Em junho de 2016, a Prefeitura do Rio de Janeiro, na época comandada por Eduardo Paes, anunciou o Programa de Fomento às Artes. O edital prometia distribuir R$ 25 milhões para projetos culturais --R$ 11 milhões direcionados ao teatro. Um dos espetáculos selecionados foi Um Tartufo, dirigido e produzido por Gomlevsky.

O resultado do edital saiu em outubro daquele ano, mas os projetos selecionados não receberam o dinheiro durante a gestão de Eduardo Paes, que chegou ao fim em dezembro de 2016. O atual prefeito, Marcelo Crivella, assumiu o cargo em 2017 e aplicou um calote nos mais de 200 vencedores do edital.

Em junho de 2017, foi realizada uma reunião de três subsecretários da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) com representantes do setor cultural. Na ocasião, a Prefeitura do Rio de Janeiro informou que não quitaria as pendências. Em nota enviada à reportagem nesta quinta (27), a secretaria disse que está desobrigada de pagar pelo edital.

"O Fomento 2016/2017 foi lançado pela gestão passada [Eduardo Paes], mas sem previsão orçamentária. Além disso, o edital condicionava o pagamento à arrecadação, que, naquele ano, apresentou queda. A própria gestão anterior, no final de 2016, informou que não faria o pagamento daquele fomento. Legalmente, a Prefeitura está desobrigada de pagar aquele edital", justificou.

"Existe um desmonte na nossa área. A gente percebe que os teatros da Prefeitura do Rio de Janeiro estão sendo desmontados, estão sucateados, estão sendo entregues. Em termos estaduais, o governo do Rio de Janeiro já fez editais, mas hoje em dia já não existe mais nenhuma possibilidade. Em termos federais, o Ministério da Cultura acabou com esse novo governo", explica o ator, atualmente contratado pela Globo.

Depois da temporada de prejuízos em 2018, Gomlevsky estava pronto para reestrear Um Tartufo e Memórias do Esquecimento neste ano. Dessa vez, teria apoio do Teatro Caixa, no Rio de Janeiro. Mas aí veio um novo banho de água fria. O governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou uma revisão nos patrocínios de estatais federais, e as exibições das peças no teatro público foram canceladas.

"Não quero falar mal da empresa [Caixa Econômica Federal], porque é um problema exclusivo desse governo, mas nós tivemos temporadas canceladas. Não só nós, mas realizadores de outros espetáculos também. Estamos vivendo uma situação como eu nunca vivi em 25 anos de carreira. É um momento muito sombrio, eu nunca vivi isso", lamenta o ator.

MAURICIO FIDALGO/TV GLOBO

Bruce Gomlevsky ao lado de Agatha Moreira na novela Novo Mundo, exibida na Globo em 2017


Globo salva

O prejuízo no teatro contrasta com o bom momento vivido por Bruce Gomlevsky na TV e no cinema. Nos últimos anos, ele trabalhou nas novelas Liberdade, Liberdade (2016) e Novo Mundo (2017), na Globo. Também fez a série Ilha de Ferro, disponível no Globoplay, e agora está gravando Desalma, um drama sobrenatural para o serviço de streaming da emissora.

"Sou contratado na Globo por obra. Tenho sorte de ter emendado um trabalho no outro, mas por enquanto eu não tenho um contrato longo. Adoraria ter um acordo mais longo com a Globo, mas não tenho. Agora estou fazendo Desalma. Meu contrato acaba no fim de setembro e deve ser renovado para uma segunda temporada, como está programado", explica o ator.

Dividido entre um trabalho e outro, Gomlevsky não vai parar de fazer teatro. De 1º de agosto a 8 de setembro, a peça Um Tartufo estará em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro. "Sem patrocínio, dependendo só da bilheteria. O risco é não se pagar ou ter prejuízo", especula.

"Nós vivemos nessa montanha-russa de emoções, fazendo teatro, cinema e televisão. Investindo dinheiro em teatro, perdendo ou ganhando. Eu invisto no meu trabalho. Na verdade, eu não vou deixar de produzir. Nesses momentos de crise é que nós devemos nos fortificar e continuar produzindo e resistindo. Fazendo da maneira que é possível fazer", desabafa Gomlevsky.

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