YGOR MARÇAL
LARISSA VIEIRA/DIVULGAÇÃO
O ator Ygor Marçal: menino demorou meses para revelar aos pais problemas que enfrentava
Aos 11 anos, o ator mirim Ygor Marçal encara a dor de sofrer racismo na escola mesmo aparecendo na TV até o ano passado --seu último trabalho na Globo foi a novela Amor Perfeito (2023). Alvo de agressões verbais e excluído por alguns colegas, ele não se abriu com a família e passou a apresentar um comportamento introspectivo dentro de casa, inclusive perdendo o apetite. O menino só revelou o que estava acontecendo à mãe, Andrea Ribeiro Marçal do Nascimento, 52 anos, há cerca de um mês.
Ygor conversou com o Notícias da TV na quarta passada (20), Dia da Consciência Negra. Agora, quer contar o que está acontecendo com ele para que as pessoas pensem antes de dizer coisas preconceituosas. "Chamar de 'macaco' machuca", fala.
"As pessoas têm que pensar duas vezes, porque chamar o outro de 'pretinho, macaco, cabelo de cogumelo, cabelo de miojo', isso machuca. Ficar falando do meu cabelo, falar do meu dente, falar da minha pele, falar do que eu sou, isso não tem cabimento. Isso não entra no meu coração. Não consigo entender essas coisas. São coisas que ninguém gostaria de presenciar", declara.
Pessoas ligadas à família do ator procuraram a coluna para denunciar o caso. Andrea atendeu à reportagem e explicou que Ygor é bolsista no Colégio Batista Rio de Janeiro desde o ano passado e que já havia tido reuniões a portas fechadas com a coordenação da escola.
O Notícias da TV iniciou o contato com o Colégio Batista na quinta (21), reforçando o pedido para um posicionamento na sexta (22). Foram diversas trocas de mensagens --inclusive, foi marcada uma conversa com a direção nesta segunda (23), mas a ligação caiu assim que o assunto foi apresentado pela reportagem à gestora que disse somente seu primeiro nome, Bianca.
Ygor e a família se mudaram de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para o Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio de Janeiro) em janeiro do ano passado. Na escola particular em que estudava antes, o ator mirim nunca teve problemas. Em 2023, ele também não sofreu bullying no Colégio Batista enquanto gravava Amor Perfeito.
Tudo ia bem até o meio deste ano. Os problemas começaram com os colegas não deixando ele participar do futebol. Andrea conta que o filho não tem muita aptidão para esportes, mas que nem imaginava que ele encarava outros episódios que saltaram para o racismo.
"Ele se calou. Quando chegou uma coordenadora negra, ele achou que ia mudar, que ela ia entender o que ele estava passando, mas não mudou", conta Andrea. "A única coisa que ele já me falava desse outro coleguinha dele, que mexia com ele, que não queria que ele fosse jogar bola, que falava que ele tinha pretofobia, que é uma palavra nova, né?", resume a mãe de Ygor.
Perguntado em que dia entendeu que estavam sendo preconceituosos com ele, Ygor responde: "O dia, na verdade, são vários. Eu tenho que ter um armazenamento na minha mente".
O estopim para ele se abrir também foi um colega chamá-lo de "ladrão" por conta de uma caneta. Ygor provou que tinha muitas canetas e que não pegava a de ninguém. "O menino disse que era um prazer dar uma caneta para um ladrão", lamenta Andrea.
Ela também foi procurada por amiguinhos do filho, que relataram casos absurdos, como o de uma menina que não o deixou falar em uma apresentação de empreendedorismo porque "o grupo não precisava do pretinho".
Andrea é química, casada com Luiz Fernando Santos do Nascimento, 53 anos, que é motorista de caminhão vácuo. Ela diz temer os danos que isso pode provocar emocionalmente no filho. Sua herdeira mais velha, Fernanda Ribeiro, 23 anos, sofreu racismo e teve uma depressão séria. A jovem dubla princesas de desenhos animados, e haters a atacavam nas redes sociais.
O Colégio Batista e a coordenadora da Unidade das Américas foram procurados várias vezes para se posicionar sobre o assunto. Se a instituição educacional enviar resposta, este texto será atualizado.
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