Que fim levou?
Montagem Divulgação/TV Cultura
Wagner Bello (Etevaldo), vítima de Aids, e Siomara Schröder (Etcetera), substituta no Castelo Rá-Tim-Bum
PAULO PACHECO
Publicado em 8/8/2014 - 18h49
Atualizado em 9/8/2014 - 6h00
Você se lembra da babá "nazista" que seduzia as crianças no programa Castelo Rá-Tim-Bum? E da menina que sofreu racismo dentro do castelo? Sabia que um ator morreu com Aids durante as gravações e foi trocado às pressas? Além do elenco principal, o infantil contava com personagens marcantes que participaram apenas de uma história.
Eles podem ser revistos na Cultura, que está reprisando os 90 episódios do programa em comemoração aos 20 anos da estreia, em 1994. Castelo também está em uma concorrida exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. Alguns dos atores a seguir sequer foram lembrados para a abertura do evento:
Siomara Schröder em 1994, como Etcetera, e em 2012 (Montagem/Divulgação)
Etcetera: substituiu ator vítima de Aids
Siomara Schröder, 50 anos, encarou em 1994 uma difícil missão: substituir Wagner Bello, intérprete de Etevaldo, vítima de Aids. "Ele achou que estava cansado. Pensava que era dor de estômago ou gastrite. Até ele descobrir e morrer foram dois meses. Foi um período de trevas. Estávamos muito abalados", recorda a atriz, emocionada.
Para homenageá-lo, a direção do programa a convidou para interpretar a irmã dele, Etcetera, uma alienígena tímida que usava praticamente o mesmo figurino: "Eles me chamaram para fazer a finalização do personagem dele, porque a produção estava recebendo muitas cartas das crianças. Elas estavam indignadas: 'Cadê o Etevaldo?', e as pessoas escondendo, porque o HIV era um mito e não queriam associar ao programa a doença e a morte".
Os roteiristas centraram um episódio na extraterrestre e em Zequinha. Seu intérprete, o ator mirim Freddy Allan, ficou muito abalado com a morte do colega de Castelo. "Quando eu entrei no estúdio, a reação do elenco foi me abraçar. Eu estava extremamente emocionada, com medo de chorar e borrar a maquiagem. O episódio era bonito, ela explicou que o Etevaldo foi brincar nas estrelas", recorda. Além da irmã de Etevaldo, Siomara fez a mãe do ET, Etelvina, em um episódio gravado antes da morte de Wagner Bello.
Atualmente, atua na comédia Trair e Coçar É Só Começar, há 28 anos em cartaz no Brasil e que já figurou no Guiness Book como peça mais duradoura do mundo.
Eliana Fonseca em 1994, como Naná, e em 2014 (Montagem Divulgação/Reprodução)
Naná: a babá "nazista" que seduzia as crianças
O Castelo Rá-Tim-Bum, acredite, já teve uma babá "meio nazista, meio erótica". Eliana Fonseca atuou em apenas um episódio, Uma Babá Nada Boba, em que interpretou Naná, uma babá contratada por Dr. Victor (Sérgio Mamberti) para dar um jeito no malcriado sobrinho, Nino (Cássio Scapin).
No episódio, Naná botava comida na boca do aprendiz de feiticeiro e ainda seduzia os meninos Pedro e Zequinha com seu decote e apertar de bochechas. "Ela era meio nazista, meio erótica (risos), uma coisa sádica. As crianças tinham medo, mas gostavam, era um fascínio. Foi muito legal fazer, uma delícia", relembra. Além de atriz, Eliana Fonseca é diretora e ficou responsável por todos os quadros da Bruxa Morgana (Rosi Campos) no Castelo Rá-Tim-Bum.
Atriz e diretora experiente no teatro e no cinema, Eliana Fonseca peregrinou em praticamente todas as emissoras abertas atuando em novelas e minisséries após o Castelo. Atualmente, dirige a série Segredos Médicos, que terá segunda temporada no canal pago Multishow.
Júlia Tavares com Ângela Dip, em 1994, e na exposição no MIS, em 2014 (Montagem Divulgação/Arquivo pessoal)
Zula: sofreu racismo dentro do castelo
O Castelo Rá-Tim-Bum também teve seu lado racista. Interpretada por Júlia Tavares, Zula, uma personagem vinda de outro planeta, chegou ao castelo e foi discriminada por Nino e seus amigos. Tudo por causa da cor da pele dela: azul. Chateada, ela passou o episódio chorando e foi acolhida pela jornalista Penélope (Ângela Dip), que deu uma bronca nas crianças.
Júlia Tavares entrou no Castelo Rá-Tim-Bum aos 12 anos, em um teste para ser a Biba, uma das protagonistas, papel que ficou com Cinthya Rachel. Em seguida, foi chamada para fazer Zula, que apareceu em apenas um episódio.
"Eu era a primeira atriz a começar a me maquiar e demorava quase duas horas para terminar. As gravações começavam à tarde e eu tive até que sair da escola mais cedo. Tinha que usar maquiagem atrás da orelha, no braço, cotovelo. No dia seguinte eu ia à aula com a orelha azul, não tinha como tirar (risos)", relembra.
Hoje, aos 32 anos, Júlia Tavares largou a carreira de atriz, formou-se em Jornalismo e atualmente trabalha no escritório compartilhado da ONU (Organização das Nações Unidas), em São Paulo.
Deni Bloch (à esq.) com o elenco do Castelo, em 1994, e grávida, em 2012 (Montagem Divulgação/Rômulo Fialdini)
Dina: a prima por quem Nino se apaixonou
Nino já se apaixonou pela prima em um episódio do Castelo. Eduardina, personagem de Deni Bloch, era idêntica ao primo: usava roupas coloridas e cabelo chanel com uma ponta enrolada. No episódio, o aprendiz de feiticeiro tinha ciúme da prima, queridinha da Bruxa Morgana.
De repente, um cupido travesso aparece no castelo e atira flechas aleatoriamente. Dessa forma, Nino se apaixona por Dina, que se apaixonou por Pedro, que quis Biba, que se interessou por Zequinha, que não foi flechado e descobriu a travessura do menino de asas.
"Usei uma peruca preta. Tenho a memória de ser muito quente, com muita luz, Tinha um encantamento, porque era um programa de muita qualidade. Foi uma honra participar", conta Deni Bloch.
Filha do ator Jonas Bloch e irmã de Débora, Deni Bloch, 48 anos, abandonou a carreira de atriz. Desde 2000, comanda uma assessoria de imprensa especializada em gastronomia.
Teresa Atahyde (Lara), à esquerda, e Fabiana Prado (Lana), à direita; ao centro, as duas em 1994 (Montagem Divulgação/Arquivo pessoal)
Lana e Lara: as fadas do lustre do castelo
"Enquanto isso, no lustre do castelo..." era a frase que antecedia o quadro das fadas Lana (Fabiana Prado) e Lara (Teresa Atahyde). As duas moravam e brincavam dentro do lustre localizado na sala e não interagiam com o elenco principal (exceto em um episódio especial de Páscoa, quando ajudaram as crianças a encontrar os ovos de chocolate).
As irmãs fadas eram praticamente idênticas, exceto pela roupa (Lana usava tons de rosa e Lara, de amarelo) e a voz. O jeito de falar de Lana, por exemplo, gera controvérsia entre os fãs. "A voz fina eu inventei. Pediam para eu imitar a voz dela. Mas já li comentários assim: 'Achava aquela voz a mais irritante do mundo' [risos]", conta Fabiana Prado.
"A gente colocava um espartilho apertado, não podia sair nada do lugar. A produção era cuidada nos mínimos detalhes para que tudo desse certo", recorda Fabiana Prado. "Foi um trabalho árduo. Ficávamos mais de três horas só para nos produzirmos. Era um ritmo intenso de gravação, mas era uma delícia, muito prazeroso", completa Teresa Atahyde.
Atualmente, Fabiana Prado (Lana), 44 anos, continua trabalhando com arte e educação para crianças na Cia. Zin, de pesquisa em arte para a primeira infância, e no Programa de Iniciação Artística da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Teresa Atahyde (Lara), 47 anos, mudou-se para o interior de São Paulo e trabalha como professora de teatro e locutora.
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