TENSÃO
Reprodução/TV Globo
Rodrigo Bocardi, César Tralli e Carlos Tramontina: apresentadores de SP também renegociarão contratos
O processo de "despejotização" dos altos salários desencadeado pela Globo no Rio de Janeiro nos últimos meses acaba de chegar a São Paulo. A emissora começou nesta semana a convocar jornalistas, repórteres e executivos com contratos de pessoa jurídica (PJ) para renegociarem seus vínculos. Quer liquidar os atuais contratos e registrar os profissionais como celetistas, em carteira de trabalho. A medida causou inquietação.
O Notícias da TV apurou que a Globo está propondo pagar aos jornalistas e executivos os mesmos salários que eles ganham atualmente, como PJ. Ou seja, não há redução nominal de valores, o que poderia ser interpretado como ilegal.
A oferta parece boa, afinal a empresa passará a ter custos maiores com cada profissional (por volta de 40% a mais por ano). Mas, assim como no Rio, a maioria dos profissionais está se sentindo desconfortável com a abordagem da Globo.
Primeiro, porque, apesar de ser uma "proposta", os jornalistas sentem que é uma obrigação, que eles não terão futuro na casa se não aceitarem virar celetistas.
Em segundo lugar, perdem a estabilidade que um contrato de três ou quatro anos oferece, pois podem ser demitidos com o pagamento de apenas um salário (o aviso prévio). E, por último, passam a ganhar menos em valores nominais, por causa dos descontos de folha de pagamento.
"Acho isso escandaloso. A emissora está nos obrigando a aceitar uma mudança para se livrar de multa e processo na Justiça", diz um profissional, que pede sigilo sobre sua identidade à reportagem.
Ele vê uma estratégia "esperta" da Globo: após dois anos do encerramento dos contratos de PJs, ela não pode mais ser processada por direitos celetistas, de acordo com a legislação, e se livra de um potencial enorme passivo trabalhista. Pode, então, demitir quem hoje é PJ a um custo relativamente baixo.
A "despejotização" dos altos salários da Globo é consequência de uma ação civil pública que corre contra a emissora no Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, no Rio de Janeiro, como revelou o Notícias da TV com exclusividade na terça (25). A emissora se viu obrigada a renegociar contratos para evitar multas na Justiça e para não correr o risco de ser processada por ex-PJs que reivindicam direitos trabalhistas.
Nesse processo, a Globo está aproveitando também para se livrar de profissionais dos quais não faz mais questão de ter sob contrato, porque não são produtivos na maior parte do ano.
Foram os casos, por exemplo, do apresentador Otaviano Costa (que não aceitou redução salarial), da diretora Cininha de Paula (que vai trabalhar apenas por temporada, durante as gravações da Escolinha do Professor Raimundo) e do humorista Leandro Hassum.
A emissora também tem renegociado altos salários, superiores a R$ 100 mil mensais, de apresentadores e atores. Nomes do calibre de Galvão Bueno, Fernanda Montenegro e Cléber Machado tiveram que aceitar a nova realidade.
Além de questões legais, as renegociações visam reduzir os custos com produção da emissora, que aumentaram por causa da concorrência do Globoplay com a Netflix. No ano passado, a emissora teve um prejuízo operacional de R$ 530 milhões. Só não fechou no vermelho por causa de ganhos com aplicações financeiras.
A Globo nega que as renegociações de contrato tenham relação com a ação judicial sigilosa que corre no Rio de Janeiro. Diz que já teve decisão favorável, o que é fato, mas o processo segue em segunda instância na Justiça Trabalhista.
"As mudanças implementadas não têm como objetivo a redução de remuneração e tampouco resultaram em qualquer prejuízo aos talentos", diz a Globo em nota. "São decorrentes da reestruturação que prepara a empresa para os desafios do futuro".
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