BRUNO FAGUNDES
Intérprete do maior embuste de Cara e Coragem, Bruno Fagundes descarta uma possível salvação para Renan no fim do folhetim escrito por Claudia Souto. "Ele é muito tóxico, perigoso mesmo. Então eu acho muito difícil esse tipo de personalidade mudar", aposta o ator de 33 anos.
Em entrevista ao Notícias da TV, o professor de dança vertical na ficção elencou algumas atrocidades cometidas pelo personagem para justificar que ele é um ser irrecuperável. "Ele deixou a Lou (Vitória Bohn) em cárcere privado. Ele manipulou ela deliberadamente, mente e está mentindo", listou.
Eu acho que ele não muda. Mas, assim, num mundo real eu acho que seriam anos e anos e anos de análise e, caramba, uma revolução interna para você conseguir sair desse padrão.
Em cena recentemente exibida na novela das sete, Renan traiu a namorada, foi ao trabalho da bailarina, quebrou uma janela, brigou com a garota por ela estar trabalhando e ainda disse a seguinte frase: "Você me faz mal, a sua forma de existência me faz mal".
Por isso, Bruno Fagundes acredita que seria difícil uma mudança brusca no comportamento de Renan e até uma perda para a personalidade complexa construída para o personagem.
"Não sou cientista, não sou especializado nisso, mas eu acredito que é difícil de mudar. Se ele mudasse, de certa forma a gente ia perder o personagem, jogar o personagem fora. Eu acho que ele tem, sim, que passar por algum lapso de consciência, porque a gente está falando de uma novela, mas ele tem que pagar pelo que fez. Eu não sei como é que a Claudia vai fazer isso se dar, mas eu espero que ele pague por tudo o que ele fez", defende Fagundes.
A partir do trabalho de pesquisa, o artista chegou à conclusão de que Renan é um narcisista perverso, cujas principais características são a falta de empatia, o jeito encantador para atrair as vítimas, a não aceitação de críticas e uma postura agressiva diante de situações indesejadas. Tudo isso, segundo o ator da Globo, foi construído em sua atuação em um trabalho conjunto com a escrita de Claudia Souto. "Ela fez uma observação muito fiel", observa.
"Eu tive conversa com psiquiatras e levei as situações do Renan. Eles falaram: 'Olha, isso é muito comum num narcisista perverso'. É uma pessoa que mente, sempre inverte as situações, que faz o famoso gaslighting, né, que é você pegar uma situação e manipular a ponto de a pessoa achar que ela está errada. Então, eu acho que a Claudia foi muito atenta, muito perfeccionista na construção porque ele tem todos os traços", detalha Fagundes.
Mesmo em uma cena em que eu falo pouco, Renan já traz essa personalidade tóxica às vezes em uma frase. Então isso é um prato cheio para o ator".
O personagem tóxico vivido por Bruno Fagundes tem ajudado mulheres a enxergarem que são vítimas de abusos e violências. As cenas da ficção se misturam a dores reais e viram gatilhos para espectadoras. Os relatos vão de situações graves a detalhes sutis.
"Elas me contam: 'Vi o olhar do meu ex no olhar do Renan'. E aí eu fico arrepiado. Fico muito triste que exista esse tipo de personalidade, mas fico feliz em retratar uma coisa que às vezes pode passar batido. Acho que a arte tem essa função, e o personagem muito claramente tem essa função também", defende o ator.
Por incrível que pareça, o efeito de Renan nos homens é oposto. Enquanto mulheres da vida real conseguem ver suas situações de abusos e violências retratadas na ficção, abusadores se reconhecem e acolhem o caráter tóxico do personagem.
"Alguns homens olham para mim com um olhar de 'eu te compreendo'. Isso me assusta um pouco e ao mesmo tempo me diz realmente sobre a estrutura machista que a gente está inserido, sabe? É uma estrutura enraizada nessa crença absurda de que o homem tem poderes totais sobre a sua parceira ou parceiro. Eu sinto às vezes um olhar do tipo: 'Peraí, será que ele está tão errado assim?'. E isso me choca", frisa Bruno Fagundes.
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